Bom
dia, meu filho. Hoje vim contar para você que há cerca de 10 dias nossas
conversas se tornaram públicas. Depois de meses de dúvidas,
vontades e medos, finalmente coloquei nosso blog no ar e até criei
uma página na rede social para divulgá-lo. Esse blog foi uma
vitória para a sua mãe, mas também um motivo de muitas reflexões.
Era um desejo antigo, mas recheado de “poréns”. Eu explico.
Como
disse no próprio blog, não queria que os registros dos nossos
diálogos nesse período tão especial ficassem perdidos para
sempre. Tenho cartas escritas em três cadernos diferentes, com datas
todas misturadas e temia que os pedaços de papel desaparecessem com
o tempo (sim, eu ainda prefiro usar papel e caneta para isso).
Desde os primeiros sintomas de gravidez, eu queria muito registrar
esse momento para me lembrar no futuro de todas as novidades, todas a
mudanças, de todos os sentimentos. De cara, pensei em vídeos. Logo
depois, em um blog. Mas não fiz nada a respeito durante meses. Medo,
filho. Puro medo.
Essas cartas são o registro dos meus pensamentos mais profundos, dos meus sentimentos mais secretos, aqueles que seus tios e avós, por exemplo, nem imaginam. Tudo o que eu não tenho coragem de falar ou preciso organizar internamente antes de falar, vem para o papel. O papel sempre foi meu companheiro mais fiel, aquele que sabe de coisas antes mesmo do seu pai (meu maior confidente) ou das minhas melhoras amigas. Colocar essas cartas on-line é ficar exposta como nunca fiquei antes. É abrir meu coração em público (mesmo que seja um público reduzido). A sensação é que eu estou falando da minha intimidade em praça pública. E o medo de ser julgada? De ser considerada rasa, boba ou mesmo metida? Estar na web é se colocar para o julgamento público, sempre tão cruel e fácil. E eu estou na internet falando do meu filho!!!
Essas cartas são o registro dos meus pensamentos mais profundos, dos meus sentimentos mais secretos, aqueles que seus tios e avós, por exemplo, nem imaginam. Tudo o que eu não tenho coragem de falar ou preciso organizar internamente antes de falar, vem para o papel. O papel sempre foi meu companheiro mais fiel, aquele que sabe de coisas antes mesmo do seu pai (meu maior confidente) ou das minhas melhoras amigas. Colocar essas cartas on-line é ficar exposta como nunca fiquei antes. É abrir meu coração em público (mesmo que seja um público reduzido). A sensação é que eu estou falando da minha intimidade em praça pública. E o medo de ser julgada? De ser considerada rasa, boba ou mesmo metida? Estar na web é se colocar para o julgamento público, sempre tão cruel e fácil. E eu estou na internet falando do meu filho!!!
Você
era outra preocupação, André. Sabe, eu não posso imaginar como
serão as coisas aqui para frente, mas eu gostaria de continuar
registrando nossas experiências por muitos anos. Só que EU decidi
correr o risco de expor minha intimidade a possíveis estranhos;
você, não (digo possíveis porque, até agora, só divulguei o blog
para amigos). Tenho medo do impacto que isso pode ter na sua vida no
futuro. Se você for tão reservado quanto o seu pai, por exemplo,
talvez não goste nem um pouco de ver sua vida assim, compartilhada.
Tive (e tenho) muito medo de você considerar essa divulgação muito
mais uma invasão do que uma homenagem. Mas isso eu só vou saber
daqui a alguns anos.
De
qualquer forma, filho, estou muito feliz por ter arriscado.
Principalmente porque a maneira como fiz isso demonstra que sua mãe
já teve alguma vitória naquele processo de reinvenção que eu já comentei. Sabe, filho, sempre me cobrei fazer tudo o mais próximo
possível da perfeição - também já falei sobre isso. E quando tinha certeza de que isso não era
possível, que ficaria muito longe do ideal, eu paralisava e não
fazia nada. Também tenho uma tendência a não ficar muito
satisfeita quando algo não fica “100%” e só me dei conta dessa
obsessão quando seu pai confessou que sente até um calafrio na
espinha sempre que uso essa expressão: “100%” - eu nem sabia que
o quanto a utilizava.
