Você
chegou, filho! Finalmente está nos meus braços e eu quero registrar
esse momento enquanto os detalhes ainda estão frescos na minha
cabeça. Não, não foi como eu imaginei. Foi a maternidade mais
uma vez me ensinando que não terei mais controle sobre a vida. Eu,
que sempre defendi com unhas e dentes um parto normal e, de
preferência, natural, que me preparei e investi nisso, não só
terminei em uma cesária, como acabei fazendo uma cesária eletiva,
marcada por conta da agenda do médico. Mesmo assim, tenho certeza
que foi o melhor para nós dois dentro das condições que a gente
tinha. E eu explico o porquê.
Nossa
última consulta com o obstetra aconteceu no dia 28 de maio,
quinta-feira, quando você estava com 40 semanas e quatro dias.
Naquela semana, minha paciência com o barrigão havia chegado ao fim. Eu
estava muito inchada, tudo doía, nenhuma posição era confortável
e senti algumas sensações estranhas que poderiam indicar que nosso
tempo em um mesmo corpo estava chegando ao fim: as contrações de
treinamento se tornaram mais longas e comecei a sentir algumas
cólicas, mas nada que soasse o alarme. Na consulta, vimos que
finalmente tive alguma dilatação (2 centímetros) e que o colo do
útero começava a apagar. Bons indícios, os primeiros de toda a
gestação, mas absolutamente nada que indicasse sua vinda próxima.
Você continuava sentado, o que sentenciou de vez a necessidade de
cesária (a menos que acontecesse um parto pélvico a jato, daqueles
que a mãe já chega no hospital parindo). Mesmo assim, o médico
disse que poderíamos esperar até o limite, dia 7 de junho, quando
você completava 42 semanas. Mas... eis que veio a bomba.
Sem
graça e pedindo desculpas a cada 2 segundos, o médico disse que
havia se esquecido de me dizer uma coisa muito importante. Ele tinha
um congresso justamente nessa sua última semana possível de
gestação. Ele viajaria no sábado, dia 30 de maio, e só voltaria
no domingo, dia 7, seu prazo limite. Até aí a notícia era ruim,
mas não era uma tragédia. Eu sabia que ele tinha uma equipe
“reserva”, uma obstetra dentro da mesma linha de trabalho dele
que o substituía nesses casos e de quem eu já tinha ótimas
referências. O problema era que essa médica também iria para o tal congresso, mas viajaria apenas entre domingo a noite (dia 31) e sexta-feira (dia 5). Para esses dias, havia uma terceira opção de médico, mas
que eu não fazia ideia de quem era e que não trabalhava no hospital
onde havíamos planejado ter você (seria preciso ir para a cidade
vizinha).
Para agravar a situação, a pediatra que costuma trabalhar com os dois obstetras, que tem uma visão mais humanizada desse primeiro atendimento ao bebê, também viajaria para o congresso e provavelmente teríamos que fazer seu parto com um pediatra do plantão. Com essas informações, eu e seu pai tínhamos menos de 8 horas para tomar uma decisão: poderíamos marcar a cesária para o dia seguinte (de manhã ou de noite) ou esperar para ver se você e meu corpo dariam algum sinal de trabalho de parto naquela semana, independentemente da equipe que nos atenderia. Uma outra opção seria usar um remédio em casa para tentar induzir o parto, pelo menos para dar um aviso a você e ao meu corpo de que a hora havia chegado – e, assim, a cesariana aconteceria a qualquer momento a partir da quinta-feira à noite.
Para agravar a situação, a pediatra que costuma trabalhar com os dois obstetras, que tem uma visão mais humanizada desse primeiro atendimento ao bebê, também viajaria para o congresso e provavelmente teríamos que fazer seu parto com um pediatra do plantão. Com essas informações, eu e seu pai tínhamos menos de 8 horas para tomar uma decisão: poderíamos marcar a cesária para o dia seguinte (de manhã ou de noite) ou esperar para ver se você e meu corpo dariam algum sinal de trabalho de parto naquela semana, independentemente da equipe que nos atenderia. Uma outra opção seria usar um remédio em casa para tentar induzir o parto, pelo menos para dar um aviso a você e ao meu corpo de que a hora havia chegado – e, assim, a cesariana aconteceria a qualquer momento a partir da quinta-feira à noite.
