Olá,
meu filho. São 3h30 da madrugada de um sábado para domingo e eu,
apesar de grogue de sono, não consigo dormir. É a segunda vez essa
semana. E o pior é que amanhã (ou hoje) não será nem de longe um
domingo preguiçoso. Eu
preciso estar de pé antes das 7 horas, para um compromisso que
durará até a hora do almoço. Depois, eu e seu pai vamos correr para
um churrasco e, de lá, ainda encaro um chá de panelas. Isso porque
tive que recusar outros convites e cancelar o almoço com sua avó.
Ao que tudo indica, não estou tendo de crise de insônia por
ansiedade ou por outros gatilhos emocionais que tradicionalmente
provocam o problema. Parece que, chegamos àquele ponto da gravidez
em que você começa a ficar apertado e eu sem muita posição para
dormir.
Tudo
começa com um calor inexplicável. Hoje, por exemplo, acordei
molhada de suor mesmo dormindo debaixo do ar condicionado. Uma gota chegou a escorrer pelas costas, meus cabelos grudavam na
minha nuca molhada e o lençol e o travesseiro estavam úmidos, como
se alguém tivesse sentado sobre eles de biquíni molhado. Uma
sede!!! O copão de água que sempre fica na cabeceira da cama parecia uma gota no deserto e fui obrigada a ir à cozinha beber mais água e
encher novamente o copo (não sem antes dar aquele pulinho básico ao
banheiro para fazer xixi, rs). Quando isso acontece, volto para a cama grogue, com os olhos
ardendo de tanto sono, mas vejo os minutos passarem sem conseguir
pegar no sono novamente. Em qualquer posição, parece que minha
barriga me empurra para baixo. Hoje, resolvi não lutar contra isso e
aproveitar o tempo desperta para escrever. Há dois dias, a
exaustão por causa da semana puxada não permitiu que ficasse muito
tempo fora da cama. Depois de 2 horas como zumbi, passei outras 2
horas dando cochilos de 10 ou 15 minutos e precisei cancelar todos os
compromissos da manhã para tentar me recuperar um pouco. Hoje eu
apenas não consigo dormir, não me sinto mal. Na quinta, eu me
sentia meio tonta, meio enjoada, parecia que não conseguia
respirar!
Sabe,
filho, estou muito feliz com essa gravidez e acho que esses aspectos
mais incômodos e desagradáveis são apenas um detalhe, um pequeno
preço a ser pago por sua vinda. Tudo bem, faz parte. E é
temporário. Não quero ficar me lamentando por eles. Mas eu acho que
não seria justo ou honesto com você (e com outras pessoas que
podem ler esses relatos) contar apenas os aspectos bacanas de uma
gestação. Daí o texto de hoje (o que me lembra que eu preciso
registrar o primeiro trimestre).
Os
últimos 10 dias foram estranhos, filho. Muita coisa mudou. E, para
ser bem honesta, não sei dizer até que ponto foi uma mudança
natural da gestação ou um impacto do estresse no trabalho + três
semanas sem atividade física (fiquei sem a hidroginástica por causa
de um problema na piscina). O fato é que algo “desandou”, rs.
Passei a me sentir mais cansada, o fôlego às vezes simplesmente
desaparece e eu me pego bufando como uma maratonista que acabou de
cruzar a linha de chegada após atividades simples como guardar uma
compra de supermercado ou apenas calçar um tênis!! É tão ridículo
que chega a ser engraçado.
O
famoso inchaço da gravidez também deu suas caras. Ainda não é
nada demais, mas tive que tirar a aliança do dedo tamanho foi o
desconforto. Um dia desses, senti dificuldade de segurar uma caneta,
pois os dedos doíam quando eram dobrados! Também percebi uma certa
papada embaixo do queixo, como se eu tivesse engordado muito em pouco
tempo, mas a balança jura que não. É só o meu rosto ficando mais
redondo, com mais cara de mãe. E os pés... Filho, é a coisa mais
engraçada! Já venho sentindo sinais de retenção de líquido há
algum tempo, com dores nas pernas no fim do dia e sapatos mais
apertados à noite, principalmente quando preciso ficar muito tempo
em pé. E nem a drenagem linfática tem conseguido evitar esse
“fenômeno”, apesar do alívio que proporciona. Mas ontem, filho,
eles estavam enormes! Como sempre tive pés e tornozelos muito finos
(rosto idem), quem olha de fora dificilmente perceberá todas essas
mudanças, mas para mim, elas são gritantes. Hoje não conseguia
parar de olhar para os meus pés. Era tão estranho ver os dedos
gordinhos, o peito do pé proeminente e os ossinhos acima do
calcanhar, sempre tão pontudos e destacados, desaparecerem em um
tornozelo gigante. Eu, que sempre reclamei desses tornozelos tão
finos, tão desproporcionais às coxas grossas, achei muito estranho
vê-los como sempre desejei na adolescência.
Sabe,
filho, eu sabia que essa parte estava vindo, é normal. Mas eu
confesso que, como não engordei quase nada, achei que ainda teria
mais uma ou duas semanas antes de ver tudo isso acontecer. Ouvi dizer
que piora mesmo a partir da 34ª ou 35ª semana e achei que seria
assim (torcia para que só acontecesse depois do seu chá de fraldas
ou das fotos que quero fazer da barriga). Mesmo assim, pega de
surpresa, minha reação é muito mais um “olha que engraçado”
do que um “que horror!”. Bonito e agradável não é, mas passa,
não é mesmo? Talvez isso não tenha ficado muito claro para o seu
pai, que hoje me disse que só faria massagem em mim se eu parasse de
“ficar obcecada com o próprio pé”.
