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Sei que é drama, mas é sincero |
Sim, é isso mesmo que você leu, meu filho. Tudo se resume àquela história de não ser nem 8 nem 80, de não avaliar a realidade do outro a partir da sua. Eu explico. Eu já tinha lido e conversado um bocado sobre o pós-parto e sabia que não seria fácil. Queria tempo exclusivo para a gente se conhecer melhor e passar por essa adaptação da melhor maneira possível. Disse em alto e bom som que não queria visita no primeiro mês, exceto daquelas pessoas tão íntimas que eu ficaria à vontade de pijama e descabelada, como a família e alguns poucos amigos. Para os mais próximos, recomendei irem à maternidade (isso é polêmico, filho, mas queria que algumas pessoas conhecessem você logo nos primeiros dias e achei mais fácil quando você ainda dormia muito e eu tinha ajuda das enfermeiras). Às poucas pessoas que perguntaram se podiam ir conhecer você neste período, pedi gentilmente que esperassem um pouco mais. Até aqui, tudo bem. Mil maravilhas. Mas tanto respeito e distância começou a me incomodar. E muito.
Como combinado ainda na gravidez, coloquei na internet quando me senti preparada para receber visitas. Isso aconteceu quando você tinha cerca de um mês de vida. Você já fazia um intervalo maior entre as mamadas da noite, eu já me sentia mais segura e menos exausta, a amamentação estava mais tranquila e eu já não tinha mais a presença constante das avós. Não podia sair muito de casa porque ainda estava de resguardo e porque você ainda não havia tomado todas as vacinas. Eu me sentia sozinha, filho, muito sozinha. Às vezes a casa parecia uma prisão. Os dias eram longos, você interagia pouco e eu implorava companhia. Para ser sincera, às vezes eu ainda me sinto um pouco assim hoje. Agora posso colocar você no carrinho, passear pelo bairro, caminhar na praia, resolver algumas coisas. Não me sinto presa, mas não é o mesmo que ter um adulto para conversar. Mas naqueles primeiros dois meses, eu passava até quatro dias sem sair de casa, sem ver outro adulto que não fosse o seu pai (e ele ainda tinha compromissos à noite e nos fins de semana). Entendi que as pessoas têm experiências diferentes e que se eu quisesse ser entendida nas minhas necessidades precisaria dizer com todas as letras como eu me sentia. Então, eu disse. Pedi nas redes sociais que viessem me visitar. Mandei mensagens particulares, fiz convites, implorei visita e companhia. Alguns amigos vieram. Poucos. A maioria, não. Disseram que queriam respeitar esse momento, que sabiam o quanto eram tumultuados os primeiros meses e muitas amigas disseram que, depois do perrengue que passaram com as visitas sem noção no pós-parto delas, juraram nunca visitar outra mãe neste período. Tentei explicar que eu era outra pessoa, não elas, que eu queria e precisava de companhia, que você estava dormindo melhor e eu já não precisava dormir sempre que você dormia. Não teve jeito. Eu não conseguia convencer meus amigos que o convite não era por educação.
E quando alguém finalmente vinha, a alegria durava tão pouco! Conscientes e respeitosos, meus amigos faziam questão de uma visita rápida. NÃO!!!!!! Fica mais, por favor!!!! Por que ninguém me ouvia? Eu nunca fui de "fazer a fina", de pedir para alguém ficar quando queria que fosse embora. Sempre fui criticada por ser "sincera demais", "curta e grossa". Por que agora não acreditavam que eu estava sendo sincera? Que eu pedia para ficarem porque precisava da companhia e não apenas por educação? Pior ainda era quando você queria mamar durante a visita. Para muitos, sinal claro de que a visita TINHA QUE terminar. Os poucos que eu convencia de não ir embora me deixavam sozinha com você no quarto para "nos dar tranquilidade" e ficavam na sala conversando animadamente com seu pai. Filho, eu tinha vontade de chorar! Queria gritar: "ele conversou com um monte de gente o dia inteiro no trabalho e na rua, EU NÃO VI NINGUÉM O DIA TODO!!! CONVERSA COMIGO!" Eu me controlava, para não parecer uma doida. Tentava brincar e falar tudo isso de uma maneira que soasse menos carente, rs. Mas acho que errei nesse sentido. Deveria ter dado uma de louca mesmo, gritado, chorado. Talvez assim alguém teria me levado a sério e me dado atenção.
O tempo foi passando. E as visitas raras. Toda hora alguém escrevia nas redes sociais "quero conhecer o André" ou "estou devendo uma visita, né?" ou "estou doido para ver vocês". E eu sempre respondia: VENHA!!!! E nada. Pior: houve quem marcasse de vir e simplesmente não aparecesse - sem nem explicar depois o porquê!!!! E eu deixei de tomar café da manhã aquele dia para ficar pronta para a visita... Veio o dia em que minha licença-maternidade acabou. E todos aqueles colegas que passaram 9 meses falando o quanto estavam doidos para conhecer você... não vieram. Fizemos como lembrancinhas uns chocolates que tinham validade de 6 meses. Cheguei a brigar com seu pai porque achava que tínhamos feito poucas unidades, que não dava nem para a metade das pessoas que prometiam visitar você. Esta semana, eles estragaram. Foram para o lixo!! Cobertos de mofo e de mágoa.
Sim, filho, a verdade é que estou muito magoada e não vou disfarçar isso. Sou uma pessoa de bando, preciso da presença dos amigos, gosto de estar rodeada de gente (por isso acho que jamais me adaptaria a trabalhar em casa). Confesso que comecei, de verdade, a questionar algumas amizades. Fiquei chateada porque eu não exigi que ninguém lesse pensamento, eu pedi a presença dessas pessoas em nossas vidas. Com todas as letras. Várias vezes. Fiquei triste porque estamos numa sociedade em que as pessoas não ouvem umas às outras, porque as pessoas determinam o que é bom ou certo apenas a partir da própria perspectiva. Fiquei, sim, chateada porque usaram o respeito a esse momento que, sim, pode ser muito complicado, como desculpa. Mas elas me abandonaram. É assim que eu me sinto. Dizem que queriam me respeitar, mas me deixaram sozinha quando eu mais precisava. Ou seja, não respeitaram a MINHA natureza, que precisa de companhia para se sentir bem.
Mas, vida que segue. Sinto que a partir de agora estou podendo retornar, aos poucos, à minha vida e não vou mais me sentir tão isolada. Confesso que fico com vontade de dizer para quem quiser me visitar daqui para frente que, agora, "não obrigada, não preciso mais". Mas seria mesquinho e infantil da minha parte. Tudo o que eu queria é sacudir essas pessoas pelos ombros e dizer: "eu não sou você, me trate como eu preciso e não como você acha que eu preciso. Eu estou aqui dizendo com todas as letras quais são as minhas necessidades, não precisa adivinhar!" Por mais dramático ou exagerado que seja, a verdade é que a maneira como meus amigos me trataram no meu pós-parto mudou a minha forma de ver cada um deles. Eu já sabia que isso iria acontecer. Já tinham me avisado que muitas amizades acabam ou mudam com a chegada de um bebê. Faz parte da vida, bola para frente. Muitas outras ficaram mais fortes e é fácil perceber isso. Mas, mesmo assim, é triste ver isso acontecer...
Vitória, 25 de outubro de 2015 - 4 meses e 26 dias
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