Filho,
meu mundo desabou! Como tomar uma decisão dessas? Eu não tinha
dúvidas de que queria esperar até o último minuto para que você
me sinalizasse que estava pronto para nascer. Não queria
simplesmente arrancar você de dentro de mim. Mas quem me garantia
que isso iria acontecer? Algumas mulheres chegam a 42 semanas sem qualquer sinal de trabalho de parto! Por outro lado, o que adiantaria esperar
seus sinais e arriscar pegar um pediatra inexperiente ou, pior, uma
equipe que não nos tratasse com respeito, que nos separasse
imediatamente e/ou que não permitisse que eu tivesse você em meus
braços?
Outras
coisas também pesaram na nossa decisão. Na
semana seguinte, havia
um feriado prolongado, o
de Corpus Christi, que começava na quinta-feira. A estatística
mostra como os bebês “entram em sofrimento” sempre às vésperas
de feriado. Esperar poderia significar apenas adiar uma cirurgia
eletiva, já que sempre havia o risco de forçarem uma barra. E que
tipo de equipe estaria de plantão no feriado? Se todos os médicos
referência em parto normal estavam nesse tal congresso, poderia
assumir que era um evento importante e que a maioria dos bons médicos
estariam presentes. Eu corria o risco de ter um parto com um
residente ou médico inexperiente? Outro ponto: eu nunca me entreguei
ao terrorismo de esperar você até a 42ª semana, mas sempre soube
que esses últimos dias exigem cuidados e acompanhamento especial, de
perto – há, sim, riscos envolvidos. Quem iria fazer esse
acompanhamento nessa semana de congresso e feriados? Quão seguro
seria fazer isso com alguém que não me acompanhou ao longo da
gravidez e que não conhece meu histórico? Por fim, não importava o
quanto eu esperasse, o resultado seria mesmo uma cesária. Esperar
para ter um parto normal era uma coisa, mas se seria feita uma
cirurgia de qualquer forma, valia a pena mesmo esperar?
Nossa,
filho, foi muito difícil. Parecia que minha cabeça iria explodir
com tantas perguntas. Nenhuma opção parecia boa. Mas eu engoli o
meu orgulho e meus planos ideais e encarei a realidade: esperar
envolvia muito mais riscos – tantos de saúde quanto de mais
decepções. Resolvemos fazer a cesária no dia seguinte à noite,
dando a você o máximo de prazo que poderíamos. O médico nos
incentivou a usar o remédio para induzir o parto. Ele acreditava que,
mesmo indo para a cirurgia, se eu entrasse em trabalho de parto seria
muito positivo para mim e para você, para a nossa recuperação.
Decidimos iniciar o remédio na manhã seguinte. Se o trabalho de
parto engrenasse, você poderia nascer antes, a qualquer momento daquele dia.
Aproveitei uma das poucas vantagens de saber quando você nasceria: terminar de organizar a vida. Fui à psicóloga de manhã cedo, conferi as malas da maternidade, programei postagens no seu blog, respondi e-mails. Conversei muito com você. Comecei a sentir cólicas e percebi as contrações de treinamento mais frequentes, mas nada de trabalho de parto. A tarde, novo remédio. As mesmas cólicas, as mesmas contrações de treinamento prolongadas. Nenhuma dor, nenhum sinal significativo. Mas, de alguma forma, eu sentia que você tinha entendido o recado, que a hora estava chegando. O meu corpo dava sinais de trabalho de parto, mas tudo ainda na fase latente – que eu sabia que poderia durar dias, dias que a gente não tinha.
Aproveitei uma das poucas vantagens de saber quando você nasceria: terminar de organizar a vida. Fui à psicóloga de manhã cedo, conferi as malas da maternidade, programei postagens no seu blog, respondi e-mails. Conversei muito com você. Comecei a sentir cólicas e percebi as contrações de treinamento mais frequentes, mas nada de trabalho de parto. A tarde, novo remédio. As mesmas cólicas, as mesmas contrações de treinamento prolongadas. Nenhuma dor, nenhum sinal significativo. Mas, de alguma forma, eu sentia que você tinha entendido o recado, que a hora estava chegando. O meu corpo dava sinais de trabalho de parto, mas tudo ainda na fase latente – que eu sabia que poderia durar dias, dias que a gente não tinha.
