sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sobre saúde e estética - parte II

Postado por Mãe do André às 08:09
(Antes de ler este post, não deixe de conferir a primeira parte da carta)

Pronto! Tinha minha carta de alforria. E você apareceu rapidinho! Que alegria! Sabe, filho, eu odiei esperar esse tempo todo. Mas Deus sabe mesmo o que faz. Foram dois anos muito intensos, de muitas transformações. Eu e seu pai não somos mais os mesmos como casal. Eu não sou a mais a mesma como pessoa. Acho que estamos mais preparados para receber você agora. Mesmo assim, eu preciso confessar uma coisa meio feia. Quando me vi, finalmente, grávida, a alegria e o alívio foram rapidamente substituídos por um certo pânico. Pior: um pânico estético!!


Eu tinha engravidado com o maior peso da minha vida! Simplesmente 10 quilos acima do que os médicos consideram saudável para a minha altura e 15 kg (SIM, QUINZE!!) a mais do que quatro anos antes, quando fiz a primeira dieta da minha vida, no final de 2010 – um dos raros momentos da vida em tive um peso na balança de que me orgulhava. Como eu engordo mais concentrada na barriga e quadris e como também não uso roupas muito justas ou decotadas, meus amigos juram que eu exagero nesses números. Mas eles são reais, filho! Garanto em seu nome!

Pois bem, o pânico não diminuiu quando eu recebi as metas da nutricionista para a gravidez. Dado meu sobrepeso, ela queria que eu engordasse apenas 7 quilos! Nos três primeiros meses, apenas um quilinho!!!!! PI-REI!!! Como assim??? Achei impossível. Claro, tínhamos uma margem de segurança, mas começamos pelo ideal. Como eu já contei, filho, descobrimos você bem no comecinho. A primeira consulta com o obstetra foi na quarta semana de gestação. Eu me sentia ótima, só não conseguia olhar para doce (perfeito!). E como já fazia exercício físico, nosso médico permitiu que eu continuasse na academia. O melhor dos mundos para mim! Decidi que você seria a motivação ideal para fazer tudo o que eu não tinha conseguido em dois anos. Ia comer melhor, me exercitar mais, evitar todas as tentações. Pirei, filho. Surtei mesmo. Essa é a verdade. Fiquei neurótica. Quase obsessiva. Comecei a me preocupar com estrias, a pensar se meus seios iriam cair muito e se ficariam feios, fui a uma dermatologista pela segunda vez na vida e gastei rios de dinheiro com cremes. E, aí, você me deu uma rasteira.

Comecei a passar mal. Não conseguia comer nada integral. Frutas me enjoavam. Não conseguia olhar para iogurte. Comer virou missão impossível mesmo que eu estivesse morrendo de fome. Sim, porque eu continuava com fome, só não conseguia comer. Um sono tomou conta de mim como se eu estivesse dopada. Academia estava fora de cogitação. Eu vivia tonta, enjoada e com fome. Quando tudo isso era controlável, o sono me impedia de sair da cama a tempo de ir malhar ou fazer qualquer coisa. E no auge da minha neurose, eu ainda fiquei feliz com tudo isso! Pelo menos estava emagrecendo! Não iria ficar gorda (!!!!!!!!!). É absurdo, eu sei, filho. Mas minha promessa com essas cartas é ser sincera e não fazer sentido. Era assim que eu me sentia.

Pois bem, foi só quando as coisas começaram a melhorar (lá no quarto mês) é que meu cérebro passou a raciocinar mais uma vez. Não vou negar que continuava feliz por ter emagrecido, mas a saúde voltou a ser o foco. Eu só não morri de preocupação com você, filho, porque estava tomando, em comprimidos, as vitaminas que você precisava. Ainda era muito difícil comer várias coisas. O foco realmente passou a ser a saúde, mas a neura com a estética continuava lá, filho. Quando meu apetite para doces voltou, eu cheguei a entrar em desespero por algum tempo. Tinha medo da compulsão voltar, de eu me descontrolar, de ver tudo rolar ladeira abaixo. Em alguns momentos, isso realmente aconteceu. Mas foram momentos. Acho que realmente estou em reabilitação – e comecei a ter algumas vitórias significativas na minha relação com a comida.

