domingo, 4 de outubro de 2015

Dois meses e o fim da solidão

Postado por Mãe do André às 04:00
Essa é uma carta para registrar seu segundo mesversário e tudo o que veio com ele. Algumas mães fazem bolo e cantam parabéns. Outras fazem festinhas que parecem coisa de profissional. E há aquelas que fazem books fotográficos. Eu faço o que sei, filho: escrevo.



É engraçado como esse mês passou bem mais rápido do que o primeiro. E foi cheio de altos bem mais altos e baixos bem mais rasteiros. Comecei o mês feliz porque aquela exaustão inicial havia passado. Você esticou o tempo entre as mamadas, passou a dormir melhor à noite, eu passei a me divertir mais com sua interação com o mundo e fiquei mais relaxada por começar a entender melhor seus sinais. Por outro lado, estava bem desgastada emocionalmente por dois motivos principais: suas cólicas, que aumentaram muito, e a solidão de ficar trancada dentro de casa.

Essa história de não poder sair com o bebê de casa é um pouco polêmica, filho. Há quem diga que é bobagem. E entre os que defendem a "reclusão" as orientações sobre o tempo e os cuidados variam muito. Então, tudo o que resta a fazer é (e isso serve para QUALQUER assunto ligado à maternidade) é escolher uma linha que agrade mais e ser fiel à ela, ignorando todo o falatório a sua volta. Eu e seu pai escolhemos uma pediatra condizente com o que acreditamos e seguimos suas orientações: dois meses sem levar você para a rua, principalmente para locais fechados e com muita gente. Liberado mesmo só casa de vó e tios. Dureza, filho. Dureza. Em alguns momentos eu achei que ia pirar!! Tenho até pena do seu pai e das poucas visitas que recebi nesse período. Eu sentia tanta falta de interagir com um ser humano que pudesse me entender e responder de volta que disparava a falar feito doida, sem parar (e olha que sua mãe já não fala pouco normalmente). Além disso, entre cólica, azia e refluxo, você teve dias muito ruins, em que chorava e exigia colo por horas e horas seguidas. Eu tentava me manter calma, pois sei o quanto isso é importante para você e o quanto minimiza o problema, mas nem sempre era possível. As costas ardiam, os braços pesavam, as pernas inchavam e a garganta secava de tanto cantar e ninar (às vezes eu não conseguia sequer beber um copo de água). Eu chegava ao limite, mas não podia jogar a toalha porque não havia ninguém para revezar comigo, pelo menos não quando o seu pai estava trabalhando. Queria comer com calma, ir ao banheiro sem pressa e escrever tudo aquilo, mas simplesmente não dava. Até médico para mim eu precisava marcar e parecia que não tinha direito a isso, já que dependia de alguém disponível para ir comigo e, mesmo assim, significava levar você para um local fechado cheio de gente doente.

Então, resolvi que alguma coisa precisava ser feita para que eu não pirasse. Eu precisava me sentir algo além de uma mãe meia-boca. Montei um plano com seu pai e colocamos em prática algumas estratégias simples, mas eficazes. EU PRECISAVA SAIR DE CASA!!

A primeira tentativa foi simples, mas parecia viagem de férias: uma simples ida à feira e à farmácia. Sério! Eu me arrumei, dei de mamar para você e corri para a rua enquanto seu pai assumia o posto. Ah! Ver gente! Passear entre as barracas coloridas e perfumadas (eu adoro uma feira), poder escolher eu mesma o produto que eu quero, do meu jeitinho (seu pai é muito eficiente e solícito, filho, mas é seu pai, não eu). Foi tão bom sentir finalmente o sol e o calor desse inverno que todo mundo estava reclamando (nossa casa é muito fria e eu vivo de meia e casaco). Foi só 1 horinha, filho, mas recarreguei as baterias. Percebi que já deveria ter feito isso há muito tempo e que a minha sanidade mental exigia que isso fosse feito mais vezes. Passei a ir ao supermercado no lugar do seu pai (me arrumava, dava de mamar e corria para a loja). Fui à loja de bebê aqui do lado de casa comprar coisinhas que faltavam. Voltei à feira na semana seguinte. 

Então, finalmente, seu pai saiu de férias! E eu tive férias junto! Definitivamente, filho, cuidar de um bebê não é tarefa para uma pessoa só. Como fica TÃO mais fácil em dupla! Pude dormir um pouquinho de dia, comer melhor e com mais calma, lavar o cabelo de verdade mais do que uma vez na semana. E até caminhar na praia um dia eu fui. Também nos demos o direito de levar você a uma pequena (mas animadíssima) festa junina - e até dançar quadrilha eu dancei! Ri e me diverti muito. E você foi um lindão, se comportou muito bem. Foram só duas horinhas, mas foi renovador! 

Foi tudo dando tão certo que resolvemos avançar o nível do jogo: congelei leite para tentar passar mais de 1h30 longe de você. A primeira tentativa foi arriscada, mas saiu melhor do que encomenda. Sua tia ficou com você e eu e seu pai fomos ao cinema! Um dos meus programas preferidos! Confesso que conferi o celular algumas vezes, afinal, não tinha ideia de quantos mililitros você mama no peito, se o que eu havia deixado seria suficiente ou se você aceitaria o esquema de "mamar" uma sonda (eu fiquei com medo de usar a mamadeira, rs). Mas você mamou o dedinho da titia maravilhosamente bem (110 ml!!!) e capotou em seguida. Não só fomos ao cinema, como ainda saímos para lanchar! Voltamos 4 horas depois, com meus peitos explodindo de leite. E você ainda dormiu a noite toda!!!! #sucessototal já diria sua tia Nathalia.

No dia em que você completou dois meses, saí sozinha novamente, deixando você com seu pai e sua avó. Seu por um lado eu estava mais confiante de que iria dar certo, por outro foi bem mais difícil. Você tinha tomado suas vacinas, estava febril e chateadinho, resmungando e querendo colo. Fiquei com o coração na mão, me sentindo a pior mãe do mundo por abandonar você naquele momento delicado. Mas era o último dia de férias do seu pai e o leite no congelador não duraria mais dois dias - a simples ideia de jogar leite fora me doía ainda mais. Todo mundo insistiu tanto que eu fui. Brinquei feito criança naquele parque de diversão, com direito até a pipoca doce! E você, apesar de ter exigido muito colo, não chorou quase nada e não deu trabalho ao seu pai e a sua avó (eles garantiram). 

E agora a expectativa é que as coisas só melhorem. Tenho muitos planos para o mês que se inicia. O isolamento acabou. Ontem passeamos na praia e quero fazer isso hoje de novo. Amanhã vamos conhecer outros bebês e ir à reunião do DIJ! Semana que vem devo voltar à atividade física regular com você a tira-colo (achei um "pilates mamãe e bebê"). Chega de ficar em casa, chegou a hora de eu voltar à vida e apresentar o mundo a você. Temos tanto a explorar e a aprender juntos! E agora não precisamos mais esperar. Foi dada a largada! E eu não vou perder um segundo!

Vitória, 31 de julho de 2015 - 2 meses  e dois dias

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