domingo, 7 de junho de 2015

Uma carta ditada - e as mudanças que você provoca

Postado por Mãe do André às 16:15
Hoje é dia 7 de abril de 2015 e eu acabei de sair do consultório do obstetra. Estou presa no trânsito, parada. Então resolvi resolvi ligar o gravador de voz do celular para, pela primeira vez, em vez de escrever, falar um carta para você, meu filho, enquanto você se mexe freneticamente aqui na minha barriga.


Não sei nem por onde começar a falar sobre essa semana. Hoje conversei com nosso médico sobre a licença maternidade. Falta tão pouco, filho, nossa! Pensar que daqui a pouco você vai estar nos meus braços... Pensar que agora você já está quase quase do tamanho que você vai nascer, praticamente com tudo formado... Se você nascesse agora... poderia dar certo! É muito louco!

Dizem que um filho muda tudo. E eu não tenho a menor dúvida disso, apesar de saber que eu não tenho ideia de como vai ser essa mudança. Mas algumas coisas já nos dão algumas dicas. Falam muito por aí que você faz coisas por um filho que você jamais imaginou e que você jamais faria por outra pessoa. Bem, isso já começou...

Esse final de semana que passou, filho, foi feriado. E eu consegui realmente ter um feriado no jornal: sexta, sábado e domingo! E foi um feriado só seu. Totalmente dedicado a você. No sábado, nós fizemos o seu chá de fraldas, o seu chá de bebê. E eu passei a sexta e boa parte do sábado organizando essa festa. Eu nunca organizei uma festa com tanta dedicação, com tantos detalhes e, ao mesmo tempo, tão feliz. Na verdade, eu acho muito chato esse negócio de organizar festa, de ficar pensando em detalhes, decoração. Eu acho tudo uma gastação de dinheiro que geralmente não vale a pena. Mas eu queria tanto fazer o seu chá de bebê! E foi uma data horrível. Foi em um sábado de Aleluia! Mas quando eu e seu pai paramos para pensar em como vai ser esse próximo mês, nos demos conta que ou a gente fazia nessa data, ou não fazia em data nenhuma. O problema de se fazer no feriado é que a gente sabe que muita gente querida não ia poder participar. Mas o lado positivo é que não precisamos fazer a seleção dos convidados, quebrar a cabeça nesta lista. Simplesmente convidamos todo mundo que a gente queria. E foi quem pôde. Muita gente legal, filho, que eu quero que você conheça, não estava lá. Mas isso não importa. O que importa é que a gente teve uma noite de muito carinho pensando em você.

Na verdade, eu e seu pai nos dedicamos a você no fim de semana inteiro. Comprar as coisas da festa, pensar nos detalhes de organização, o que gente ia levar, o que fazer... Filho, sua festa teve até decoração! Coisa que eu jamais pensei que fosse fazer, muito menos organizar. A cena de eu e sua tia Isa sentadas na cadeira de plástico separando balas, jujubas e chocolates pela cor era quase surreal. Foi quase uma experiência fora do corpo! Jamais imaginei fazer esse tipo de coisa. Eu! Que sempre achei uma bobagem essa história de decoração, um desperdício de dinheiro. E olha que está na moda e tem muita gente desperdiçando muuuito dinheiro em nome de uma boa decoração de festa infantil. Aliás, tem muita gente gastando valores de um carro ou um casamento em festas infantis e chás de bebês. Isso eu realmente não iria fazer. Mas você teve festa com decoração!

Foi tão gostoso, filho! E você se comportou tão bem! Tão bem! Eu fiquei em pé o dia inteiro! Eu e seu pai pegamos superpesado com você. Fomos a dois supermercados na sexta-feira, a gente saiu de noite para jantar, a gente saçaricou o fim de semana inteiro. Eu não parei quieta um minuto. E você parece ter gostado! Você não reclamou, não me inchou. Eu não senti dor, não senti indisposição. E todo mundo só comentava o quanto eu era uma grávida bem disposta e não inchada. E sabe qual era a verdade, filho? Eu realmente estava me sentindo muuuito bem disposta. Como eu não me sinto todos os dias, eu preciso ser sincera. Não é sempre que eu me sinto assim. Mas dessa vez eu me senti. O dia inteiro. Cansada, claro, mas superbem disposta. E, pela primeira vez, eu estava me sentindo linda redonda. Parecem até duas palavras que não deveriam vir juntas na mesma frase. Mas era assim que eu estava me sentindo: linda e redonda. Até vestido novo eu comprei. Eu fui parar no shopping sozinha para fazer compras para a decoração da sua festa e para achar um vestido novo só para essa ocasião. A festa foi boa: bolo, picolé, salgadinho, tortas, tudo o que eu gosto e mais um pouco. Até sanduíche eu fiz, cortei queijo, presunto, fatiei pão. E foi um sucesso! E a festa terminou em jogatina. Boa parte dos meus convidados jogando imagem e ação. Inclusive, eu!

E, depois, sabe o que eu me peguei pensando? Que o sábado de Aleluia acabou virando, oficialmente, o dia dos chás meu e do seu pai. Porque quando a gente casou, filho, e a gente casou em abril, eu e seu pai também decidimos de última hora fazer um chá de panela. Na época chamamos de chá-bar porque não queríamos separar homens e mulheres. E justamente por ter sido feito em cima da hora e, justamente também por, mais uma vez, não termos tido muita opção de data, eu tenho quase certeza de que o nosso chá-bar também foi em um sábado de Aleluia. O que vai dar a essa data horrorosa para se fazer festa não religiosa um significado ainda mais especial.

