terça-feira, 28 de março de 2017

Um golpe de obviedade

Postado por Mãe do André às 21:54
Ô dó! Eu fazendo até graça  para mostrar para o seu
pai a única forma que encontrei para fazer você dormir
quando doentinho (foi assim o dia inteiro por dois dias!)
Você está doente mais uma vez, filho. Depois de uma semana brigando com o nascimento de 2 dentes (já são 10 agora!!) e depois de enfrentar uma conjuntivite na semana passada, agora você está com febre há 2 dias. Mas, incrivelmente, minha postura está bem diferente nesta semana. Não sei se foi toda essa comoção interna por conta do desmame ou se foram as horas de vigília ao seu lado sem poder fazer muita coisa além de dar vazão aos pensamentos (provavelmente as duas coisas), mas a verdade é que o óbvio explodiu na minha cara: você está crescendo.

Eu sei, é óbvio. Mas acho que as mães (provavelmente, os pais também) não se dão conta disso no dia a dia. É claro que todo pai e mãe sabe que o filho está crescendo e as visitas de rotina ao pediatra comprovam isso centímetro a centímetro. Mas no dia a dia é como se a gente não processasse essa informação. Na roda-viva dos cuidados diários sem folga, nos perdemos na rotina de mamadas - troca de fraldas - banho - comida - consolo - distração - mais mamadas - mais fraldas - mais banhos - mais refeições - muito mais colos. E acreditamos piamente e enlouquecidamente que nossa vida agora é assim. Para sempre! Desesperadas, temos convicção que nunca mais dormiremos uma noite de sono, que nunca mais tomaremos um banho demorado, que perdemos o direito a uma refeição quente e ininterrupta, que foi-se o tempo em que nossas vontades tinham vez, que jamais saberemos novamente o que é não estar cheirando a leite ou estar com seios não doloridos (ou que a fila das mamadeiras a lavar será infinita para todo o sempre). É claro que não é assim. Racionalmente, todas sabemos que tudo são fases. Sabemos mesmo? Será, filho?

Entre a exaustão e a ansiedade de fazer tudo certo, não dá tempo de raciocinar, de pensar em tudo isso. O óbvio se perde no nevoeiro de uma mente cansada que não tem o direito de parar para respirar e refletir. Mas eu parei. Na marra.

Pensar no seu desmame, em como (e se) conduzir toda essa história e imaginar como substituir esses momentos em que você está no meu peito, gerou uma saudade antecipada. Um golpe certeiro, uma tapa na cara dado pela obviedade: isso vai acabar!!! Esse tempinho exclusivo só nosso, a única tarefa em que ninguém pode me substituir, em alguns meses vai deixar de existir - ainda que não saiba quantos meses serão. E, então (me perdoe a redundância, filho, mas não tenho como usar outra expressão), eu entendi o óbvio: TUDO vai passar. Tudo vai passar! `

Às vezes, ter um recém-nascido em casa é tão difícil que você só pensa em sobreviver. Em prender a respiração e se manter viva até o tsunami passar. Como agora, quando você está doente. Mas aí não percebemos que dentro deste mesmo furacão que causa a total destruição da sua antiga vida, há uma beleza e uma força da natureza que merece ser admirada. A destruição é transformação, e muitas vezes para melhor. Sou outra, sou nova, sou uma versão melhorada de mim mesma.

Quando essa parte difícil passar, filho, passarão também muitas coisas boas, que só esta fase tem. E
Até fazendo nebulização
você nos diverte, André!
eu vou sentir falta delas. E algumas já estão acabando. Em breve, muito breve, você deixará de ser um bebezinho para ser um menininho lindo. E, de menino, virará rapaz. E com o surgimento das novidades de cada fase, muita coisa se perderá. Se hoje é tão difícil acordar de madrugada com seu choro sofrido e não ter mais ninguém com peitos cheios de leite para revezar comigo, é só hoje eu tenho você assim, todo aninhado em meus braços, me fazendo carinho, apertando meu dedinho, passando a mão no peito, esfregando o pezinho no meu braço. Esse momento só meu e seu, de carinho, de aconchego, de conversa silenciosa. Em breve, não terei mais exclusividade sobre você (algo libertador e triste ao mesmo tempo). Em breve, não terei o leite que meu próprio corpo produz para alimentar você e trazer a calma instantânea. Em breve, muito breve, você nem caberá mais no meu abraço.

Se nesta semana foi tão difícil ter você tão grudado em mim, por conta de dente, doença e saudades do papai que viajou, em breve não bastará apenas o meu colo para trazer a você a paz e a segurança que precisa. O superpoder do abraço de mãe logo não irá mais blindar você da dor do mundo. Sim, é exaustivo não poder me afastar nem 30 segundos para ir ao banheiro. Sim, cansa segurar um bebê com 39° de febre por 40 minutos em pé. Sim, é uma prova de resistência ter você dormindo somente agarrado ao meu corpo. Mas em breve eu não serei suficiente para aliviar sua dor. Não é incrível que hoje baste a minha presença para acalmar você?? Não é maravilhoso que mesmo com dor e febre, meu colo seja suficiente para dar a você todo o conforto necessário para você conseguir relaxar e descansar?

Sim, hoje é tudo muito exigente, muito cansativo. Mas é também muito simples: basta presença, peito e colo. Eu sou tudo o que você precisa na maior parte do tempo. Mas não será sempre assim. Em breve eu serei não apenas desnecessária, mas também "rejeitada" (se Deus quiser e você se desenvolver bem, rs). Em alguns anos, você não precisará mais de mim e ainda vai exigir distância da minha presença, do meu abraço, do meu beijo. Tudo para aprender a ser você. Em breve (afinal, o que é uma década, não é mesmo?), tudo isso será "mico" (você, provavelmente irá usar outra expressão, rs).

É óbvio: vai passar! E mesmo tão cansada, mesmo tendo pedido tanto por isso, eu vou sentir falta.  Eu sei disso. Hoje, eu sou uma das coisas mais importantes do seu mundo. E você é a maior parte do meu. E isso é apenas um instante, um momento rápido, apesar de intenso, das nossas vidas. E desde que óbvio explodiu na minha cara, eu entrei numa espécie de "modo despedida", apreciando cada colo, cada mamada, cada dengo de cada doencinha. São momentos únicos, que vão acabar. E eu quero saborear cada um deles como quem se delicia com um banquete! Porque é difícil, mas é tão bom!!

Eu nunca mais vou ter você pequenininho assim nos meus braços. A mágica do beijinho que sara não dura para sempre - mas eu ainda tenho o poder de curar muitos "dodóis" até lá. Porque hoje meu colo e minha presença bastam. Amanhã, será preciso mais. Depois de amanhã, eles serão recusados, ainda que temporariamente. É óbvio, meu filho. É óbvio que você está crescendo. É óbvio que tudo isso é só uma fase. É óbvio que vai passar. E mesmo sendo tão óbvio assim, eu me assusto.

Eu quero, preciso e vou é aproveitar cada segundo com você! Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Para sempre!


Vitória, madrugada de 13 para 14 de julho de 2016 - 1 ano, 1 mês e 15/16 dias

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