Ei, filho! Como você está aí
dentro hoje? Essa semana foi marcante. Parece que, finalmente, me dei
conta que sua estadia dentro de mim está acabando e, pela primeira
vez, não estou agitada com isso. Estou tranquila. Eu até me peguei me
despedindo da barriga...
Desde a 36ª semana, quase todo dia
ouvia um comentário do tipo “Esse bebê não vai vir logo, não?”
ou “Está chegando a hora!”, “Sonhei que ele nascia hoje', “Vem logo, André” ou “Será que passa dessa semana? Olha o
formato da sua barriga!”. Minha reação a esses comentários variava entre o pânico e o desespero. “Não!!!” - gritava internamente
por trás do sorriso - “ele não pode vir agora, Deus me livre!”.
Entenda, filho, não é que eu não quisesse você comigo, mas eu
ainda tinha tanta coisa para fazer antes de você chegar. Uma lista
enorme de “quero” e “preciso” fazer que me provocava taquicardia cada vez que eu pensava na sua chegada antes dessas coisas estarem prontas. Entrei de licença achando que resolveria tudo em uma
semana, mas que ilusão! O barrigão pesa, o cansaço chega nas
pequenas coisas e o ritmo lento era obrigatório, o que só aumentava
a minha ansiedade.
Mas você não veio, apesar de todos
os sonhos, previsões e sintomas. E eu, internamente, pedindo só
mais um dia, e mais um, e outro ainda. Às vezes eu achava até
sacanagem com você fazer tantas exigências. Mas, aos poucos, as
pendências foram sendo resolvidas e eu comecei a relaxar. No fim de
semana passado (hoje é uma sexta-feira), eu e seu pai tiramos o
sábado para descansar – fazer nada mesmo! - e namorar. No
domingo, tive uma crise de organização. Acordei cedo para arrumar a
casa e continuei a tarefa sozinha até depois da meia-noite.
Vitória!! Tudo da lista de necessidades estava pronto! E muitos
itens da lista de vontades também! Não seria mais um problema se
você nascesse agora.
E eu realmente achei que isso estava
para acontecer. Deu para perceber que algo mudou no meu corpo. As
contrações de treinamento ficaram mais fortes, mais frequentes e
mais demoradas. No domingo à noite eu cheguei até a pensar que
poderia estar na fase latente do trabalho de parto (que pode durar
alguns dias). Mas deve ter sido apenas o esforço extra. Foi só eu
baixar o aplicativo para contar as contrações que tudo se acalmou.
E desde terça-feira foi uma calmaria só (sua bisavó jura que esse
é o maior sinal de que você está chegando).
Aquele domingo agitado me ajudou a
perceber o óbvio: você pode chegar a qualquer momento! Amanhã eu
posso estar sentindo você em meus braços e não apenas na minha
barriga. E, pela primeira vez em todo esse tempo, pensar na sua chegada me fez sorrir. Não tive taquicardia, não fiquei apavorada.
Fiquei feliz e abracei a barriga, agradecida por esse tempo juntinhos.
Percebi que são meus últimos momentos de barrigão. E me peguei me
despedindo dele.
Não quero apressar você, filho.
Você ainda tem alguns dias para ficar aí dentro se quiser ou
precisar. E confesso que adorei esses dias extras em que até os
itens da lista de vontades puderam ser riscados. Tive tempo para
escrever várias cartas que estavam apenas na minha cabeça,
consegui descansar mais, deixar seu blog mais bonito e até rever
amigos! O que eu quero com essa carta é apenas agradecer por ter me
dado todo o tempo que eu precisava. Por ter me permitido acabar com
pendências de cinco anos!! E só quero deixar registrado também o
quanto estou feliz por ter conseguido arrumar tudo para receber você
física e, principalmente, emocionalmente. Pela primeira vez em 9
meses, posso afirmar: estou pronta! Não pronta no sentido “sei
tudo para ser uma ótima mãe”, mas pronta no sentido “pode vir
que estou mentalmente e emocionalmente disponível para nossa
aventura juntos”. Pronta para explorar esse universo novo e
desconhecido que é a maternidade. Com mais vontade do que medo de
ter você nos meus braços. Sei que não vai ser uma jornada fácil,
filho. Mas estou aqui. Pronta para começar assim que você quiser.
PODE VIR!
Vitória, 22 de maio de 2015 – 39
semanas e 5 dias