domingo, 14 de fevereiro de 2016

Sobre ser mãe em tempo integral

Postado por Mãe do André às 10:09
Será que você deixa a mamãe contar uma coisa para você agora, enquanto você come esse pé gostoso? É que estamos às vésperas de você completar 5 meses e eu quero falar sobre o prazer de ser mãe! Nas vezes que eu conversei com você, filho, sobre sair do trabalho, eu sempre fiz questão de dizer que não era só por sua causa, que eu não tinha vocação para ser mãe (muito menos dona de casa) em tempo integral, não é mesmo? Dizia que estava saindo do trabalho porque não estava tão satisfeita assim e também por causa da nossa amamentação exclusiva de 6 meses, que é uma meta muuuito importante para a mamãe. Quero muito, muito, muito que você mame só o meu leitinho até os seis meses. E seria bem mais complicado atingir esse objetivo tendo uma licença maternidade de apenas 4 meses, sendo que precisei sair de licença algumas semanas antes de você nascer. Então eu saí, sim, do trabalho, sem culpa. Mas a meta era muito simples: seis meses de dedicação exclusiva a você (até o fim do ano) e, em 2016, até no máximo (no máximo!) maio, quando você completa um aninho, mamãe voltaria trabalhar. Sabe o que é engraçado, filho? Eu achei que esse período seria uma espécie de "sacrifício" que a mamãe teria que fazer. Um esforço, algo pesado. E sabe que não foi??? Sabe que mamãe se pegou até pensando se vale realmente a pena voltar a trabalhar com você tão pequenininho?

É... é incrível, filho. A maternidade está mexendo comigo. E eu estou descobrindo o prazer de ser mãe. É difícil falar sobre isso, sabe? A gente está numa sociedade que coloca sobre a maternidade um peso muito grande. Primeiro, ela é vista como algo muito difícil de ser feito, um verdadeiro martírio: "você nunca mais vai dormir", "você nunca mais vai ter sossego", "você nunca mais vai poder viajar na hora que você quiser".... É um terrorismo, filho! "Seu peito vai cair", "sua barriga vai crescer e nunca mais voltar ao lugar", "seu pé vai crescer e nunca vai caber nos seus sapatos", "você vai acordar de hora em hora", "você vai comer só comida fria", "você não vai mais tomar banho direito". Nossa!!! É tanta coisa ruim que falam!!! Sua avó, inclusive, defende que filho só fica gostoso depois que completa QUATRO ANOS DE IDADE! QUATRO, filho! Porque ela diz que com essa idade a criança já tem noção do perigo e os pais não precisam mais ficar correndo o tempo todo atrás dela (a tal "marcação homem a homem"). Além disso ela passa a ter alguma independência, dando aos pais uma vida um pouco mais sossegada. Então, é óbvio que eu achava que ser mãe poderia ser muito ruim. Que depois iria ficar gostoso, mas que esse início era um parte muito ruim. É isso que o que todo mundo fala! Uma hora fica bom, mas o início é "horroroso".

Além disso, eu sempre disse que não tinha vocação para ser dona de casa e mãe em tempo integral. E de certa forma, filho, isso é verdade. Sabe por quê? Porque mamãe tem necessidade de ter contato com pessoas. Mamãe é faladeira, adora conversar. É o mesmo motivo pelo qual eu acho que seria muito difícil para mim trabalhar em "home office", em casa. Eu não teria colegas de trabalho, não ia sair na rua. Acho que seria infeliz. Tudo isso é verdade. E vamos deixar bem claro, não é porque eu acho que as mães em tempo integral sejam "à toa" (sim, já ouvi isso por aí) ou porque têm a vida fácil. Ao contrário. Acho que ser mãe em tempo integral é uma profissão muito mais difícil e cansativa do que ficar o dia inteiro no escritório. Mas acho que tem uma questão de orgulho da nossa sociedade, sabe, filho? Deixa eu contar uma coisa para você. Houve um tempo, antes de você nascer, em que a mulher era OBRIGADA a ficar em casa. Obrigada a casar, a ter filhos e a se dedicar exclusivamente a eles. E até hoje é dito o seguinte sobre esse período: "a mulher era obrigada a não ter vida", como se ficar dentro de casa e com os filhos não fosse vida. "A mulher não tinha independência", porque dependia financeiramente do marido. E tudo isso era um pouquinho verdade, sim. Era verdade porque não era uma escolha como é hoje. Então, filho, quando a mamãe decidiu ir por esse caminho, era como se a mamãe estivesse, por um lado, desistindo da própria vida. E é assim que muita gente encara: eu abri mão da minha vida neste período por você. E eu comecei essa jornada me sentindo um pouco assim. E tem também uma questão de orgulho, sabe? Eu tenho dois diplomas universitários, eu tenho uma carreira sólida e, de repente, eu abriria mão de tudo isso para ser "sustentada pelo marido". Mexe com o orgulho, sim. Eu, que sempre tive meu próprio dinheirinho desde os 14 anos de idade, porque eu sempre trabalhei desde essa idade, de repente ser sustentada pelo marido não é nada legal. 