Às
17h30, entramos em contato com o médico mais uma vez explicando a
situação. Não tinha jeito, era hora de ir para a maternidade. Seu
pai, filho, entrou em parafuso. Começou a correr de um lado para o
outro para colocar as coisas no carro, em poucos minutos estava até
suado, rs. E não adiantou eu dizer que não precisava pressa ou
pedir para ele respirar fundo. Foi tão bonitinho! Imagina se eu estivesse em trabalho de parto! Eu decidi que o
fato das coisas não saírem como o planejado não iria ofuscar esse
dia. Você estava chegando, esse era uma momento de felicidade e era
nisso que eu iria me focar. O “como” era detalhe. O importante
era me concentrar em você naquela hora. Antes de entrar no carro, já
com tudo no porta-malas, eu e seu pai nos beijamos e paramos um
minuto para respirar. “É agora. Nosso filho vai nascer!” E
partimos para o hospital, pegando algum trânsito, por causa do
horário.
Ao
chegar à maternidade, começou a parte mais confusa e chata, mas que,
de certa forma, diz até muito bem sobre a política do hospital. Eles estão tão
acostumados a fazer partos normais, filho, que eles não sabiam o que
fazer com a minha cesária agendada. Ao chegar na recepção, a
atendente pegou meus documentos e já pediu para eu entrar:
-
“Enquanto isso eu vou adiantando a burocracia e depois seu marido
volta para assinar a papelada. A senhora não precisa esperar, pode entrar”.
Gente,
mas para que tanta pressa? Eu nem em trabalho de parto estou! -
pensei. Mesmo assim, um funcionário nos levou até a sala de parto. “Mas vai ser cesária, não vamos utilizar esse quarto”, eu
disse, com uma certa pontada no coração ao ver aquele ambiente onde
idealizei ver você nascer. Filho,
a expressão do funcionário foi como a tela azul em um
computador defeituoso. Ele simplesmente não sabia o que fazer. Liga
para um, liga para outro, decide me levar para o centro cirúrgico.
-
“E as nossas coisas?”, perguntei.
-
“Deixa aí, a gente tranca a porta e quando soubermos o seu quarto a
gente vem pegar”, disse depois de alguns segundos de indecisão.
E
fomos para o centro cirúrgico. Chegando lá, mais confusão. Cada
hora uma enfermeira diferente aparecia perguntando:
- "Cadê
seu prontuário?”
- "Mas
subiu sem prontuário?”.
- "Mas
ela não tem pulseirinha? Como faz?"
Confesso
que comecei a ficar apreensiva. Parecia que eles não sabiam o que
estavam fazendo. Mal cheguei e me pediram para trocar logo de roupa e
perguntaram pelos exames da gravidez, que estavam na mala que ficou
no carro. E vai seu pai buscar. Começam a me fazer perguntas e a
preencher uma ficha. E começam a chegar mais enfermeiras perguntando
se era dali que ira nascer o bebê. Cada uma mais empolgada que a
outra.
- "Eu
quero ver, posso ver?”
- "É ela que vai ter o bebê? Que legal!”
- "Que legal um bebezinho por aqui”.
- "Que legal um bebezinho por aqui”.
Gente,
mas não é maternidade? Que confusão é essa? Comecei até a ficar
preocupada de verdade. Mas depois eu entendi melhor a situação e relaxei.
Descobri que não só o hospital tem um índice baixíssimo de
cesária como elas eram feitas “lá em cima”, em um local
diferente de onde eu estava. Parto ali era exceção. A equipe
daquele andar estava acostumada apenas com cirurgias para curar
doenças e estava empolgada com a “mudança de ares”. A equipe do
meu médico chegou, seu pai chegou com a mala e mudou de roupa para
me acompanhar. Então, o médico veio me buscar. Fui andando até a
sala de cirurgia, meio assustada, meio apreensiva. Um medo! Sabe,
filho, eu nunca havia feito uma grande cirurgia. As únicas vezes que
entrei na faca foi para consertar um desvio de septo e tirar um
pequeno carocinho do seio, duas intervenções que poderiam ter sido feitas com anestesia local, se não fosse o pânico da sua mãe que exigiu dos médicos ser “apagada", rs. Sempre que me peguntavam
se eu não tinha medo do parto normal, a resposta era automática:
tinha mais medo da cesária! Só de pensar naquela agulha da
anestesia entrando nas minhas costas...
