domingo, 27 de dezembro de 2015

Então, é Natal!

Postado por Mãe do André às 11:06
Mais uma vez, peço licença para publicar uma carta fora de ordem, para o tema ficar mais de acordo com a época do ano ;)

É o seu primeiro Natal fora de mim, filho. E eu fiquei tão reflexiva. Eu amo essa data. Você vai aprender que é quase impossível ficar indiferente às festas de fim de ano. Ou você ama ou você odeia esta época. Eu amo. Adoro a desculpa para fazer uma grande farra em família, o esforço que as pessoas fazem para estarem juntas, o capricho com a comida, as luzes e as cores do Natal. Também sou cristã e vejo como ainda precisamos de uma data (ainda que aleatória) para pensarmos nos ensinamentos de Jesus e nos valores do que realmente importa. Mas eu entendo totalmente quem acha tudo uma grande hipocrisia comercial, fonte de estresse e aborrecimento. Isso tudo também é verdade. Natal também pode ser assim. 

É que, às vezes, filho, esse esforço para reunir a família, ser agradável com as pessoas e agradecido a quem está à nossa volta se torna uma obrigação social. E vira falsidade. Você se sente na obrigação de dar presentes para pessoas que você não presentearia normalmente (e o peso disso no orçamento parece ainda maior). Você se sente obrigado a ser simpático com aquele parente sem noção, com quem você não tem nenhuma intimidade, e passa o feriado inteiro bufando internamente, se segurando para não começar uma briga e mandar uns intrometidos plantarem coquinho (para não dizer algo beeem pior, rs). Você percebe que o feriado não tem mais nada de religioso e sabe que a data é uma mera convenção, o que leva, muitas vezes, a questionamentos sobre o significado disso tudo. As inúmeras (e aparentemente obrigatórias) confraternizações entopem a agenda e deixam você sem tempo para descansar, aumentando ainda mais o estresse. 

Tudo isso é verdade, filho. Eu sei e entendo porque já senti tudo isso. Mas descobri uma coisa incrível: o problema não é o Natal, é a gente! Percebi que todo o estresse de fim de ano estava dentro de mim e não na agenda lotada. A verdade, filho, é que, como tudo na vida, o Natal é a gente que faz. É uma frase tão clichê, né? Mas nos últimos anos a mamãe começou a descobrir a profundidade dessas palavras. Desde a sua chegada à minha barriga (e um pouco antes também), eu comecei a questionar que tipo de Natal eu gostaria que você tivesse, que tradições familiares eu e seu pai teríamos com você. Foi quando eu comecei a me dar conta do óbvio: eu posso criar qualquer tradição que eu quiser!!! Comecei a questionar o significado que eu acredito que o Natal deveria ter e o que eu posso fazer para que ele o tenha. Ainda não cheguei lá, filho, mas já consegui algumas respostas.

A primeira é que o Natal sempre foi uma época muito alegre para mim, de reencontro familiar. E quero que seja assim também para você. Quando penso nas lembranças de Natal da minha infância, a felicidade é a primeira coisa que vem à cabeça: a contagem regressiva, o encontro e as brincadeiras com os primos, as gargalhadas dos tios, a música, a comida boa, as danças. E isso é tão fácil reproduzir! Não eram só os presentes. Sim, eles também eram importantes, não vou ser hipócrita e negar isso, mas era muito mais o encontro familiar. A comida podia até ser simples (em parte da família, era), os presentes podiam ser lembrancinhas, mas havia tanto amor e carinho ali. Hoje eu percebo que os presentes de que não gostava eram justamente aqueles "nada a ver". Não era uma questão de preço, era  sensação de que aquela pessoa comprou qualquer coisa, algo genérico, que ela ou não me conhecia minimamente ou não pensou nos meus gostos e personalidade na hora da compra. Ou seja, quando o embrulho havia sido uma obrigação.

Filho, parece tão difícil entender, mas mamãe fez uma descoberta maravilhosa nos últimos anos: é a obrigação que pesa a vida. E o mais incrível de tudo: NÓS NÃO SOMOS OBRIGADOS A NADA!! Para mim, a única obrigação que temos na vida é o respeito ao outro. Mas, no fundo, até isso também é uma escolha. E respeitar não é engolir, não é ser obrigado a suportar, a conviver. É entender que cada um tem seu tempo e sua história, e aprender nossos próprios limites para sermos honestos com as pessoas à nossa volta e, principalmente, com a gente mesmo. Para mim, isso é ser cristão. Vou explicar.