Agora, quando estamos prestes a entrar no sétimo mês juntos, não posso mentir e negar que temo pelos próximos meses. A fome aumentou muito, a necessidade de doces é real e eu sinto minha pele se esticar e coçar como se fosse rasgar. Continuo me lambuzando de cremes, evito sair sem protetor solar (e vou de viseira até do carro à portaria do trabalho), estou na hidroginástica, faço drenagem linfática, ainda me peso toda semana e comemoro cada subida gradual dos ponteiros. Mas sabe qual a diferença hoje? Eu já me sinto vitoriosa, filho, sinto que sei o caminho a trilhar. E me sinto linda no meu corpo de grávida. Ele é tudo o que eu sempre desejei e sonhei. Faço questão de usar roupas que deixem o barrigão em evidência, aposentei quase todas as batas e blusas largas do meu tempo de gordinha – e que seriam superconfortáveis neste momento. Adoro minha barriga pontuda, redonda e o fato de nem sempre parecer grávida de costas. Amo o fato do meu rosto, braços e pernas não terem acompanhado o formato da barriga! E mais: se isso acontecer agora, na reta final, também não me importo mais. Faz parte, é natural, e eu me sinto com a missão cumprida. Fiz a minha parte nessa história toda.

Significa que a neurose passou? Não exatamente. Não estou com a alimentação tão saudável quanto gostaria, tenho exagerado um pouco nos doces e besteiras e, confesso, estou um pouco tensa com o exame de glicemia que faço neste exato instante (apesar de estar feliz por passar essas duas horas no laboratório aproveitando para escrever para você – ando meio sem tempo ultimamente). Mas estou aprendendo uma coisa, filho: a me concentrar mais nas minhas vitórias do que na minhas derrotas. E isso é um passo gigantesco para a sua mãe. Se a alimentação ainda está longe do ideal, ela já é muito melhor do que há 2 anos (e infinitamente melhor do que no início da gravidez). Se engravidei com sobrepeso e 7 quilos ainda são uma meta difícil de atingir, pelo menos posso comemorar o fato raro de ser uma grávida que chegou ao 6º mês tendo engordado só um pouco mais de 3 quilos em relação ao peso antes da gestação (ninguém precisa saber que eu emagreci e recuperei um bom peso nos primeiros três meses, shiiiiiii!!). Se a perna já está inchando, pelo menos a pele parece estar melhorando, as espinhas parecem que finalmente sumiram e o cabelo dá sinais de estar desistindo da rebelião dos meses iniciais (quando é mesmo que a pele e o cabelo de grávida brilham? Acho que era pegadinha, rs). E, principalmente, se o maior problema com o meu corpo era a barriguinha saliente, ah... agora é estufar a pança com orgulho e sair por aí exibindo o barrigão!

Ainda ouço muito terrorismo sobre o corpo pós-gravidez. Há pressão para voltar ao peso ideal rapidamente. E já ouvi até o conselho absurdo de amamentar só por 2 ou 3 meses para poder fazer logo dieta e tomar chás e comprimidos que me ajudarão a voltar em forma em dois meses! Já tive recomendações de inúmeros procedimentos estéticos e de locais onde eu poderia voltar a me exercitar antes mesmo do fim do resguardo. Gente, para que tudo isso? Para a minha surpresa, filho, nada disso importa muito agora. Quando você nascer, quero apenas curtir você. Claro que me pego, às vezes, pensando em como o meu corpo vai ficar, se terei muita flacidez ou estrias, como vai ficar o meu peso... Mas, se tiver, e daí? Esse é o preço pela sua chegada? Eu pago!! Se, mais tarde, algo estiver me incomodando muito, eu corro atrás do prejuízo. Mas meu corpo foi feito para isso, e eu quero apenas que ele esteja pronto para receber, acalentar e amamentar você, dar a você muito, muito carinho. O resto é resto, pelo menos nos seus primeiros meses de vida.

Pela primeira vez em muito tempo eu estou feliz com o meu corpo. Se amanhã esterei feliz, não sei. Mas com o amanhã, eu me preocupo amanhã. Hoje eu quero apenas curtir essa paz, me concentrar nas minhas vitórias. Quero, sim, melhorar cada vez mais a minha saúde, minha relação com a comida e com o meu corpo. Mas sem neuras, sem querer a perfeição, mesmo sendo muuuuuito difícil. Derrotas e escorregadas fazem parte da vida, mas para que me concentrar nelas? O que importa é que agora eu estou linda! Até agora o saldo é positivo. Então, por agora, eu vou me concentrar só nisso e comemorar!

Vitória, 25 de fevereiro de 2015 - 27 semanas




Comente pelo Facebook:


0 comentários no blog:

Postar um comentário

 

Cartas para meu filho Copyright © 2014 Design by Amandinha Layouts Amandinha Layouts