Mas não foi só isso, não, filho. Até tudo acabar, eu e seu pai limparmos o salão de festas do prédio do seu avô, voltarmos para casa e fazermos mil viagens para descarregar o carro lotado e guardar as coisas na geladeira, tomar banho e dormir, já eram 2 da manhã. E você podia imaginar que, no domingo, tudo o que a gente queria era ficar quietinho. E no fundo era, filho. Mas sua mãe está aprendendo a fazer uma coisa que é muito importante. Eu digo muito importante para mim, porque essa dificuldade que eu tenho é a causa das grandes dores de cabeça da minha vida, dos meus grandes problemas. Sabe qual era o meu problema? Eu quero tudo perfeito. Eu sou muito exigente comigo mesma. Eu acho que eu quero que tudo seja 100% e eu possa superar todas as expectativas. E isso é tão difícil, filho. Na verdade, é impossível. Sabe o que eu aprendi? Se não dá para fazer da melhor forma, faz do jeito que der! Em vez de pensar na forma ideal, na melhor maneira, eu tenho que pensar na melhor maneira que eu puder, dentro daquele contexto e daquelas condições. 

E foi pensando nisso que, mesmo a gente tendo ido dormir às 2 da manhã, pouco antes das 7 horas eu já estava de pé para me maquiar e me produzir para tirar foto da nossa barriga! É, eu digo nossa porque, a barriga pode ser minha, mas ela só estava naquele formato digno de ser fotografado porque também é a sua casa. E fui, filho. Eu e seu pai, às 8h30 da manhã, para um parque perto da nossa casa, com dois grandes amigos que toparam essa empreitada de tirar fotos da barriga. Volto a dizer: parece surreal. É mais uma coisa que jamais imaginei que fosse fazer e que você já está mudando em mim. Eu confesso: eu fiquei constrangida. Ficar em destaque, colocar a barriga de fora, mesmo que ela esteja linda, e fazer foto em público foi uma coisa tão estranha... Às vezes eu tinha crise de riso de tanta vergonha. E olha que eu sempre me achei desinibida! Eu jamais me senti uma pessoa tímida ou envergonhada. Mas é engraçado. Fazer algo em que eu precise lidar com minha própria imagem ainda é muito difícil para mim. E eu agradeço a você, filho, pelo fato disso estar mudando.

Pois é. Assim, foi. Eu e seu pai exaustos, mas felizes. Eu cansada, mas empolgada. E ainda fomos ter um almoço de Páscoa com sua avó (mas tivemos que tirar uns cochilos antes e depois do almoço, rs). Depois ainda enfrentamos uma palestra e, depois dela, recebemos amigos em casa para, digamos, um chá particular: comer o “resto” das guloseimas, doces e salgadas, que sobraram da sua festa e receber os amigos que ainda não tinham visto seu quarto. Foi tão legal! Foi um final de semana tão intenso, filho, tão tão intenso. Mas foi tão legal! 

Acho que eu e seu pai, apesar do cansaço, estávamos precisando de um pouco de vida social. Andamos preocupados com as coisas que precisamos fazer para você. Tanta coisa para ajeitar ainda que às vezes eu acho que não vai dar tempo. E agora, depois dessa consulta, perceber que está tão perto... E que eu também tenho tanta coisa do trabalho para fazer antes de poder me dedicar só a você e sair de licença! Nossa! Tem hora que bate até um desespero. Eu tento não me desesperar, por um motivo muito simples: estou tentando fazer uma coisa de cada vez. E do jeito que der. O melhor que eu puder, nas condições que eu puder, como diz Mário Cortella, “até que eu tenha condições de fazer melhor ainda”. E por isso, meu filho, eu agradeço a você e aproveito para registrar esse momento. Registrar que você nem chegou e já está me mudando e para melhor. Pelo menos, para mim, conseguir lidar com essas coisas de maneira mais tranquila, conseguir lidar com minha autoimagem de uma maneira mais positiva mesmo que ainda seja difícil, é uma vitória que eu também posso creditar a você. E agora falta pouco, filho. Falta pouco. E eu não vejo a hora de ver você nos meus braços e de saber que muitos outros fins de semana vão ser assim: que eu vou estar cansada, mas empolgada, sabendo que meu corpo preferiria dormir, mas que eu vou preferir usar esse tempo para me dedicar a você.


Até daqui a pouco, filho!


33 semanas

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2 comentários no blog:

Isa• disse...

Eu tinha lido essa carta a uns dias atrás e não tinha conseguido comentar. Linda carta, muito bom poder acompanhar essa mulher em transformação. Me emocionei bastante com seu relato de mulher em transformação e o quanto você é consciente disso! E também por ler ali "tia Isa" e saber que eu participei disso! hehehe Foi muito bom estar com vocês nesse momento tão especial que foi a celebração da vinda do André. A tia Isa ainda não conhece pessoalmente mas vibra muito por tudo que envolve ele! Só aguardando o melhor momento, onde mãe, pai e filho já se adaptaram a nova vida cheia de mudanças que não param mais! Um beijo carinhoso da Tia Isa <3

Mãe do André disse...

Que lindo, Isa! Palavras carinhosas assim só me motivam ainda mais! Vamos combinar essa visita! :)

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