Pois bem, mesmo assim, mamãe e papai colocaram tudo numa balança, pesaram, mediram, avaliaram, analisaram e chegaram a conclusão que, pelo menos até o fim do ano, pelo menos até conquistar essa meta dos seis meses de aleitamento exclusivo, era legal a mamãe ficar em casa. E isso foi uma coisa que eu quis, meu filho. Seu pai nunca me pediu isso. Tenho certeza que se eu quisesse voltar a trabalhar depois dos 4 meses, seu pai iria me apoiar. Mas eu falo que foi uma decisão do casal. Sabe por quê? Porque eu também não acho que, em pleno 2015, seja tão fácil assim você ter a responsabilidade de sustentar uma casa sozinho. Então para mim era importante que seu pai topasse. E ele topou.

Mas sabe o que eu descobri, filho? Que, sim, ter você, essa coisinha pequetitinha aqui, nos meus braços, é difícil. Muita vezes, é a coisa mais difícil que eu já fiz. Muitas vezes é solitário. MAS É VIDA, SIM! É GOSTOSO! PODE SER UMA DELÍCIA! Não é tudo isso que as pessoas falam. Eu percebi, filho, que gosto de ser mãe. Que eu gosto de me dedicar a você. Vou ser sincera. Tem dias que eu fico de saco cheio, que tudo o que eu queria era largar você com alguém, largar meu peito com alguém, e passar o dia inteiro fora, fazendo o que eu quiser. Por exemplo, eu ainda não consegui voltar a fazer exercícios físicos. E hoje eu sou uma pessoa que sente falta de exercícios físicos!!!! Acredita? A vida com um bebê não é um mar de rosas. Mas também não é apenas suor e lágrimas! Pensa aqui comigo, filho. Muita coisa na vida exige um pouco de sacrifício. Quase todas as coisas boas da vida exigem um preço, uma certa dose de dedicação. Ser mãe é assim. Ah, mas é tão gostoso!!! É tão gostoso ver que a cada semana você consegue fazer algo que não conseguia fazer na semana passada. É muito bonitinho ver seu desenvolvimento a cada dia. É muito gostoso. Sabe, filho, aconteceu uma coisa incrível: eu estou gostando até de cuidar da casa! Não, não tenho vontade de ser dona de casa em tempo integral e nem acho prazeroso lavar uma louça ou arrumar uma bagunça. Não é isso. Mas, pela primeira vez na vida, eu estou gostando de ver nossa casa arrumada e estou disposta a pagar o preço por isso. Por você! Eu quero que você tenha um ambiente arrumado, limpo. Eu quero fazer isso. Não gosto, mas eu quero fazer. E me dá uma satisfação enorme quando eu faço. Eu quero ser mãe. Está uma delícia ser mãe. E eu sei que esse momento passa rápido. Eu sei que ter você assim, bebezinho, comendo o pé, brincando comigo, vai durar pouquíssimo tempo. E quando fico pensando nas dificuldades que as pessoas vivem falando, nos "conselhos" tipo "não dê colo que ele vai ficar mal-costumado", "não dê muito peito ou você vira refém em uma prisão", eu acho tudo uma grande bobagem, um enorme exagero de quem não soube aproveitar os bons momentos. Pode até ser uma prisão, mas é uma prisão temporária, né? E é tão gostoso. É muito gostoso!

