domingo, 16 de agosto de 2015

Noites malucas e a ansiedade de todos

Postado por Mãe do André às 07:30
Ei, filho. Olha eu aqui de novo em plena madrugada escrevendo para você. Hoje disse a mim mesma que não faria isso e me obriguei a ficar quietinha na cama lendo. Disse que faria isso até dormir, mas depois de 2 horas, nada. As noites andam meio malucas, mas acho que isso é mais sabedoria da mãe natureza do que sintoma da crise de ansiedade coletiva que você anda causando por aí.

Pelas minhas cartas, você sabe que tive noites agitadas e insones. Realmente, o peso da barriga, a falta de posição e desconfortos como a azia às vezes atrapalham e me impedem de relaxar. Às vezes, me pego com medo de ir para a cama e avaliando de verdade a possibilidade de passar a noite dormindo sentada no sofá: a horizontal tem sido a pior das posições. No entanto, essa semana foi diferente. Meu ciclo de sono parece que pirou de vez. Mas eu não me sinto cansada por causa disso – olha que legal! Acho que porque, pela primeira vez nessa gravidez e nestas quase três semanas de licença, eu consegui, de verdade, desacelerar. Tudo está encaminhado e eu não estou mais tão preocupada com a lista de coisas a fazer. Ela praticamente não existe mais! Então, me permiti ouvir mais meu corpo e respeitá-lo. Fiquei quieta quando tive preguiça, cochilei no meio da manhã ou da tarde sempre que tive vontade (e oportunidade) e me permiti ficar acordada de madrugada, como agora, quando o sono realmente não vem. Nessas horas, dou graças a Deus por ter saído de licença cedo e agradeço mais ainda por tudo estar pronto esperando por você. Eu nem me lembro se alguma vez na vida eu fiz isso, respeitar o ritmo e as necessidades do meu corpo sem culpa e com prazer. Acho que nem nas férias, pois sempre parecia que eu precisava “aproveitá-las” assim ou assado. Ou sempre havia algum compromisso social impondo horários.

Este fim de semana, filho, foi um marco. Acho que foi o primeiro fim de semana desde que voltamos para o Brasil que não tínhamos absolutamente nenhum compromisso, nem de nossos trabalhos voluntários. A gente achava que você já estaria por aqui a essa altura do campeonato, então, limpamos nossa agenda. Assim, na sexta-feira, fomos ao cinema, lanchamos fora e namoramos muito. No sábado, curtimos minha família e aproveitamos o ócio durante toda a noite. Hoje, um pouco mais de ócio e mais família, dessa vez a do seu pai. Tudo sem horário, sem compromisso. Que delícia! Filho, hoje eu acordei quase a 1 hora da tarde!!! Tudo bem que só fui dormir profundamente às 9h30 da manhã – de madrugada acordei a cada hora e meia, seja para fazer xixi, seja porque a posição acabava provocando cãibras e dormências em um dos braços ou pernas. Tem sido assim com frequência, mas os cochilos durante o dia (sejam eles de 20 minutos ou de 1h30) parecem conseguir substituir bem qualquer dormida da noite. Sábia natureza que já me prepara para as mamadas noturnas.

Eu sou uma pessoa ansiosa, filho. Isso não é segredo. Mas não acho que ela seja culpada pelas minhas noites malucas desta semana. Mesmo assim, confesso, quase todos os dias eu acordo me perguntando: será que vai ser hoje? Afinal, hoje, quando completamos 40 semanas juntos, era uma de suas DDP, data previstas para o parto (a outra é daqui a 4 dias). Confesso também que fico com medo de você não dar nenhum sinal e eu ser obrigada a marcar uma cesária. Poxa, se eu vou ter que passar por um cirurgia, queria pelo menos ter certeza que sua hora chegou e, principalmente, sentir que entrei em trabalho de parto. Sentir alguma contração, ver a bolsa estourar... Qualquer coisa que não seja anotar na agenda um dia e uma hora.

