domingo, 11 de outubro de 2015

O nosso blog

Postado por Mãe do André às 04:00
Bom dia, meu filho, tudo bem? Há algum tempo eu tenho pensado em como está bacana a relação da mamãe com o blog que ela criou para você, para registrar as nossas conversas. Para quem estava com tanto medo de se expor online, eu jamais imaginei me divertir e me empolgar tanto com um simples site na internet. E nem é por causa da repercussão ou pela troca com os leitores (pois raramente tenho algum retorno nesse sentido). É por minha causa mesmo! Eu explico.



O blog não está tem tempo real, filho. O final da gravidez foi bem difícil emocionalmente para a mamãe, você sabe, e as cartas acabaram se acumulando. Agora que você é um bebê, o tempo é curto e muitas vezes eu preciso priorizar a escrita e deixar um pouco de lado a atualização (é tanta coisa acontecendo que tenho medo de esquecer). Além disso, eu tinha medo de ficar muitas semanas sem conseguir escrever, afinal, você é a prioridade neste momento, e achei interessante ter alguma "gordura" para manter o site atualizado nesta "entressafra". Melhor ir devagar do que ficar muito tempo sem novidades, não é? Mas aí aconteceram duas coisas estranhas, inesperadas. 

A primeira foi a minha vontade louca de escrever desde o hospital. Qualquer minutinho parada (pegando no sono ou amamentando, por exemplo) é o suficiente para eu começar uma carta na minha cabeça. Qualquer novidade que você faça é um gatilho para eu pensar: "preciso registrar isso, preciso contar para o André". Basta um acontecimento ou um sentimento novo (e são vários a cada semana) para eu pensar: "isso daria uma carta".

Claro que é impossível colocar todas essas ideias no papel. O primeiro mês foi muito complicado e eu só queria saber de dormir em qualquer intervalo que eu tivesse - deixava até de comer. No segundo mês, a questão do sono foi ficando um pouco mais estável, mas uma fome de leão faz com que eu precise me alimentar (e muito!) o tempo todo. Os cuidados com você são intensivos, as cólicas exigiram dias inteiros com você no colo, sendo embalado pela casa sem pausas. Tentei gravar áudios, você chorava ou eu não conseguir raciocinar direito. Fiz anotações de ideia e dos pequenos marcos do nosso cotidiano que não queria esquecer. Agora tenho o desafio de tentar organizá-los em textos que fazem sentido. Mesmo assim, nesse caos, eu troquei oportunidades de sono para escrever para você  ou para mexer no blog. Ainda inventei mais sarna para me coçar, com contas no Instagram e Twitter, que eu nem sei usar direito. E apesar disso parecer loucura e aumentar ainda mais o meu cansaço e minha privação de sono, isso me dá uma satisfação enorme! Não sei explicar exatamente por quê. Talvez pelo orgulho de, pela primeira vez em muito tempo, não abandonar um projeto pela metade na primeira dificuldade. Talvez pela alegria de conseguir registrar essas memórias tão importantes. Talvez porque escrever organiza as emoções e nenhuma época da vida deixa as emoções tão bagunçadas como o pós-parto, rs.

E a segunda coisa que aconteceu, o mais legal disso tudo, o que me deixa realmente em êxtase, é perceber que todo esse esforço vale a pena. Filho, é muito engraçado. Quando eu vou digitar ou revisar uma carta da gravidez, eu me espanto com o que está escrito lá! Claro que eu sei o assunto principal de cada texto, o que eu queria registrar, mas é impressionante como os detalhes já fugiram da memória, como eu às vezes me surpreendo com as minhas escolhas de palavras. Como eu não me lembrava mais de ter escrito aquilo. Parece que estou lendo um texto de outra pessoa! E, em muitos aspectos, não deixa de ser outra pessoa. Eu percebo que realmente estou me transformando e que a Renata que escreveu algumas coisas não existe mais. Eu me emociono de novo, dou risada e fico profundamente grata àquela "velha eu" por ter me deixado como herança tantos detalhes e tantos sentimentos. É bom ver que algumas dores não doem mais e que outras ainda estão aqui mesmo eu tentando me convencer que não. É maravilhoso perceber que tantas experiências teriam se perdido se eu não tivesse feito o esforço para registrá-las. Acho que eu sou a maior leitora do meu próprio blog. Fico lendo e relendo meus textos, ora com satisfação, ora com reprovação (escrever e editar nesse nível de cansaço faz eu cometer alguns erros vergonhosos). Mesmo assim, sempre me divirto.

Por isso, cada vez mais eu quero escrever. Fico me coçando pela oportunidade de pegar o computador e o papel, mesmo que isso signifique várias tentativas frustradas, interrompidas por choro, sono e cansaço. Porque eu sei que a rotina e os sentimentos de hoje serão diferentes na semana que vem. E sei que registrá-los é eternizá-los. É me dar um presente no futuro. E chega a ser engraçado meu desespero quando não consigo escrever, porque ainda tenho muitos temas e acontecimentos esperando registro. Mas preciso entender que não dá. É humanamente impossível!

E se eu adoro ver os comentários das pessoas no blog e nas redes sociais, se eu fico toda boba ao ver novas curtidas na página do Facebook (de onde vêm aquelas pessoas que eu não conheço? rs), e se para mim é uma curtição ver que meus textos podem interessar e, melhor, agradar outras pessoas, eu percebi que, no fundo, nada disso realmente importa. Quero ter muitos leitores? Claro! Não vou mentir. Gostaria de ter comentários diários nas minhas páginas? Muito! Mas percebi que se todos eles sumissem eu continuaria a escrever. Por mim. E por você. Porque é uma delícia reviver cada nova emoção que você me proporciona. E vai ser ainda melhor se, no futuro, você quiser compartilhá-las comigo. Fico imaginando como você reagiria lendo esses textos - se é que algum dia você vai ter vontade e paciência para isso. Será que esses fatos e emoções ficarão guardados em você de maneira inconsciente? Será que essas palavras poderiam, de alguma forma, acessá-los? Não sei. Gostaria apenas que você entendesse, um dia, tudo o que a sua chegada significou para mim. E só de saber que eu sempre vou poder me lembrar desses detalhes já faz cada minuto de sono trocado pela caneta valer a pena. Obrigada, meu filho, por ser minha maior inspiração!



Vitória, 8 de agosto de 2015 - 2 meses e 10 dias

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