Mamãe quer aproveitar cada segundo com você, filho. E sabe quando eu percebi isso? Quando eu ainda estava de licença-maternidade e apareceram novas oportunidades de trabalho. Trabalhos que eu sempre quis fazer. Que iriam me dar uma satisfação enorme. Eu confesso, até tentei me organizar para, com você pequenininho, pegar alguma dessas oportunidades. Mas não dava, realmente não dava. E sabe o que eu percebi? Que mesmo com esses trabalhos, que pareciam ser dos sonhos, trabalhos que eu sempre quis e que pareciam uma oportunidade de ouro, eu percebi que tinha um pedacinho dentro de mim que queria que eles não dessem certo. Não agora. Não é incrível isso, meu filho? Como uma pessoa pode mudar tanto? Pois mamãe mudou. Eu descobri que eu gosto muito de estar aqui, presente, com você. Que eu quero muito estar aqui com você. Eu descobri que, apesar de todo o terrorismo, de todos os pontos negativos tão ressaltados, apontados e noticiados em todas as línguas, mamãe gosta de ser mãe. Sim, existem pontos negativos, momentos muito difíceis, sim. Mas o que são eles? O que são seis meses ou um ano de dedicação exclusiva perto dos benefícios que vamos ter para o resto de nossas vidas? Eu decidi ter filhos, eu decidi pagar esse preço.

Ah! E ninguém, ninguém, me falou das recompensas. Só falaram que no final valia a pena, compensava. Mas eu acho que é mais do que isso. Que não compensa só no final, não. Acho que  compensa agora, no começo, no meio. Já é compensador. E eu me dei conta que aquela ânsia de voltar a ser logo uma profissional não existe mais. Que o tal "sacrifício" de ser mãe não é tão sacrificante assim. Que é possível gostar MUITO dessa fase. Muito mesmo! E eu me dei conta de que se você larga de lado o orgulho e pressão social de ser sustentada pelo marido, de ter aberto mão de uma profissão, se você não se importa mais com o julgamento das pessoas ("o que vão pensar de mim porque sou mãe em tempo integral?") ou com aquele papo de "eu não deveria querer ser mãe porque sou uma mulher moderna do século XXI", se eu jogar tudo isso pela janela e analisar dentro do meu coração como eu estou me sentindo, eu percebo que eu faria tudo de novo. Que vale a pena. Que eu descobri que ser mãe pode ser um prazer enorme. E olha que esta semana você estava um "entojo", como diz seu avô,  resmungando incomodado por alguma coisa que eu não soube identificar até agora o que era. Você passou alguns dias resmungando 24 horas, tudo estava ruim, não importava o que eu fizesse. E, muitas vezes, eu passei boa parte do dia com vontade de jogar você na parede, rs. Nas duas últimas semanas, você que sempre dormiu bem à noite tem acordado direto de madrugada, me deixando muito cansada. Foi assim, inclusive, nos dias que seu pai ficou doente, de cama, o que foi muito difícil. E mesmo assim (MES-MO ASSIM!) ainda acho que aprendi a curtir os momentos. 

Tem dificuldades? Tem. Mas eu estou cansada de uma sociedade que só ressalta as dificuldades! Eu quero te amar, filho. Eu quero curtir cada momentinho seu. Eu quero curtir até as dificuldades porque elas fazem parte. E sabe o que aprendi sobre essa fase de bebê? Que tudo passa. Passa rápido demais. E eu não vou ver tudo passar pela janela ou, pior, me dar conta lá na frente que tudo já passou e eu fiquei esse tempo o tempo me lamentando, reclamando e esperando pelo "futuro melhor", pela fase "mais fácil". Ah, meu filho. O futuro pode ser melhor, sim, mas isso não faz do presente ruim. Não faz mesmo. Mamãe descobriu o prazer de ser mãe. É! O prazer desses risinhos, dessas descobertas, dessas mãozinhas que abrem e fecham, desses olhinhos que se iluminam ao me ver. Ainda tenho vontade de jogar você pela janela de vez em quando, mas na maioria das vezes, a vontade é de apertar, amassar, abraçar e não soltar nunca mais. Então eu não vou mais fazer planos. Eu vou é curtir. E só vou voltar a trabalhar quando meu coração estiver feliz e satisfeito com essa ideia. E não para obedecer um prazo que as pessoas acham que é certo. Muito provavelmente vai ser no ano que vem, sim, como mamãe planejou. Muito provavelmente esse tempo exclusivo a você não vai ser muito longo. Mas vai ser um tempo curtido e aproveitado em cada segundo. 

Obrigada meu filho. Obrigada por desfazer preconceitos dentro de mim. Obrigada por me mostrar outros caminhos, outras oportunidades. Obrigada por fazer eu me conhecer melhor. Obrigada, André, por ter feito eu abrir mão de ideias pré-concebidas e por me fazer desistir de tentar sentir o que eu achava que as pessoas esperavam de mim. Por ter simplesmente permitido que eu me conectasse com minhas reais necessidades, sentimentos e sensações. Obrigada, filho. Obrigada por me deixar ser sua mãe. Te amo, lindeza!

Vitória, 27 de outubro de 2015- 4 meses e 28 dias

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