Tento não pensar muito nisso e tento me lembrar de tudo o que seu sei:

1) Apesar do bebê ser considerado a termo com 38 semanas e de estarmos no país das cesárias nessa idade gestacional, uma gravidez dura 40 semanas e nós acabamos de chegar nela.

2) 40 semanas é a MÉDIA. Isso significa que não é uma data precisa, matemática

3) Quem tem experiência com parto normal diz que é mais comum o bebê “atrasar”, ou seja, passar alguns dias da DPP, do que adiantar.

4) Por mais moderna que seja a Medicina, as medidas e análises feitas pelo ultrassom são aproximadas e a margem de erro é de até DUAS SEMANAS! Sim, isso tudo! Também fiquei em choque quando descobri, mas quem garante isso é meu médico. Ou seja, no meu calendário pode estar marcando 40 semanas, mas, na verdade, podemos estar entrando na 38ª.

5) Só quem sabe a hora certa de nascer é você, meu filho. Só você sabe quando está realmente pronto. Eu li que a última coisa a se formar no bebê é o pulmão e que quando ele “amadurece” plenamente acaba expelindo uma substância na placenta que inicia o trabalho de parto. Se eu e você estamos bem, não há porque não esperar a sábia natureza seguir seu curso normal. Você tem até 42 semanas para isso. Quem sou eu para dizer que você não precisa dessas duas últimas?

Mesmo assim, às vezes dá medo, filho. Medo das coisas não acontecerem naturalmente. Tento me distrair e não pensar muito nisso, mas você já é tão amado e querido, meu filho, que é quase impossível não pensar no seu parto. Todos os dias eu e seu pai recebemos mensagens e telefonemas perguntando de você. São 2 a 4 todos os dias!! Sei que é carinho, mas preciso dizer que, às vezes, me irrita. Até porque vêm seguidas de comentários como “mas esse André é preguiçoso”, “esse menino é folgado, fica enrolando para sair daí”, “acho que ele está com preguiça e não vai sair daí sozinho”. Ahhhhhh!!!!!! Quem eles pensam que são para julgar sua personalidade e o que está acontecendo aí dentro da barriga? Por que todo mundo parte do princípio de que tudo o que deveria estar pronto já está e só você é que não quer sair? Talvez, se eu não fosse tão ansiosa, nenhum desses comentários me incomodaria. Sei que é a forma deles de demonstrarem amor por você. Uma maneira de dizer o quanto você já é bem-vindo, querido e esperado. Sei que muitos são apenas uma brincadeira e não comentários sérios. Mas eu ouço esse tipo de comentário desde a 36ª semana, filho!!!! 36ª!!! Tem hora que cansa.

Sim, por mim você já pode vir. Sim, até eu já cheguei naquela fase “cansei de brincar de grávida”, em que tudo incomoda. Sim, estou doida para ver sua carinha e pegar você nos meus braços. Mas, acima de tudo, filho, quero aprender a respeitar você como indivíduo que tem necessidades diferentes das minhas. Quero aprender a respeitar o seu tempo e a entender a cada dia que na maternidade eu não tenho o controle. Então, filho, se você estiver pronto e quiser vir amanhã (ou mesmo nas próximas horas), pode vir! Eu estou pronta e serei muito feliz. Mas se você precisar de mais algum tempo, tudo bem também. Não dê ouvidos à tanta pressão e a tantos pedidos exigentes. Use todo o tempo que precisar. Só peço uma única coisa: lembre que nosso prazo limite é em duas semanas. Não quero ser obrigada a tirar você a força daí de dentro (mas, se for preciso, vou tirar, rs). Dê algum sinal de que sua hora chegou. Seja sua hora agora, amanhã ou em 10 dias. Eu respeito você, André. E vou esperar.



Vitória, madrugada de 24 para 25 de maio de 2015 – 40 semanas

Comente pelo Facebook:


0 comentários no blog:

Postar um comentário

 

Cartas para meu filho Copyright © 2014 Design by Amandinha Layouts Amandinha Layouts