Mas
foi aí que ter priorizado a equipe valeu a pena. Todos foram tão
atenciosos comigo! O tempo todo a equipe ia me explicando o que ia
acontecer e o que eu poderia sentir. Eu estava morrendo de medo da
anestesia, mas o médico ficou lá segurando a minha mão, fazendo
carinho, dizendo como me posicionar e o que estava sendo feito:
“agora estão só limpando o local”, “agora você vai sentir
uma picadinha de agulha de insulina, não é a anestesia ainda”,
“agora você vai sentir um formigamento na perna”, etc. A única
“reclamação” foi eu ter ficado um tempo lá pelada, esticada,
enquanto a porta da sala de cirurgia estava aberta e um monte de
gente passando pelo corredor, parecia um bicho no abatedouro, rs. Mas foi só eu reclamar que a porta
foi imediatamente fechada com alguns pedidos de desculpa.
Experiente, a equipe parecia ler pensamentos. Começaram a mexer em mim e eu pensei “mas cadê o Vítor?”. E o médico na mesma hora explicou:
O anestesista também foi muito legal. Ficava antecipando sensações e explicando o que estava acontecendo por trás do pano. “Mas eu estou sentindo tudo”, disse. E ele: “é assim mesmo. Você vai sentir tudo, só não vai sentir dor”. Seu pai chegou e eu respirei aliviada. Só o fato de ele estar lá me deixou mais calma. A cirurgia começou e eu balançava como se estivesse na boleia de um caminhão em uma estrada de terra. “Balança assim por causa da manobra que eles têm que fazer para tirar o bebê, ok?”, explicaram, mais uma vez, antes que eu perguntasse qualquer coisa.
Experiente, a equipe parecia ler pensamentos. Começaram a mexer em mim e eu pensei “mas cadê o Vítor?”. E o médico na mesma hora explicou:
- Só estou preparando você, tá? Pode deixar que não vou começar
nada antes do Vítor chegar aqui.
O anestesista também foi muito legal. Ficava antecipando sensações e explicando o que estava acontecendo por trás do pano. “Mas eu estou sentindo tudo”, disse. E ele: “é assim mesmo. Você vai sentir tudo, só não vai sentir dor”. Seu pai chegou e eu respirei aliviada. Só o fato de ele estar lá me deixou mais calma. A cirurgia começou e eu balançava como se estivesse na boleia de um caminhão em uma estrada de terra. “Balança assim por causa da manobra que eles têm que fazer para tirar o bebê, ok?”, explicaram, mais uma vez, antes que eu perguntasse qualquer coisa.
De
repente eu ouço um “opa” seguido de risadas – mais tarde
descubro que você, ainda com a cabeça no útero, fez xixi no médico,
rs. Alguém diz: “Mas você quis nascer de bumbum para lua,
André?”. Comemoração na sala. Começam a abaixar o pano que
estava na minha frente, mas fazem isso pela metade e não vejo nada.
Então, um bracinho se estica e vejo uma mãozinha fechada na minha
frente. Meu coração acelera. O pano finalmente é baixado por
completo e vejo você nas mãos do médico. Olhinhos abertos. Sem
chorar. Não sei descrever o que eu senti, filho. Não há palavras
para isso. “Aí mamãe. Fala com ele”, diz o médico. Eu obedeço
de olhos molhados, me esquecendo de tudo o que eu havia planejado
falar nesse momento:
"Ei
filho. É a mamãe. Sou eu, meu amor”, só me lembro disso.
Alguns
segundos depois, você chora. “É o frio”, alguém diz. Logo em
seguida, você pára de chorar. Seu pai é convidado a cortar o
cordão umbilical – precisou de duas tentativas, rs. Levam você.
Seu pai vai junto. Pouquíssimo tempo depois você volta e,
finalmente, é colocado em meus braços. Tiram alguns fios que estavam em mim. Finalmente posso segurar
você, fazer carinho, falar de pertinho, segurar suas mãozinhas. Tento ver o seu corpinho, mas o pano verde foi tão bem enroladinho
que não consigo desembrulhar você. A pediatra coloca você no meu
seio. Que confusão. Ali deitados, sem posição, foi uma dificuldade
para mim e para você. Ela pegava você de um jeito que parecia até
que iria machucar, rs. Mas você sugou. E o colostro já saiu! Gotas enormes e amarelas. Ficamos ali, namorando um ao outro um tempão, até que o médico
terminasse de me costurar. Então, você seguiu com seu pai e eu
respirei aliviada por tudo ter dado certo e por nós termos tido
nosso momento juntos.
