domingo, 27 de setembro de 2015

Algumas verdades sobre o amor incondicional

Postado por Mãe do André às 07:00
Foi aos poucos que esse olhar expressivo me conquistou
Sabe, filho, todo mundo sempre fala sobre o amor incondicional que os pais têm pelos filhos. Sobre como uma mãe (ou um pai) é capaz de fazer qualquer coisa pelas crias. Sempre ouvi falar que eu me sentiria como uma adolescente apaixonada no instante em que visse você na maternidade. Que eu não conseguiria parar de olhar você, admirar seu corpinho e pensar em você. E como eu passaria horas babando você no berço e pensando como minha vida pôde ter sentido antes de você chegar e como um serzinho tão pequeno se transformou na razão da minha existência.

Posso ser sincera? Não foi bem assim, não!

É até difícil admitir, mas a verdade é que passei algumas das suas primeiras semanas de vida me perguntando onde estava esse tal amor imenso e inigualável que eu deveria estar sentindo. Eu até questionava se eu era normal e cheguei a duvidar se seria boa mãe, já que a tal "paixonite" não aparecia por aqui. Não me entenda mal, filho, eu sempre te amei muito, desde o teste de farmácia que noticiou sua presença. Ou melhor, até mesmo antes da concepção, quando comecei a conversar e a escrever para você (eu realmente preciso encontrar essa nossa primeira carta!). Amor é algo que nunca faltou a você.

Só que não era tudo aquilo que as pessoas falavam. Não parecia ser maior ou mais intenso do que eu sentia por seu pai ou pela minha família, por exemplo. Eu não tinha a menor vontade de ficar horas olhando para você - só queria dormir em toda e qualquer oportunidade, sem pensar duas vezes. Nem mesmo no parto eu me emocionei tanto quanto achei que iria, talvez pela preocupação com a cesária.  Claro que foi uma emoção fortíssima e diferente de tudo o que eu havia sentido. Mas eu achei que fosse me debulhar em lágrimas, rs, e meus olhos apenas ficaram marejados. Era estranho. Seu pai olhava para você e chorava. Visitas choravam de emoção ao conhecer você. E eu não sentia nada daquilo. Cheguei a ficar preocupada e assustada: que tipo de mãe eu era se todo mundo parecia mais emocionado com você do que eu mesma???

Mas, então, aconteceu. Aos poucos e sorrateiramente. Os dias foram passando e ficando mais fáceis (apesar de eu saber que fácil mesmo nunca vai ser, rs). Você foi dormindo melhor à noite e a exaustão foi sendo substituída por um cansaço mais fácil de administrar. A amamentação foi ficando cada vez menos exigente e deixou de ser um momento de tensão e caos. Nós começamos a nos conhecer e a nos comunicar melhor (nem sempre eu sei por que você está chorando, mas já consigo ter alguma ideia das possibilidades, já sei identificar alguns sinais e já criamos alguma rotina). Você foi perdendo aquele aspecto mais frágil e assustador, seu crescimento e ganho de peso foram me dando a confiança de que eu estava no caminho certo e fui perdendo alguns medos, como o de dar banho em você.

E, na semana em que você completou um mês, você sorriu!! Não aquele risinho tímido que os médicos garantem ser reflexo, mas um sorrisão aberto daqueles que parecem emoticons. Seus olhões sempre abertos passaram a fazer contato visual e nós começamos a nos olhar longamente. Você passou a prestar atenção em mim, a girar a cabeça em busca da minha voz, a rir quando eu converso ou brinco tocando seu nariz de modo barulhento. Nessa troca de olhares, começamos a namorar. De repente, começamos a conversar, a nos conectar. Você passou a esfregar os pesinhos no meu braço durante as mamadas, a segurar meus dedos, a passar a mão no meu peito. Foi ao poucos, sem que eu percebesse. E, quando dei por mim, estava ali, horas olhando você, admirando você, conversando com você... apaixonada! Pensando em como pude fazer uma coisinha tão bem feitinha, tão linda.

Ufa! Eu sou normal, rs. Não sou uma pessoa insensível e fria, incapaz de se conectar profundamente com o próprio filho. Eu era apenas uma mãe exausta, preocupada e ansiosa, que levou algumas semanas para relaxar. Era só o que faltava: relaxar! E foi só quando eu respirei fundo pela primeira vez, jogando para fora toda a tensão dos primeiros dias, é que você conseguiu espaço para entrar definitivamente no meu peito e fazer dele sua morada permanente. Sei que esse processo ainda não acabou, mas hoje já existe em mim uma vontade infinita de encher você de beijos o tempo todo, sem intervalo para descanso!

Sim, eu te amo incondicionalmente, André. Estou apaixonada por essa pessoinha linda que você é e doida para conhecer o homem em que você se transformará - curtindo cada minuto dessa jornada até lá. Eu só precisei de um pouco mais de tempo. E sabe o que eu acho? Não sou a única mãe que passou por isso. Talvez eu só tenha sido um pouquinho mais corajosa em confessar isso em voz alta! :)


Vitória, 21 de julho de 2015 - 52 dias

P.S: UMA PEQUENA ATUALIZAÇÃO: Digito essa carta, filho, agora que você já tem 3 meses de idade. E sabe o que eu percebi? Que minha "paixonite" nem havia realmente começado quando escrevi esse texto. Eu ando tão boba! Eu te amo tanto, tanto, tanto!!! Eu nem acredito que Deus foi tão bom em permitir que eu tivesse uma pessoa como você nos braços, que me deu essa dádiva de conviver com você. Você está cada dia mais lindo, mais simpático, mais gostoso. Eu amo poder acompanhar seu desenvolvimento tão de perto e tenho que me controlar para não ser aquela mãe chata que só fala do próprio filho. E quando alguém fica com você por algumas horas, entre uma mamada e outra, eu sinto até saudade!!! Eu amo muito você, meu filho. Obrigada por me permitir ser sua mãe! - 31/08/15

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