domingo, 28 de junho de 2015

Eu e minha barriga

Postado por Mãe do André às 17:14
Eu ia começar esse texto, filho, dizendo que eu e minha barriga sempre tivemos uma relação de amor e ódio. Mas, como prometi ser sempre sincera nessas cartas, preciso reconhecer que amor mesmo quase não existiu nessa relação. Pelo menos não até você chegar.

Nunca me considerei uma pessoa feia, apesar de ter tido fases em que meu corpo era meio desproporcional. Fiz as pazes com o quadril largo e as pernas grossas há muito tempo, diria até que ainda na adolescência. E antes que eu pudesse consolidar uma vergonha pelos seios fartos, eles viraram moda, com mulheres gastando muito dinheiro por eles. Mas a barriga... Ah! Essa sempre foi meu calcanhar de Aquiles. Eu jurei para mim mesma que nunca deixaria de ir à praia ou usar biquíni por causa do meu corpo, mas confesso que nos últimos anos isso exigia um certo esforço da minha parte. E confesso também que fiquei profissional em tirar fotos sem mostrar a "pancinha". Mas, então, você chegou!

Sabe, filho, não sei como vai ser minha relação com meu corpo após o seu parto. Mas preciso agradecer você pela inédita e maravilhosa sensação de, pela primeira vez na vida, ter orgulho da minha barriga. A gravidez é um raro momento em que as mulheres podem comemorar os quilos a mais na balança e exibir contentes uma barriga redonda e proeminente. É até engraçado. Eu sempre fui a rainha das batas e blusas larguinhas (e sempre disfarcei bem as gordurinhas abdominais). Quando via aqueles cabides infinitos com esse tipo de roupa, pensava: “bem, pelo menos não vou gastar muito dinheiro com roupa quando eu engravidar. Quase todas as minhas blusas vão me servir até os meses finais de gestação.” Mas sabe o que aconteceu, filho? Eu aposentei todas elas há meses! Fiz questão de comprar blusas de grávidas bem coladinhas e vestidos que marcassem bem a barriga. Faço questão de exibir o barrigão por aí, orgulhosa demais de você e de mim. Mesmo agora, com meu andar de pata e dedos inchados, estufo a barriga com orgulho e saio exibindo você por aí. É muito legal!

Mas nem nessa fase, filho, a relação com a barriga é apenas flores. No início, ficava preocupada com a reação das pessoas, espantadas que a barriga estava grande demais. “Será que estou engordando mais do que deveria?”, me perguntava. Alguns apostavam que você não estava sozinho aí dentro e eu cheguei a ir ao ultrassom tensa com a possibilidade. Agora, ouço várias vezes que a minha barriga está pequena demais para 8 meses e me perguntam se eu tenho certeza de que você está no peso normal. Que maldade! Por que as pessoas fazem isso com as grávidas? Eu tenho consciência de que está tudo bem, meu médico e minha nutricionista afirmam que está tudo bem, eu vejo barrigas maiores e menores do que a minha e sei que cada mulher é de um jeito. Mas, lá no fundo, sempre tem uma vozinha irracional que me pergunta: “será mesmo?”. Ô raiva que eu tenho de comentários irresponsáveis que as pessoas fazem às grávidas!

Outro ponto engraçado da minha relação com a nossa barriga é que, mesmo olhando bem para ela cada vez que estou na frente do espelho, eu não consigo me acostumar com o tamanho dela!!! Filho, ainda bem que você está bem protegido aí dentro porque a mamãe anda um desastre! Ando esbarrando a barriga em tudo o que é lugar, raspando a pança nas portas, mesas e no box, esquecendo meu real tamanho na hora de passar pelos lugares! Dói, mas eu morro de rir!! Também não aprendi ainda a comer tão longe das mesas (já que o barrigão impede de me aproximar delas) e tenho gasto quase uma blusa por refeição tamanha a bagunça com a comida! Sem contar que eu descobri que minha barriga tem a altura exata do padrão das pias de banheiro dessa cidade. Sempre que vou lavar as mãos, o fundo da barriga se apoia com perfeição em cima da bancada e eu saio com a roupa molhada! Toda vez!!! Nunca me lembro que preciso ficar mais afastada!

É divertido. Entre altos e baixos, eu estou é adorando essa fase e curtindo cada segundo desses momentos finais de barrigão. Claro, tem horas que é difícil – não existe posição confortável que dure mais de 5 minutos e mudar de posição consiste em dor, incômodo e necessidade de ajuda do seu pai – mas... e daí?? Daqui a pouco tudo acaba e eu tenho certeza que sentirei falta de você dentro de mim. É tão legal ter tanto orgulho dessa barriga!

Até daqui a pouco

Mamãe


Vitória, 26 de abril de 2015 – 36 semanas


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