segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Altas aventuras!!! (ou seria "irresponsabilidades"?)

Postado por Mãe do André às 23:38
Caribe? Eu quero meu pão!
Filho, dá um misto de euforia e de vergonha escrever estas palavras: ESTAMOS NO CARIBE!!! S-U-R-R-E-A-L!!! Estamos na Colômbia! Eu sei que você não deve estar entendendo a parte da vergonha, é porque não faz muito sentido mesmo! Neste momento, eu estou realizando um sonho. Um sonho de anos. Mas ao mesmo tempo em que me sinto orgulhosa de mim mesma e do seu pai por termos conquistado isso e ainda ter trazido você no pacote dos nossos sonhos, sem ter usado a desculpa "agora tenho filho pequeno, não dá mais", apesar disso, um lado meu se sente meio irresponsável por arrastar você por aí. E olha que já tivemos altas aventuras nestes seus quase 1 ano e 8 meses de vida!

As loucuras começaram ainda na gravidez. De barrigão, fiz trilhas em Ibitipoca (Minas Gerais), viajei horas e horas de carro e fui me equilibrar nas ruas de pedras de Paraty (onde também fiz trilha e peguei barco). Vi minha família, a família do seu pai, trouxe seu enxoval quase completo na bagagem (graças às doações dos primos), encontrei amigos, criei ótimas lembranças com seu pai. E a alegria do percurso e da minha disposição, depois de quase 4 meses grogue, se misturavam à preocupação de estar colocando você em risco. De talvez estar exagerando. De estar sendo irresponsável.

Como eu disse em outra carta: ser mãe é se sentir eternamente culpada! A culpa parece fazer parte do
Em Ibitipoca, MG, com 4 para 5 meses de gravidez
pacote. Um combo da gravidez, desnecessário mas impossível de se recusar (como o telefone fixo do pacote da TV).

Com a barriga ainda maior, lá fui eu ver a seleção Olímpica de futebol no estádio da cidade, levando sua prima e seu avô a tiracolo. Trio perfeito para enfrentar a multidão, o trânsito e as filas: uma grávida, um idoso e uma criança pequena #sqn. Deu tudo certo. Sem nenhum tumulto ou susto. E todos nós nos divertimos muito. Mas não vou negar que, ao ver aquela multidão se espremendo para passar nas catracas, depois de andar cerca de 1 quilômetro pela via interditada, eu pensei: "o que eu estou fazendo, meu Deus?"

Aí você nasceu. E, no dia que completava 5 meses, pegou um avião para o Rio de  Janeiro para a festa da família do seu pai. Com 7 meses, viajou de carro com a gente para passar 1 semana em Búzios (graças ao engarrafamento, foram mais de 8 horas de viagem!!). Com 1 ano, eu e seu pai formos para as Olimpíadas do Rio, outro grande sonho realizado (mas você ficava com a vovó durante as partidas). E, na semana seguinte, fomos para Brasília casar o primo. Coloque nessa equação sua alergia alimentar e minha dieta superrestritiva, o início da sua introdução alimentar bem nas férias e uma pneumonia 2 meses antes das viagens Rio-Brasília e você vai entender que coragem e loucura são separadas por uma linha bem tênue e, às vezes, difícil de distinguir.

E, agora, viagem internacional!!!! E pensar que só tirei meu passaporte com 27 anos, mas você já tem o seu! Foram 3 cidades, 8 vôos, 12 dias. Sem saber direito o que iríamos encontrar, se teria comida
No avião
fácil para você (que continua o tratamento para alergia com muitas restrições alimentares), com um menininho cheio de energia que já anda e já sabe o que quer - e sabe demonstrar!! Mais da metade da viagem se foi, e tudo às mil maravilhas. Eu toda orgulhosa de mim e do meu saco de atividades cheio de surpresas para entreter você (viva a inspiração da internet!!). Orgulhosa do seu pai e do companheirismo de sempre, real e completo, disposto a testar comigo todas as técnicas e propostas novas, dividindo estresses e preocupações.

Não vou negar, filho, nem tudo são flores. Turismo com filhos requer um ritmo e uma programação bem diferente daquela que fazíamos quando não éramos pais. E isso, às vezes, pode ser bem frustrante. Não dá para trocar o almoço por um sanduíche para ganhar mais tempo e ver mais coisas. Não dá para ver tudo o que queríamos. Às vezes temos que trocar aquele museu por correr atrás de pombo na praça. Ou perder a explicação do guia para evitar que a criança caia da escada ou suba onde não deve. Às vezes, nos damos conta só no fim do dia que, na confusão de ir atrás do menino, convencê-lo a ir para a rota que queremos, carregar e lembrar de toda a tralha que trouxemos, lembrar da água, do chapéu, do protetor, da hora da comida, da fralda (que horas mesmo fecha aquele monumento?), chegar no hotel, enfrentar a briga do banho no chuveiro (sim, tem que lavar a cabeça!) e colocar para dormir... Ufa! Só aí percebemos que não fizemos fotos naquele lugar tão maneiro que lutamos tanto para conhecer.

