Eu
ia começar esse texto, filho, dizendo que eu e minha barriga sempre
tivemos uma relação de amor e ódio. Mas, como prometi ser sempre
sincera nessas cartas, preciso reconhecer que amor mesmo quase não
existiu nessa relação. Pelo menos não até você chegar.
Nunca
me considerei uma pessoa feia, apesar de ter tido fases em que meu
corpo era meio desproporcional. Fiz as pazes com o quadril largo e as
pernas grossas há muito tempo, diria até que ainda na adolescência.
E antes que eu pudesse consolidar uma vergonha pelos seios fartos,
eles viraram moda, com mulheres gastando muito dinheiro por eles. Mas
a barriga... Ah! Essa sempre foi meu calcanhar de Aquiles. Eu jurei
para mim mesma que nunca deixaria de ir à praia ou usar biquíni por
causa do meu corpo, mas confesso que nos últimos anos isso exigia
um certo esforço da minha parte. E confesso também que fiquei
profissional em tirar fotos sem mostrar a "pancinha". Mas, então, você
chegou!
Sabe,
filho, não sei como vai ser minha relação com meu corpo após o
seu parto. Mas preciso agradecer você pela inédita e maravilhosa
sensação de, pela primeira vez na vida, ter orgulho da minha
barriga. A gravidez é um raro momento em que as mulheres podem
comemorar os quilos a mais na balança e exibir contentes uma barriga
redonda e proeminente. É até engraçado. Eu sempre fui a rainha das
batas e blusas larguinhas (e sempre disfarcei bem as gordurinhas
abdominais). Quando via aqueles cabides infinitos com esse tipo de
roupa, pensava: “bem, pelo menos não vou gastar muito dinheiro com
roupa quando eu engravidar. Quase todas as minhas blusas vão me
servir até os meses finais de gestação.” Mas sabe o que
aconteceu, filho? Eu aposentei todas elas há meses! Fiz questão de
comprar blusas de grávidas bem coladinhas e vestidos que marcassem
bem a barriga. Faço questão de exibir o barrigão por aí,
orgulhosa demais de você e de mim. Mesmo agora, com meu andar de
pata e dedos inchados, estufo a barriga com orgulho e saio exibindo
você por aí. É muito legal!
Mas
nem nessa fase, filho, a relação com a barriga é apenas flores. No
início, ficava preocupada com a reação das pessoas, espantadas que
a barriga estava grande demais. “Será que estou engordando mais do
que deveria?”, me perguntava. Alguns apostavam que você não
estava sozinho aí dentro e eu cheguei a ir ao ultrassom tensa com a
possibilidade. Agora, ouço várias vezes que a minha barriga está
pequena demais para 8 meses e me perguntam se eu tenho certeza de que
você está no peso normal. Que maldade! Por que as pessoas fazem
isso com as grávidas? Eu tenho consciência de que está tudo bem,
meu médico e minha nutricionista afirmam que está tudo bem, eu vejo
barrigas maiores e menores do que a minha e sei que cada mulher é de
um jeito. Mas, lá no fundo, sempre tem uma vozinha irracional que me
pergunta: “será mesmo?”. Ô raiva que eu tenho de comentários
irresponsáveis que as pessoas fazem às grávidas!
Outro
ponto engraçado da minha relação com a nossa barriga é que, mesmo
olhando bem para ela cada vez que estou na frente do espelho, eu não
consigo me acostumar com o tamanho dela!!! Filho, ainda bem que você
está bem protegido aí dentro porque a mamãe anda um desastre! Ando
esbarrando a barriga em tudo o que é lugar, raspando a pança nas
portas, mesas e no box, esquecendo meu real tamanho na hora de passar
pelos lugares! Dói, mas eu morro de rir!! Também não aprendi ainda
a comer tão longe das mesas (já que o barrigão impede de me
aproximar delas) e tenho gasto quase uma blusa por refeição tamanha
a bagunça com a comida! Sem contar que eu descobri que minha barriga
tem a altura exata do padrão das pias de banheiro dessa cidade.
Sempre que vou lavar as mãos, o fundo da barriga se apoia com
perfeição em cima da bancada e eu saio com a roupa molhada! Toda
vez!!! Nunca me lembro que preciso ficar mais afastada!
É
divertido. Entre altos e baixos, eu estou é adorando essa fase e
curtindo cada segundo desses momentos finais de barrigão. Claro, tem
horas que é difícil – não existe posição confortável que dure
mais de 5 minutos e mudar de posição consiste em dor, incômodo e
necessidade de ajuda do seu pai – mas... e daí?? Daqui a pouco
tudo acaba e eu tenho certeza que sentirei falta de você dentro de
mim. É tão legal ter tanto orgulho dessa barriga!
Até
daqui a pouco
Mamãe
Vitória,
26 de abril de 2015 – 36 semanas
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