Se as confraternizações de fim de ano se tornam mais um compromisso na agenda lotada, talvez seja a hora de rever algumas amizades. Amigos de verdade nos fazem bem, aliviam o estresse, e abrir um espaço na agenda para eles não é sacrifício, é um prazer. Se não é assim, essas pessoas não deveriam ser chamadas de amigos e muito provavelmente poderiam ser cortadas da sua vida. Se viramos os olhos só de pensar na "festa da firma" e se é preciso nos arrastar até a companhia daquelas pessoas, isso é um indício forte de que talvez seja a hora de procurar outro emprego. Todo trabalho tem lados positivos e negativos, filho, mas quando os negativos pesam demais em nossa vida (mesmo que estejam em menor número) é sinal que aquele emprego não nos faz bem. E, André, não importa o que você já ouviu a esse respeito, acredite na mamãe: ninguém é obrigado a ficar num trabalho que só faz mal!!! Não importa qual seja o argumento! Sempre dá para mudar. Não importa a idade, a faculdade que você fez, os anos que já investiu. Dinheiro e benefícios não são mais importantes do que o nosso bem-estar, e recomeçar SEMPRE é possível. Acredite!

É verdade que as  festas familiares colocam no mesmo espaço pessoas muito diferentes e, vamos ser sinceros, não dá para ser íntimo ou gostar de tudo mundo do mesmo jeito. É natural, filho. Mas eu percebi que as perguntas sem noção da parentada só incomodam quando EU estou incomodada com aquele aspecto da minha vida, quando eu não gosto da resposta. E que a obrigação de ser educada e gentil com as pessoas (até com quem não merece) não me obriga a responder questões delicadas ou dividir minha intimidade com quem eu não sou íntima. Dá para fazer uma piada evasiva, rebater a pergunta com outra (as pessoas adoram falar de si) e até dar uma desculpa para uma saída estratégica. Ou responder o mínimo necessário sem entrar em detalhes. O legal é que junto desse parente chato sempre tem aquele que você adora, com quem não convive tanto quanto gostaria, de quem você sente saudades, aquele que não vê há muito tempo. Passar a noite conversando com ele pode ser maravilhoso (e vocês ainda podem combinar sinais secretos para um "resgatar" o outro das roubadas - é bem divertido). 

Sim, às vezes o Natal se resume a gastar rios de dinheiro em presentes que você não gostaria de comprar, para pessoas que você não gostaria de presentear. Mas isso também é uma escolha, filho. Você não é obrigado a dar nada para ninguém. "Ah, mas fica chato." Para quem? Melhor chato para eles do que para gente, né? Mas deixa eu contar para você outra coisa, filho. Dar presentes também pode ser tão legal! Quando não existe a obrigação, o presente se transforma num gesto de carinho, algo para demostrar que aquela pessoa é querida para você, importante na sua vida. Pensar na personalidade dela, nos gostos, no que está acontecendo na sua vida, no que pode agradar e, depois, ver o sorriso dela ao abrir ao pacote é tão gostoso!!! Sim, pode não dar certo, mas você também não é obrigado a acertar, filho. Olha que legal! Troca existe para isso. O importante é que você realmente tentou e comprou com carinho. E quando o objetivo é a lembrança, o carinho, não há impacto no orçamento, filho. Um bombom, um cartão ou mesmo uma simples mensagem já é o suficiente para fazer esse trabalho com maestria. O gasto é detalhe, filho. Você não é obrigado a fazer dívidas ou comprar coisas caras. Quando entendemos isso, dar presentes vira uma alegria, não um peso, um estresse, uma obrigação.

A chave para um Natal feliz, filho, é o que o aniversariante nos ensinou: amar o próximo como a nós mesmos. Ênfase em "nós mesmos". Ou seja, temos que nos amar, nos conhecer, nos respeitar, saber o que nos faz bem e nos dar a nossa felicidade de presente. Não é ignorar ou maltratar o outro, mas lembrar também de nós. Não somos obrigados a engolir o que nos faz mal. Não somos obrigados a tolerar o estresse e as convenções sociais. Ser gentil, sim. Perdoar 70 vezes 7 a ignorância alheia ("eles não sabem o que fazem"), claro! Mas isso não significa nos deixar de lado, em último lugar. Quando estamos bem, filho, felizes, queremos distribuir essa alegria. A pergunta sem noção da parentada intrometida provoca risada, não irritação. Os presentes se tornam gestos de carinho e não apelo comercial. As festas de fim de ano viram realmente festa, celebração.

"Como a nós mesmos", filho. Ninguém é obrigado a ser infeliz. A nossa vida é feita de escolhas. E aprender a escolher o que nos faz bem e parar de fazer as coisas por obrigação transforma todas as noites em "noite feliz". 

Feliz natal, meu filho!


Vitória, 24 de dezembro de 2015 - 6 meses e 26 dias

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