terça-feira, 12 de maio de 2015

Você é uma ótima desculpa para eu me reinventar

Postado por Mãe do André às 16:48
Ei filho! Sei que estou fazendo arte e que já deveria estar dormindo há muito tempo. Estar acordada de madrugada escrevendo não é exatamente cumprir o nosso acordo de descansar mais esta semana, ainda mais tendo que acordar tão cedo amanhã, não é mesmo? Mas minha mente não desliga, filho, e o papel sempre foi o melhor remédio da mamãe. Sabe o que é, André? Eu estava aqui pensando no quanto sou grata a você por estar aqui sendo a desculpa perfeita para a minha reinvenção.


Como eu acredito que você já estava por aqui antes mesmo de entrar na minha barriga, acho que sabe que os últimos dois anos têm sido de profunda reflexão e mergulho em mim mesma. Algo que estava me devendo há muito tempo. Esse papo de autoconhecimento e faxina emocional não é fácil. Mesmo!!!! Lembra a música que cantamos no carro um dia desses:


Quando a gente quer ouvir o coração
para descobrir a fonte do amor
que vai nos fazer mais leves, mais fortes para crescer
Quando a gente quer, às vezes dói.
É olhar para dentro, bem nos olhos
Desvendar mistérios, desatar mil nós...*


Pois é!!! Dói mesmo, filho! É difícil!

Esse processo começou há cerca de dois anos, mas é a primeira vez em todo esse tempo que eu sinto começar a ter algumas respostas sobre quem eu realmente sou, o que quero, o que gosto, o que preciso e o que é importante para mim. E, tão importante quanto, sobre o que não quero, o que não gosto e o que não preciso em minha vida. Ok, as respostas ainda estão bastante nebulosas e imprecisas, mas começo a vê-las se desenhando no fim do túnel. Dói. Dói mesmo, filho. Quebrar padrões de anos, enfrentar hábitos tão enraizados, lutar contra reflexos condicionados tão fáceis de serem mantidos... Não é fácil. Mas é bom também. E acho que tudo isso vai fazer de mim, inclusive, uma mãe melhor para você.

Não sei se tanta reflexão é culpa da maternidade. Minha briga interna com meus “eu's” começou bem antes de você. Mas é óbvio que não dá para negar seu impacto nessa viagem de reinvenção de mim mesma. Dizem que um filho faz essas coisas, mas sabe o que eu acho? Não foi sua vinda que me fez por em xeque quase todos os aspectos da minha vida. Eles já estavam. Mas você, André, foi e está sendo a desculpa perfeita e a minha maior fonte de coragem para eu perder o medo e a culpa de, finalmente, dar o xeque-mate. Sabe por quê? Porque eu descobri que quero ser uma pessoa diferente e romper com muitos laços da minha vida atual. Mas nem todos esses laços são ruins ou me fazem mal. Muitos deles, simplesmente, estão ocupando um espaço que eu preferiria destinar ao que realmente gosto e ao que me deixa mais feliz. E isso me deixava muito culpada. Eu tinha (e tenho ainda) muito medo de magoar pessoas queridas nesse processo e, assim, acabar perdendo a possibilidade de me arrepender um dia e voltar atrás. Porque, como eu disse, filho, meus primeiros esboços de respostas são confusos, cinzas, imprecisos. Nada é preto no branco. E o lado bom é que estou descobrindo que não precisa ser. Que eu posso me dar ao luxo de experimentar o método da tentativa e erro na vida. Eu posso pular no escuro. E você, filho, é minha rede de proteção quando eu pular desse trapézio. Eu explico.

Com você na minha barriga, eu não preciso justificar muitas das minhas decisões. As pessoas simplesmente assumem que é por sua causa – e isso é um ótimo e aceitável motivo para elas. É claro que com sua vinda eu vou precisar abrir mão de muitas coisas, inclusive várias de que eu gosto, pelo menos por um tempo. A barriga é limitadora, um filho encurta o tempo e desvia o foco. E tudo bem por mim. Tudo na vida tem um preço e este eu estou disposta a pagar para ter você em nossos braços. Mas, na maioria dos casos, as mudanças que tenho feito e ainda pretendo fazer nas próximas semanas e meses não é por você, filho. É por mim mesma! Você é meu cúmplice. Meu “laranja”. Minha desculpa perfeita. E minha maior motivação.

Porque eu não quero ser feliz apenas porque você vai chegar. Eu quero já estar feliz quando você chegar. Percebe a diferença? Não quero dar a você o fardo e a missão de me fazer uma pessoa feliz. Não quero concentrar em você toda a razão da minha existência e plenitude, apesar de acreditar que, de algum modo, você vai mudar o sentido de felicidade e plenitude. Mas eu não quero usar você como uma rolha que veio tampar um buraco no meu peito ou preencher um vazio da minha alma. Quero estar plena, feliz comigo mesma e com a minha vida quando você chegar. Quero que você seja A prioridade da minha vida, mas não que seja TODA a minha vida. Quero saber um pouco mais sobre quem eu sou, quais as minhas fraquezas e minhas forças. O que me faz bem e o que não é essencial.

Porque aí, meu filho, eu já vou ser dona de novo do meu próprio mundo. E só então terei o poder de entregá-lo a você para que o vire de cabeça para baixo, se precisar. Só então você vai poder me fazer questionar todas as certezas e metas que eu tiver estabelecido. Porque, então, saberei quem eu sou e quais são os meus limites. E só com eles muito bem estabelecidos é que poderemos, juntos, explorá-los e redefini-los.


Vitória, 24 de fevereiro de 2015 - 27 semanas



* Música "Voz do Coração", de Marielza Tiscate, do CD "Arte do Tempo"

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