segunda-feira, 13 de abril de 2015

O seu pai

Postado por Mãe do André às 10:48


Meu filho, preciso registrar como já é lindo e enorme o amor do seu pai por você. Eu sei que você já sente isso de alguma forma, mas seu pai não é tão bom com palavras e acho que ele merece esse reconhecimento.


Sabe, filho, eu nunca tive dúvidas de que seu pai seria um bom pai. Primeiro e acima de tudo, porque ele é um bom homem. Seu pai é bondoso com as pessoas e tem dificuldade de ser grosso ou sem educação mesmo com quem merece. Segundo, porque ele se preocupa com as pessoas ao seu redor. É atencioso até com quem ele não tem intimidade. É incapaz de ser indiferente (salvo em algumas ocasiões de estresse, afinal, ninguém é perfeito). Mas agora imagine com um filho! Mesmo assim, confesso, não imaginei que seria desse jeito.

Por uma questão biológica, seria natural que a ficha do seu pai demorasse a cair. A barriga que está crescendo é a minha, os primeiros sintomas da sua presença apenas eu sinto e, para ele, a gravidez demora a ser algo concreto. Mas, filho, preciso ser sincera: a MINHA ficha é que demorou a cair. Às vezes ainda parece surreal que eu tenha uma vida dentro de mim. Dentro de mim!!! E eu ainda me assusto com a barriga diante do espelho como se, às vezes, eu esquecesse que estou grávida. Acredita? Mas o seu pai, não. Ele vibra com cada novidade da gestação desde o primeiro momento. Ele se sentiu pai desde o teste de farmácia. Claro que eu sei que esse sentimento será bem diferente quando você nascer, mais concreto, mais intenso, mas é tão lindo ver o carinho que seu pai já tem com a gente.

Ele fala com você e acaricia a barriga desde quando você ainda nem era notícia pública. Ele lê com carinho e paciência todos os textos, blogs e reportagens que eu mostro a ele. Dá boa noite a você todos os dias e, muitas vezes, se despede de você antes de ir trabalhar. Nas duas últimas semanas, coloca insistentemente a mão na minha barriga todos os dias – várias vezes por dia! - na esperança de já sentir você se mexer, mesmo sabendo que ainda é meio cedo. Ele não desiste! Seu pai tem feito de tudo para eu me sentir bem, física e psicologicamente. Faz massagens no meu pé espontaneamente, antes mesmo de eu pedir (e olha que peço muuuito!), abre mão do conforto dele para que eu fique mais confortável, me lembra de beber água, garante que eu tenha comida quando preciso (uma velha reclamação minha) e suportou sem reclamar a enorme carga extra de trabalho nos primeiros meses, quando você me deixou indisposta. Ainda tolerou com um autocontrole quase sobre-humano a bagunça extra que eu fiz na casa por causa do sono excessivo, dos enjoos e do cansaço.


Sabe, filho, ao contrário do que dizem por aí, seu pai não é perfeito e eu sei que você sabe disso. Levou um tempo e algumas "DR's" para que ele entendesse a importância desse apoio durante a gravidez. Mas mesmo no auge dos meus “pitis” eu não esperava tanto. É simplesmente linda a maneira como o seu pai está curtindo essa gravidez e como ele mergulhou de cabeça na sua gestação. E, hoje, quando eu estava transbordando de gratidão a esse que é, na maior e melhor concepção da palavra, meu companheiro, eu entendi algo que seu pai me falou ainda na Itália, há uns 4 ou 5 anos.

Você deve se lembrar, a gente queria ter tido você antes, quando ainda morávamos por lá. Algo despertou a paternidade no seu pai, que enxergava uma fofurice infantil há quilômetros de distância, como um cão farejador. Eu, com meu relógio biológico apitando e na minha solidão, achei que isso poderia significar que sua hora havia chegado. Mas, antes mesmo que soubéssemos da impossibilidade financeiro/burocrática da sua vinda, eu senti uma resistência do seu pai. Uma resistência que eu não entendia direito e que chegou até a me ofender porque, para mim, estava claro que seu pai queria muito ter filhos. Ele confirmou a vontade, mas disse que apenas se EU quisesse muito ele teria filhos naquele momento. Essas duas frases juntas pareciam grego para mim. Seu pai não estava falando coisa com coisa. Então, ele resumiu o que sentia em apenas uma frase que eu jamais esqueci:

- Se a gente tiver um filho agora, durante o meu doutorado, eu não vou ser o pai que eu gostaria de ser.

Na hora, achei fofo. E só. E a burocracia italiana encerrou a discussão. Mas foi hoje, só hoje meu filho, que eu realmente entendi a dimensão dessa frase e tudo o que o seu pai queria dizer com ela. Entendi a entrega que ele quer ter a você, à paternidade. O pai que seu pai quer ser é tudo o que você gostaria de ter, filho! E é muito mais do que eu poderia imaginar.

E tudo o que eu peço a Deus é que a vida, a rotina, o estresse e os problemas nunca nos impeçam de ser os pais que você merece ter.


Rio de janeiro, 18 de janeiro de 2015 - 22 semanas

Comente pelo Facebook:


0 comentários no blog:

Postar um comentário

 

Cartas para meu filho Copyright © 2014 Design by Amandinha Layouts Amandinha Layouts