Sim, é preciso ajustes e alguns sacrifícios na nossa velha maneira de turistar. Neste momento em que escrevo para você, estou no quarto, já de pijama, desde às 19h30, tentando escrever usando só a luz do celular para não acordar você, enquanto seu pai curte o piano-bar com a família (e, provavelmente, com uma cervejinha). Há 2 dias, eu  jantava num excelente restaurante espanhol, com direito a show de flamenco, enquanto seu pai ia dormir com as galinhas para respeitar o seu horário. Sim, filho, muitas vezes abusamos de videozinhos no celular e deixamos você comer só arroz ou se entupir de pão, só para que possamos curtir uma noite juntos ou uma refeição em paz, bagunçando todos os seus horários e toda a rotina e as regras que foram duramente estabelecidas. Às vezes, você passa tempo demais de fralda suja ou pula uma refeição, simplesmente porque não tínhamos como resolver aquilo ali, de forma rápida. 

Mas a verdade é que, agora, são três pessoas de férias. Eu quero que nossas viagens sejam também divertidas para você. Mesmo que isso signifique subir e descer 30 vezes a escada do aeroporto com a mochila pesada nas costas durante uma conexão exaustiva. Mesmo que isso signifique cortar pontos turísticos da lista porque decidimos gastar três vezes mais tempo de deslocamento para deixar você andar no seu tempo e no seu ritmo: parando para olhar cada buraquinho do caminho, pulando de cada degrau ou descendo cada rampa pelo menos 5 vezes! E não é só porque queremos ser bons pais, mas também porque se não for assim, você fica bravo, irritado e tudo acaba indo por água abaixo!! E você
Em Bogotá
tem sido um anjinho!!

Às vezes, me pergunto se não é mesmo loucura e irresponsabilidade. Um dinheirão jogado fora para passear em pedaços, se cansando mais do que descansando, se estressando antecipadamente com cada planejamento do dia, carregando menino desmaiado de sono no colo, pensando em tudo o que poderia dar errado para ver se estou preparada, sonhando em curtir seu pai por 20 minutinhos a sós, chegando exausta no fim do dia, comendo sempre na base de revezamento (um na mesa, um andando com você pela rua ou pelo restaurante) com a sensação de ter sido atropelada por um caminhão e querendo só dormir - de preferência por três dias seguidos!

Mas aí, no dia seguinte, nós somos acordados por uma risadinha e uma vozinha fina dizendo "bum djia". Eu pego o celular e revejo todos os lugares incríveis que a gente passou, tomo café da manhã com seu avô e seus tios dando gargalhadas das histórias que vivemos, vejo seu olhar brilhando ao descobrir o mundo, feliz e em paz. Neste instante eu penso: olha tudo o que o medo e a preguiça quase me impediram de viver! Sim, talvez eu não tenha visto tudo o que eu queria, ou com os detalhes e a calma que eu gostaria. Mas olha tudo o que eu consegui vivenciar! Olha tudo o que eu aprendi, tudo o que conheci!!

Para essa dor nas costas e nas pernas, existe relaxante muscular. Para o cansaço que parece maior do que antes das férias, existem duas vovós no Brasil cheias de saudades. Mas como diria  propaganda: para a vida, não há preço!

Que museu, nada! Quero POMBOS!
Sim, André, ainda acho que existe uma alta dose de irresponsabilidade em muito do que fizemos. Mas se tem uma mágoa que você nunca irá carregar é o ressentimento de pais que abriram mão de seus sonhos por você. A gente abre mão, sim, de muitas vontades (eu não fui ao Carnaval de Vitória grávida, nem arrisquei a Copa do Mundo em época de protestos, a gente faz sempre um roteiro menor e mais simples, que inclui volta para o hotel às 18h). A gente se adapta, redefine prioridades, aumenta a dose de disposição e paciência, coloca tudo numa balança de precisão. Mas, enquanto quiser, filho, vamos continuar a arrastar você para as nossas aventuras!

E que aventuras!! Obrigada, Papai do Céu!


Colômbia, 27 de janeiro de 2017 - 1 ano, 7 meses e 28 dias.

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