quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sobre saúde e estética - parte I

Postado por Mãe do André às 18:08

Todo mundo sabe que, na gravidez, a principal preocupação deve ser a saúde da mãe e do bebê. É um dos poucos períodos da vida da mulher em que a pressão pelos padrões estéticos diminui um pouco (sim, só um pouco!). É quando ganhar peso é um dever, evitar produtos light/diet uma obrigação e quando trocar a malhação por mais horas de sono vira uma decisão não só aceitável como, muitas vezes, prudente. Seria um momento em que a pressão pelo corpo perfeito iria embora, em que a estética poderia ser deixada de lado como meta principal. Deveria, filho, mas não é bem assim. Até mesmo eu, que luto conscientemente contra essa pressão social, me vi quase surtando de preocupação com o espelho. 


É sério, filho. Sabe, não me orgulho disso, mas também não tenho vergonha de confessar. Você provavelmente sabe, pelas nossas conversas antes de nascer, que minha briga com a balança foi um dos motivos que adiaram um pouco a sua vinda. Não era obesa (nem nunca fui) e meu sobrepeso por si só não impedia uma gravidez. A preocupação principal dos meus médicos era a nossa saúde. Herdei da família do seu avô um histórico cardíaco preocupante. Estou acostumada a fazer, desde a adolescência, exames que só senhoras com mais de 50 anos costumam fazer. Nunca deram nada, mas sempre havia alguma suspeita a ser investigada (a primeira veio quando eu tinha apenas 4 anos de idade!). 

Na Itália, a eterna suspeita foi confirmada. Tenho um válvula do coração que não fecha exatamente dentro da perfeição. Isso, a princípio, não significa muita coisa. O médico me disse que é como alguém que pisa um pouco torto: pode aumentar o risco de torcer o pé, mas eu posso andar torto a vida inteira sem ter qualquer acidente ou torcer o pé sem nunca ter andado torto. O único risco real da minha “condição” é ter mais chance de infecção em caso de cirurgias, o que é facilmente controlado com uma pequena dose extra de antibiótico. O problema, o susto real, foi que nessa mesma bateria de exames descobri que estava com o colesterol nas alturas – isso, sim, um risco cardíaco enorme. Passei três meses em dieta radical sem gordura, no país dos queijos, do sorvete e dos embutidos (e vizinha do país do chocolate). Tudo para o médico tentar entender o que era alimentar e o que era hereditário. Até biscoito água e sal e pão de forma (mesmo integral) foram proibidos. Eu não podia comer absolutamente nada industrializado!

Foi difícil! Ainda mais com uma Inglaterra no meio do caminho. Mas o que ninguém sabia (talvez nem mesmo eu tivesse ainda me dado conta) é que eu também enfrentava problemas com a comida, filho. Tinha aprendido a engolir minhas emoções com ela. Tinha (ou tenho ainda – me vejo às vezes como uma alcoólatra em recuperação) compulsão alimentar. Foram 3 anos tentando entender, superar e controlar tudo isso. Não era um transtorno grave, nada tão fora do controle assim, mas ele existia. A dieta melhorou meu aspecto na balança, mas o colesterol continuou alto: era familiar e a comida só potencializou o problema. Tentei dietas mais ou menos radicais, investi em exercícios e passei por momentos de controle e descontrole alimentar (a adaptação na volta ao Brasil não foi fácil e virou desculpa para muitos exageros). Meu cardiologista e meu ginecologista recomendaram adiar o sonho da gravidez por alguns meses. Queriam que eu tentasse perder algum peso e investir em fitoterápicos para diminuir um pouco o colesterol, que já não era mais tão alarmante quanto na Itália, mas que continuava muito alto. 

Foram meses e meses de tentativas, sempre me pediam mais três meses, e mais três, e mais três meses. Paralelo a isso, minha alergia inexplicável voltou (hoje vejo como era emocional) e ninguém descobria o porquê. Minha nutricionista, que focou muito mais na minha relação com os alimentos do que na balança (e não proibia absolutamente nenhum tipo de comida) decidiu me passar uma dieta detox radical. Tudo para termos certeza absoluta de que a alergia não era alimentar: 40 dias sem glúten (graças a Deus não era isso!!!), 15 dias sem lactose, 10 dias sem qualquer açúcar ou produto industrializado. Que prova! E para que? PARA NADA!!!! Dois anos se passaram e meu peso não se alterou (baixou e subiu um pouco e por várias vezes, permanecendo praticamente o mesmo). E nenhuma das ervas, chás, comprimidos ou homeopatias fizeram meu colesterol chegar os níveis considerados normais. E você, filho, esperando! Foi muita frustração acumulada!

Todos os profissionais que me acompanhavam chegaram a mesma conclusão: vai engravidar! Como assim? Se fosse para engravidar gordinha e com colesterol alto, não poderia ter feito isso há 2 anos? Meu cardiologista disse que estava satisfeito com o fato das taxas terem se tornado estáveis, mesmo que ainda um pouco altas e me alertou que meu caso era de remédio para o resto da vida, mas que era melhor começar com eles só após a gravidez. Meu ginecologista disse que o sobrepeso exigiria um controle maior durante a gestação, mas que o colesterol não era, para ele, uma notícia necessariamente ruim – explicou que ele é matéria-prima da placenta e que a gravidez poderia até ajudar! Já a nutricionista reconhecia que não era a situação ideal, mas acreditava que a ansiedade e o estresse por adiar a gravidez eram mais preocupantes como gatilhos para a minha compulsão. “Você precisa engravidar logo”, brincou.

Pronto! Tinha minha carta de alforria. E você apareceu rapidinho! Que alegria! Sabe, filho, eu odiei esperar esse tempo todo. Mas Deus sabe mesmo o que faz. Foram dois anos muito intensos, de muitas transformações. Eu e seu pai não somos mais os mesmos como casal. Eu não sou a mais a mesma como pessoa. Acho que estamos mais preparados para receber você agora. Mesmo assim, eu preciso confessar uma coisa meio feia. Quando me vi, finalmente, grávida, a alegria e o alívio foram rapidamente substituídos por um certo pânico. Pior: um pânico estético!! Eu tinha engravidado com o maior peso da minha vida! Simplesmente 10 quilos acima do que os médicos consideram saudável para a minha altura e 15 kg (SIM, QUINZE!!) a mais do que quatro anos antes, quando fiz a primeira dieta da minha vida, no final de 2010 – um dos raros momentos da vida em tive um peso na balança de que me orgulhava. Como eu engordo mais concentrada na barriga e quadris e como também não uso roupas muito justas ou decotadas, meus amigos juram que eu exagero nesses números. Mas eles são reais, filho! Garanto em seu nome!


(Como essa carta ficou muito grande, ela foi dividida em dois posts. Não deixe de conferir a sua continuação!)

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