Meu
filho, preciso registrar como já é lindo e enorme o amor do
seu pai por você. Eu sei que você já sente isso de alguma forma, mas seu pai não é
tão bom com palavras e acho que ele merece esse reconhecimento.
Sabe,
filho, eu nunca tive dúvidas de que seu pai seria um bom pai.
Primeiro e acima de tudo, porque ele é um bom homem. Seu pai é
bondoso com as pessoas e tem dificuldade de ser grosso ou sem educação
mesmo com quem merece. Segundo, porque ele se preocupa com as pessoas
ao seu redor. É atencioso até com quem ele não tem intimidade. É
incapaz de ser indiferente (salvo em algumas ocasiões de
estresse, afinal, ninguém é perfeito). Mas agora imagine com um filho! Mesmo assim, confesso, não imaginei
que seria desse jeito.
Por
uma questão biológica, seria natural que a ficha do seu pai
demorasse a cair. A barriga que está crescendo é a minha, os
primeiros sintomas da sua presença apenas eu sinto e, para ele, a
gravidez demora a ser algo concreto. Mas, filho, preciso ser sincera:
a MINHA ficha é que demorou a cair. Às vezes ainda parece surreal
que eu tenha uma vida dentro de mim. Dentro de mim!!! E eu ainda me assusto com a
barriga diante do espelho como se, às vezes, eu esquecesse que estou
grávida. Acredita? Mas o seu pai, não. Ele vibra com cada novidade
da gestação desde o primeiro momento. Ele se sentiu pai desde o
teste de farmácia. Claro que eu sei que esse sentimento será bem
diferente quando você nascer, mais concreto, mais intenso, mas é
tão lindo ver o carinho que seu pai já tem com a gente.
Ele
fala com você e acaricia a barriga desde quando você ainda nem era
notícia pública. Ele lê com carinho e paciência todos os textos,
blogs e reportagens que eu mostro a ele. Dá boa noite a você todos
os dias e, muitas vezes, se despede de você antes de ir trabalhar.
Nas duas últimas semanas, coloca insistentemente a mão na minha
barriga todos os dias – várias vezes por dia! - na esperança de já sentir você
se mexer, mesmo sabendo que ainda é meio cedo. Ele não desiste! Seu
pai tem feito de tudo para eu me sentir bem, física e
psicologicamente. Faz massagens no meu pé espontaneamente, antes
mesmo de eu pedir (e olha que peço muuuito!), abre mão do conforto
dele para que eu fique mais confortável, me lembra de beber água, garante que eu tenha comida quando preciso (uma velha reclamação minha) e suportou sem
reclamar a enorme carga extra de trabalho nos primeiros
meses, quando você me deixou indisposta. Ainda tolerou com um
autocontrole quase sobre-humano a bagunça extra que eu fiz na casa
por causa do sono excessivo, dos enjoos e do cansaço.
Sabe,
filho, ao contrário do que dizem por aí, seu pai não é perfeito e
eu sei que você sabe disso. Levou um tempo e algumas "DR's" para que
ele entendesse a importância desse apoio durante a gravidez. Mas
mesmo no auge dos meus “pitis” eu não esperava tanto. É
simplesmente linda a maneira como o seu pai está curtindo essa
gravidez e como ele mergulhou de cabeça na sua gestação. E, hoje,
quando eu estava transbordando de gratidão a esse que é, na maior e
melhor concepção da palavra, meu companheiro, eu entendi algo que
seu pai me falou ainda na Itália, há uns 4 ou 5 anos.
Você
deve se lembrar, a gente queria ter tido você antes, quando ainda
morávamos por lá. Algo despertou a paternidade no seu pai, que
enxergava uma fofurice infantil há quilômetros de distância, como
um cão farejador. Eu, com meu relógio biológico apitando e na
minha solidão, achei que isso poderia significar que sua hora havia
chegado. Mas, antes mesmo que soubéssemos da impossibilidade
financeiro/burocrática da sua vinda, eu senti uma resistência do
seu pai. Uma resistência que eu não entendia direito e que chegou
até a me ofender porque, para mim, estava claro que seu pai queria
muito ter filhos. Ele confirmou a vontade, mas disse que apenas se EU quisesse
muito ele teria filhos naquele momento. Essas duas frases juntas
pareciam grego para mim. Seu pai não estava falando coisa com coisa.
Então, ele resumiu o que sentia em apenas uma frase que eu jamais
esqueci:
-
Se a gente tiver um filho agora, durante o meu doutorado, eu não vou
ser o pai que eu gostaria de ser.
Na
hora, achei fofo. E só. E a burocracia italiana encerrou a
discussão. Mas foi hoje, só hoje meu filho, que eu realmente
entendi a dimensão dessa frase e tudo o que o seu pai queria dizer com ela. Entendi a entrega que ele quer
ter a você, à paternidade. O pai que seu pai quer ser é tudo o que
você gostaria de ter, filho! E é muito mais do que eu poderia
imaginar.
E
tudo o que eu peço a Deus é que a vida, a rotina, o estresse e os
problemas nunca nos impeçam de ser os pais que você merece ter.
Rio de janeiro, 18 de janeiro de 2015 - 22 semanas
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