Só
quando fui para a sala de recuperação é que me dei conta do quanto
a sala de cirurgia estava quentinha. Vi tantos relatos de gente
tremendo de frio na hora da cesária e até me lembrei disso na hora,
mas eu estava superbem. Chegaram a me oferecer um cobertor, que eu
recusei – mas voltei atrás assim que cheguei à sala de
recuperação. Olhei para o relógio: 20 horas. Procurei dormir um
pouco, pensando que deveria aproveitar a chance, rs. Disseram que eu
iria ficar ali só “meia horinha” para me recuperar da anestesia,
mas o tempo foi passando e nada acontecia. Tentei mexer as minhas
pernas e nada – que sensação horrível! Depois, conseguia mexer
um pé, mesmo tendo tentado mexer as duas pernas. 20h40 e eu doida
para pegar você de novo nos braços. Chamo uma enfermeira e descubro
que eles ainda não sabem para que quarto eu vou. Gente! Quase 21
horas e me pedem para ter paciência porque precisam que um outro
enfermeiro volte para me levar. Sabe, todos foram muito
carinhosos comigo, me perguntavam se eu estava bem, se precisava de
alguma coisa, mas eu já estava irritada com aquela demora!
Finalmente, começam a empurrar a minha maca hospital afora e eu
encontro você, seu pai e quase toda a minha família (seus avós,
sua tia e sua priminha) ainda no corredor. Confesso que não me
lembro mais no colo de quem você estava.
Aí
veio uma pequena decepção. Eu não sabia que, por causa da
cesariana, eu não poderia me sentar ou elevar muito a cabeceira da
cama. Como pegar você, assim, na horizontal? Eventualmente, dei um
jeito e, mesmo não sendo exatamente o que eu queria, foi um dos
momentos mais felizes da minha vida. Você havia chegado. Aquele
serzinho tinha saído de dentro de mim! E naquele momento éramos só
eu, você e seu pai. Sem confusão, só nós três.
As
tentativas de dar mamar para você eram desengonçadas, sem jeito,
não tínhamos posição. Eu ainda não conseguia me mexer direito e,
quando conseguia, doía. Seu pai foi o guerreiro da madrugada que
trocava fralda, colocava você no meu peito, para arrotar e consolava
você quando chorava. Eu não podia fazer nada!!! Que horrível! Mas,
sabe, nada disso importava naquela momento. Não sei explicar, só
sei que naquela momento tudo o que importava era você. E você era
tão lindo, tão pequenininho. Perguntei ao seu pai os detalhes do
que aconteceu com a pediatra, seu peso e medida. E até me assustei:
você nasceu com 100 gramas a menos do que me disseram ser o seu peso no ultrassom de UM MÊS antes! E pensar que tem gente que
usa essa estimativa para desistir do parto normal...
Só
no dia seguinte, quando finalmente pude me sentar na cama é que consegui pegar você direito nos braços. Ah... Foi surreal, filho.
Eu ficava olhando para você como se quisesse memorizar cada dobrinha
e pelinho do seu corpo. Você ficava muitas vezes acordadão, com os
olhos bem abertos, bem esperto. E num desses momentos ficamos ali,
nos namorando longamente, olho no olho. Finalmente eu conseguia aninhar você nos
meus braços confortavelmente, dar aconchego, olhar você por
inteiro, cheirar e abraçar você, fazer carinho. “Sou eu, filho,
sua mãe. É, sou eu”, repetia. Parece que só ali seu parto tinha realmente acabado. Só ali a gente tinha realmente se conhecido. Oficialmente, a gravidez tinha
chegado ao fim e nossa vida juntos estava começando.
Vitória 10 de junho a 11 de julho de 2015 – 12 a 43 dias de vida
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2 comentários no blog:
Que lindo relato Rê!
Escreve com tanto detalhe e emoção que consigo visualizar tudo.
O André pode não ter nascido como você planejou, mas nasceu com o respeito e amor que ele e vocês mereciam.
Não pude deixar de notar o tempo de escrita dessa carta hehehe as coisas mudaram por ai não é? hehehe
beijinhos queridos
Pois é, Isa, as coisas mudaram muito, rs. Escrever e atualizar o blog tem sido um desafio, rs.
Obrigada mais uma vez pelo carinho, todas as nossas escolhas foi pensando nesse respeito que ele merecia ter (e eu também, né?). Beijos
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