É, filho, nossa jornada em um só
corpo chegou ao fim. Em menos de 24 horas vamos nos ver olho no olho
e eu vou poder tocar você, sentir seu cheiro e ouvir sua voz. Não,
não vai ser do jeito que eu imaginava. Tudo saiu um pouco dos eixos.
Eu eu tive que tomar a triste decisão de, depois de tudo o que li,
pesquisei e aprendi, depois de toda preparação e planejamento,
marcar uma cesária eletiva. E em boa parte por causa da agenda do
médico.
Pois é, filho. Eu queria tanto um
parto normal. E não deu. Então me conformei com o fato de, pelo
menos, esperar que você me desse um sinal de que estava pronto.
Jurei que só marcaria uma cesária aos 48 do segundo tempo, com 42
semanas, apesar de todo o terrorismo em minha volta. Queria respeitar
seu tempo, filho. E também não deu. Foi difícil. Muito difícil
para mim o dia de hoje. Eu sinto como se estivesse indo contra tudo o
que eu acredito e sonhei todos esses anos. E me sinto sozinha porque
parece que vivemos em uma sociedade que não entende e não aceita o
meio termo. De um lado, pessoas acostumadas com a cultura da cesária,
que acham um drama desnecessário o que eu estou sentindo. Tempestade
em copo d'água - “marca logo isso e deixa de show'. De outro,
pessoas que querem o parto normal a qualquer preço e que parecem
menosprezar demais (e até de forma perigosa, às vezes) os riscos e
a importância dos médicos. Não sou nenhuma dessas, filho. Estou
decepcionada, sim. Chorei muito hoje por mais esse luto. E fiquei um
tempo sem ação de diante de prós e contras impossíveis de
comensurar objetivamente.
Mas , ouvindo o mar com os pés na
areia enquanto conversava com você, não tive dúvidas: o que eu não
queria é o melhor dentro do cenário que temos. E tudo o que eu
quero agora é não me concentrar num sonho impossível. Hoje, agora,
com essas palavras, quero encerrar toda e qualquer tristeza ou
decepção com meu corpo e enterrar qualquer pressão e expectativa
exagerada que possa estar pairando sobre você. Amanhã (hoje!) é o
dia do seu nascimento, filho. E eu só quero lembrar dele com
alegria. Fazer de qualquer limão uma limonada deliciosa e me
concentrar só nas coisas positivas desse dia – que são muitas!
Maternidade é perder o controle. E nem eu ou você sabemos o que
está planejado nessa vida para gente. Só temos certeza de que nada
acontece por acaso e que cada um tem exatamente a experiência que
precisa ter. A vida não é para ser idealizada, é para ser vivida.
E a graça está, justamente, na imprevisibilidade. Então, não vou
focar na experiência que eu poderia ter vivido. Vou largar mão do
“e se” e não vou pirar pensando demais se estou preparada para a
pauleira dos próximos meses ou se vou saber ou não ser boa mãe e
cuidar de você. Não vou pirar ou me entregar à ansiedade.
Vou me concentrar apenas no fato de
que amanhã eu vou virar, oficialmente e de “papel passado”, mãe
do André. Que amanhã esse encontro tão esperando vai finalmente
acontecer. E eu vou me entregar de cabeça a essa alegria de receber
você, que é maior do que qualquer percalço da estrada. Se tivermos
alguma surpresa, ótimo. Se tudo sair dentro do melhor cenário
possível, maravilha! Viva! Se não... paciência. Quero viver a vida
fazendo o melhor que eu posso e aceitando o possível. Só sendo
muito mala é que eu posso transformar o dia de amanhã em algo
triste. Não dá! Em menos de 24 horas vamos nos encontrar olho no
olho. Em menos de 24 horas eu vou poder tocar você, abraçar você,
sentir seu cheiro e ouvir sua voz! E essa é uma felicidade que nada
pode ofuscar.
Seja bem-vindo, meu filho. E até
amanhã
Vitória, madrugada de 28 para 29 de
maio de 2015 – 40 semanas + 5 dias
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