domingo, 16 de agosto de 2015

Menos de 24 horas para te ver

Postado por Mãe do André às 08:00
É, filho, nossa jornada em um só corpo chegou ao fim. Em menos de 24 horas vamos nos ver olho no olho e eu vou poder tocar você, sentir seu cheiro e ouvir sua voz. Não, não vai ser do jeito que eu imaginava. Tudo saiu um pouco dos eixos. Eu eu tive que tomar a triste decisão de, depois de tudo o que li, pesquisei e aprendi, depois de toda preparação e planejamento, marcar uma cesária eletiva. E em boa parte por causa da agenda do médico.


Pois é, filho. Eu queria tanto um parto normal. E não deu. Então me conformei com o fato de, pelo menos, esperar que você me desse um sinal de que estava pronto. Jurei que só marcaria uma cesária aos 48 do segundo tempo, com 42 semanas, apesar de todo o terrorismo em minha volta. Queria respeitar seu tempo, filho. E também não deu. Foi difícil. Muito difícil para mim o dia de hoje. Eu sinto como se estivesse indo contra tudo o que eu acredito e sonhei todos esses anos. E me sinto sozinha porque parece que vivemos em uma sociedade que não entende e não aceita o meio termo. De um lado, pessoas acostumadas com a cultura da cesária, que acham um drama desnecessário o que eu estou sentindo. Tempestade em copo d'água - “marca logo isso e deixa de show'. De outro, pessoas que querem o parto normal a qualquer preço e que parecem menosprezar demais (e até de forma perigosa, às vezes) os riscos e a importância dos médicos. Não sou nenhuma dessas, filho. Estou decepcionada, sim. Chorei muito hoje por mais esse luto. E fiquei um tempo sem ação de diante de prós e contras impossíveis de comensurar objetivamente.

Mas , ouvindo o mar com os pés na areia enquanto conversava com você, não tive dúvidas: o que eu não queria é o melhor dentro do cenário que temos. E tudo o que eu quero agora é não me concentrar num sonho impossível. Hoje, agora, com essas palavras, quero encerrar toda e qualquer tristeza ou decepção com meu corpo e enterrar qualquer pressão e expectativa exagerada que possa estar pairando sobre você. Amanhã (hoje!) é o dia do seu nascimento, filho. E eu só quero lembrar dele com alegria. Fazer de qualquer limão uma limonada deliciosa e me concentrar só nas coisas positivas desse dia – que são muitas! Maternidade é perder o controle. E nem eu ou você sabemos o que está planejado nessa vida para gente. Só temos certeza de que nada acontece por acaso e que cada um tem exatamente a experiência que precisa ter. A vida não é para ser idealizada, é para ser vivida. E a graça está, justamente, na imprevisibilidade. Então, não vou focar na experiência que eu poderia ter vivido. Vou largar mão do “e se” e não vou pirar pensando demais se estou preparada para a pauleira dos próximos meses ou se vou saber ou não ser boa mãe e cuidar de você. Não vou pirar ou me entregar à ansiedade.

Vou me concentrar apenas no fato de que amanhã eu vou virar, oficialmente e de “papel passado”, mãe do André. Que amanhã esse encontro tão esperando vai finalmente acontecer. E eu vou me entregar de cabeça a essa alegria de receber você, que é maior do que qualquer percalço da estrada. Se tivermos alguma surpresa, ótimo. Se tudo sair dentro do melhor cenário possível, maravilha! Viva! Se não... paciência. Quero viver a vida fazendo o melhor que eu posso e aceitando o possível. Só sendo muito mala é que eu posso transformar o dia de amanhã em algo triste. Não dá! Em menos de 24 horas vamos nos encontrar olho no olho. Em menos de 24 horas eu vou poder tocar você, abraçar você, sentir seu cheiro e ouvir sua voz! E essa é uma felicidade que nada pode ofuscar.

Seja bem-vindo, meu filho. E até amanhã


Vitória, madrugada de 28 para 29 de maio de 2015 – 40 semanas + 5 dias

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