sábado, 5 de dezembro de 2015

Dia de vacina

Postado por Mãe do André às 22:26
Pensa em uma tortura na vida de uma mãe. É o dia de vacinar você, filho. Sabe, filho, eu sei que a agulhada é em você. É você que tem as reações. Mas, às vezes, eu tenho certeza que a vacina dói mais em mim! Sério! Eu ainda não me conformo que pleno século XXI a gente ainda não tenha criado uma alternativa para tantas agulhadas doloridas e efeitos colaterais. 

Sei que ter uma vacina, por si só, é um super-avanço científico. Mas acho que quem as desenvolve nunca deve ter vacinado um bebê. Porque se esses cientistas tivessem passado um único dia lidando com os chorinhos sofridos, a febre e as compressas de um dia de vacina, eles teriam chegado a conclusão óbvia de que o trabalho não estava completo enquanto não encontrassem alternativas para tanto sofrimento. 

Você vai sofrer por, talvez, 24 horas. E nunca mais vai se lembrar desse dia. A minha tortura é prolongada. Começa uns 10 dias antes: "ai meu Deus, está chegando o dia da vacina". Então começa uma contagem regressiva do terror, como se eu estivesse me preparando para levar você à forca. Fico tentando avaliar todas as possíveis variáveis, escolhendo o melhor dia e horário, analisando pequenos detalhes que poderiam, talvez, minimizar um pouco o seu sofrimento (um dia que você possa ficar em casa quietinho, que tenha dormido bem à noite, que eu esteja bem para dar a você toda a atenção possível, um horário que seu pai possa ir junto, etc.). Coisas que dificilmente farão muita diferença. Mas eu tento. E perco horas nesse planejamento ineficiente.


No dia anterior, o coração acelera cada vez que penso no assunto. E sabe o que é pior? À medida que a gente foi se conectando mais, que você foi me ensinado seus sinais e que eu fui conhecendo você melhor, o dia da vacina foi ficando mais sofrido. Hoje tive vontade de chorar antes mesmo de chegar ao posto de saúde. Chegava a pensar que eu era uma mãe horrível porque enquanto outros bebês ganhavam bolo, festa e fotos especiais para comemorar seus "mesversários", eu dava dor de presente! Cheguei ao cúmulo de me pegar pensando: "por favor, não me odeie, meu filho!"

É drama, eu sei. Mas mães são seres dramáticos. Um exagero, seu sei, mas a gente sente assim, exageradamente, mesmo com o nosso raciocínio dizendo que não precisa tanto. Dói, filho. Dói ver você soluçar de tanto chorar, seus olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Dói ter você gemendo nos intervalos dos choros, amuadinho no meu colo em vez de esperto e risonho como de costume. Corta o coração ver você febril, tristinho, sem querer brincar nem mesmo mexer a perninha. Alguma coisa se despedaça dentro do meu peito. E vira sofrimento acumulado para o próximo mês. Porque você não vai se lembrar, mas eu vou. De cada detalhe. E eles vão ecoar dentro de mim quando começar a contagem regressiva do mês que vem. 

Definitivamente, isso não é jeito de comemorar mais um mês de vida. Definitivamente, tinha que haver outro jeito. Mas enquanto não tem, eu faço o que tem que ser feito (quer dizer, quase tudo, porque segurar sua perninha para a agulhada ainda é tarefa do seu pai, rs). Desculpa se a humanidade ainda não evoluiu tanto, filho. E desculpa se a mamãe ainda não evoluiu para se manter calma e passar tranquilidade a você neste momento. As agulhadas são importantes e é só porque eu tenho por você um amor imenso é que não vou abrir mão de nenhuma delas. Mesmo que eu tenha que chorar junto 24 horas por dia, pelo menso uma vez ao mês.


Vitória, 29 de setembro de 2015 - 4 meses

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