A
gravidez é um período estranho. Não me leve a mal, filho, é
também um período mágico, como se diz por aí. Mas não é a magia de tirar um coelho
da cartola: fofa e simples. É mais como aqueles números em que o
mágico é amarrado com correntes, colocado em um saco e jogado em um
tanque cheio de água. Você fica acompanhando ele se debater,
tentando se soltar antes de se afogar, num misto de admiração e
pânico, prendendo a respiração junto com ele. E termina o número
aliviado e impressionado de que tudo tenha dado certo. Gravidez é
tipo isso.
Muitas
coisas esquisitas acontecem com você quando se está grávida.
Estranhas, surpreendentes e nem sempre bonitas - prisão de ventre,
hemorroidas, enjoos, inchaço, azia, tonturas e estrias são apenas alguns
exemplos. E há todo um terrorismo em volta de você que se assemelha
muito à música de tensão e suspense usada pelo mágico quando ele
está amarrado no tanque d'água: você descobre pesquisas que
mostram que o que você sente, pensa, come e faz interfere no físico
e no psicológico do seu filho para o resto da vida! Oi? Você não
pode reclamar de nada do que acontece porque alguma mãe por perto
tem uma história de terror muito pior do que a sua e ela vai correr para detalhar coisas muito piores que ainda estão por vir! É
competição? Cadê as palavras de apoio, gente?
Nessas
horas, você é, ao mesmo tempo, mágico e espectador da própria
barriga. Você se debate como louca dentro do saco encharcado na
esperança de que dê tudo certo e que você faça o melhor para não
comprometer o espetáculo. Mas o que é melhor? Você lê reportagens
dizendo que deve comprar coisas como “kit berço” para proteger
seu bebê e almofadas para criar o “ninho” apertadinho que ele precisa para não sentir falta do útero. No minuto seguinte,
outra reportagem diz que o berço não pode ter NADA além do
colchão, sob o risco do seu filho morrer de sufocamento! Um diz que
suplemento vitamínico é essencial e que sem ele seu bebê não vai
se desenvolver bem. Outro alega que nada disso é necessário e que
pode até prejudicar. Alguém diz que a cadeira e a almofada de
amamentação são fundamentais e que sem elas sua vida vai ser um
inferno. Outros dizem que é dinheiro jogado no lixo... Olha o mágico
se debatendo na água e você tenso, sem respirar, acompanhando o
espetáculo. Apenas rezando para tudo acabar bem e para que o final seja realmente divertido!
Mas,
no auge da tensão, eu lembro que tudo não passa de um espetáculo de
mágica. Um truque feito há muitos anos, sempre com sucesso. A tensão
existe, mas é falsa. Tudo vai acabar bem e milhares de mágicos já
passaram por isso (e todos saíram vivos no final)! Claro, mesmo sendo um velho truque, a mágica sempre
impressiona. Você fala sozinha com a barriga no carro e percebe que
aquele que ainda nem é considerado gente em algumas culturas atende
você – seu enjoo passa magicamente naquele dia importante de
trabalho. Você vê seu corpo exigir de você, sem direito a
negociação, exatamente aquilo que seu filho precisa. A barriga
cresce, mexe, e você se dá conta de que seu bebê está ali e já
se comunica com você. Ele ainda nem existe oficialmente e vocês já
têm uma relação. E pense no que acontece com o seu corpo durante o
parto! É mágico! É estranho! É lindo! E é ASSUSTADOR!
Sempre
disse que passaria apenas por uma gravidez – e olhe lá! Mas,
confesso filho, já começo a rever meus conceitos. O mágico acaba de
fazer desaparecer alguns medos e tirar algumas novas certezas da cartola.
19 de janeiro de 2015 - 22 semanas
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3 comentários no blog:
Adorei. Vanete
Linda analogia!
O importante é que o espetáculo é garantido pelo primeiro choro, pelo aprendizado da amamentação, pelo amor que envolve a gente, o bebê e o pai.
Parabéns por esta fase que está passando e por todas que virão!
Adorei o blog!
Beijão,
Virginia.
Linda analogia!
O importante é que o espetáculo é garantido pelo primeiro choro, pelo aprendizado da amamentação, pelo amor que envolve a gente, o bebê e o pai.
Parabéns por esta fase que está passando e por todas que virão!
Adorei o blog!
Beijão,
Virginia.
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