Pois
bem, se antes era um desejo muito grande abandonar esse defeito que
paralisava a minha vida, quando me vi grávida isso passou a ser uma
mudança essencial para a minha sobrevivência. Afinal, que mãe
consegue ser perfeita?Que mãe consegue administrar o tempo, a casa,
a vida profissional e amorosa sem erros ou deslizes? Quem consegue uma divisão
ideal entre as funções de mãe, mulher, esposa e profissional? Na
maternidade, filho, tenho consciência de que é impossível ser 100%. Não é que, a partir de agora, eu vá fazer as coisas
de qualquer jeito, sem me preocupar com a qualidade. Mas é que
aprendi que o ideal não depende só de mim. Eu tenho que fazer o MEU
melhor, dentro da realidade em que eu vivo, de acordo com as
condições que eu tenho (“até que eu tenha condições de fazer
melhor ainda”, já diria Mário Sério Cortella). E a condição
ideal, perfeita, quase nunca existe. E quando existe, não depende de
mim. Por isso, filho, aprendi a não ficar esperando por ela, por
aquele momento ideal. E seu blog, filho, foi a prova de que eu posso
conseguir.
Sim,
eu queria ter feito algo mais bacana, com um ar mais profissional. Só
a decisão de comprar ou não um domínio levou semanas. A dúvida
era: até que ponto investir em algo cujo objetivo é apenas um
registro pessoal? Seu pai me deu muito apoio, técnico e
motivacional, mesmo assim cada decisão parecia uma gestação a
parte. Da decisão definitiva de colocar o blog no ar até isso
realmente acontecer foram, no mínimo, dois meses. Eu me dei conta de
que a gestação já estava acabando sem que eu tomasse uma atitude
(e depois que você vier, o tempo vai ser ainda mais limitado).
Então, me libertei do ideal, joguei para o lado todos os “se” e
fiz o que deu dentro das condições que eu tinha no momento. Ainda
quero melhorar muita coisa nesse blog, mas não vou deixar de
escrever/postar enquanto isso. Que vitória!
E,
além da alegria por ter tido coragem de, finalmente, expor meus
sentimentos mais profundos, confesso ter ficado muito orgulhosa com a
repercussão positiva dos últimos dias. De ter visto que essas
palavras podem ser interessantes para outras pessoas que não eu,
você e seu pai. Claro, todas as palavras bonitas de incentivo vieram
dos amigos, mas, afinal, é a opinião de quem realmente importa, não
é mesmo? Estou feliz por ter arriscado. Estou empolgada com esse
projeto. Se dependesse só de mim, trabalharia nele todos os dias.
Mas não dá. Fico tão feliz e orgulhosa de não ter me bloqueado
pelo layout não ser “100%”, pela frequência de postagem ainda
não ser 100%, pela organização da página no Facebook não ser
100% e, por nada disso me paralisar. Abandonar os delírios de
perfeição é libertador! E me empolga 100%!!
Vitória, 13 de abril de 2015 – 34 semanas
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2 comentários no blog:
Adorei o texto! Me identifiquei muito com a necessidade de abandonar o 100%, não sou uma pessoa perfeccionista mas sou ansiosa e gosto de estar no controle e planejar tudo 100%, isso inclui minha vida de hoje a velhice, e junto com isso a dos que ao meu lado estão.
Obrigada Rê por em seus desabafos ajudar outras pessoas, como eu, a refletir sobre temas tão íntimos como autoconhecimento, limites, mudança. Além é claro do universo da maternagem.
Beijo no coração.
Oh... Que lindo! Que bom saber que meus textos podem servir para alguma coisa que não um desabafo pessoal! Acho que refletir sobre as próprias limitações é o desafio de todo mundo, né? Que delícia ler um depoimento desses, Isa! Beijão para você também!
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