Outra
mudança recente foi a azia que se tornou constante. Eu tive que
parar de comer seguindo a minha fome e voltar a olhar no relógio
para comer a cada 2 horas. E passei a ter que comer menos do que eu
gostaria nas grandes refeições sob o risco de ficar muito mal.
Pior: os enjoos do primeiro trimestre voltaram!! Eu cheguei a passar
mal 1 ou 2 dias. Por sorte, eu já sabia mais ou menos o que fazer e,
por enquanto, dá para contornar o problema com um pouco mais de
disciplina (que é chato e difícil para mim, mas possível).
Outra
coisa chata dos últimos dias é que algumas estrias estão começando
a aparecer. Ainda não é nada alarmante demais e estão em locais
ótimos para serem futuramente disfarçadas, mas são suficientes
para me deixarem preocupada e pensativa. Sabe, filho, eu já disse e
repito: essa gravidez foi muito desejada e sempre estive consciente
de que isso poderia acontecer. E tudo bem! Mas
isso não significa que eu não tenha um lado vaidoso que voltou a se perguntar como ficará meu corpo após a gravidez. Todo mundo diz que ele muda,
mesmo quando não há marcas explícitas, e eu me peguei imaginando
que tipos de mudança o meu terá. Volto a dizer, não me importo que
ele mude. Afinal, o envelhecimento vai mudá-lo de qualquer forma,
com ou sem bebê, não é mesmo?
Mas preciso ser honesta e dizer que dá um pouco de medo imaginar que mudanças serão essas. Será que vou lidar bem com essas novas marcas? Será que, entre mortos e feridos, meu corpo ficará melhor ou pior após a gravidez? Sim, porque sou otimista o suficiente para achar quer ele pode ficar melhor. Ou, pelo menos, que minha relação com ele fique melhor. Filho, vou te contar um segredo: sua mãe sempre se mostrou muito confiante e sempre levantou a bandeira “contra a ditadura da beleza” e “contra a pressão da vaidade”, mas a verdade é que ela nunca gostou muito da imagem que via no espelho. Até agora! Sua vinda me ajudou um pouco a gostar mais do meu próprio corpo e agradecer a ele por se capaz de passar por todas essas experiências. Mais do que isso, é a primeira vez que quero me esforçar (não exageradamente, mas um pouco mais) para me sentir bonita na frente do espelho, a me cuidar. É a primeira vez que me sinto bem nesse corpo. Eu até emagreci! Quer dizer, na balança meu peso aumentou, claro, afinal, isso é essencial para você vir saudável!! Mas vi meu rosto, braços e pernas mais finos do que antes da gestação. Minha relação com a comida mudou e sinto que finalmente estou colhendo os frutos do trabalho de reeducação alimentar e emocional dos últimos dois anos. Ou seja, diante dessa perspectiva, tinha (ou tenho?) esperanças, sim, de que meu corpo me fosse mais agradável mesmo após a gravidez – e, nesse sentido, que ficasse melhor. Confesso que essa confiança ficou um pouco abalada diante das mudanças dos últimos dias. Mas, fazer o que? Faz parte! É sinal de que você está chegando.
Mas preciso ser honesta e dizer que dá um pouco de medo imaginar que mudanças serão essas. Será que vou lidar bem com essas novas marcas? Será que, entre mortos e feridos, meu corpo ficará melhor ou pior após a gravidez? Sim, porque sou otimista o suficiente para achar quer ele pode ficar melhor. Ou, pelo menos, que minha relação com ele fique melhor. Filho, vou te contar um segredo: sua mãe sempre se mostrou muito confiante e sempre levantou a bandeira “contra a ditadura da beleza” e “contra a pressão da vaidade”, mas a verdade é que ela nunca gostou muito da imagem que via no espelho. Até agora! Sua vinda me ajudou um pouco a gostar mais do meu próprio corpo e agradecer a ele por se capaz de passar por todas essas experiências. Mais do que isso, é a primeira vez que quero me esforçar (não exageradamente, mas um pouco mais) para me sentir bonita na frente do espelho, a me cuidar. É a primeira vez que me sinto bem nesse corpo. Eu até emagreci! Quer dizer, na balança meu peso aumentou, claro, afinal, isso é essencial para você vir saudável!! Mas vi meu rosto, braços e pernas mais finos do que antes da gestação. Minha relação com a comida mudou e sinto que finalmente estou colhendo os frutos do trabalho de reeducação alimentar e emocional dos últimos dois anos. Ou seja, diante dessa perspectiva, tinha (ou tenho?) esperanças, sim, de que meu corpo me fosse mais agradável mesmo após a gravidez – e, nesse sentido, que ficasse melhor. Confesso que essa confiança ficou um pouco abalada diante das mudanças dos últimos dias. Mas, fazer o que? Faz parte! É sinal de que você está chegando.
A
gravidez não é só alegrias, mas ainda é uma experiência
fantástica, que vale a pena. Quanto ao meu corpo... Bem, depois que
você nascer a gente vê como fica e o que pode ser feito. O
importante vai ser ter você comigo!
Vitória, 29 de março de 2015 – 32 semanas
Comente pelo Facebook:
0 comentários no blog:
Postar um comentário