sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Um dia muito ruim

Postado por Mãe do André às 21:50

Há cerca de 10 dias, eu tive um dia ruim, filho. Muito ruim. Até agora não sei de onde veio esse caminhão emocional que me atropelou e fugiu sem prestar socorro. Sei que desde então tive muitas dias de maternidade medíocre, em que eu fui uma mãe preguiçosa e apática. Dias em que fui ausente de corpo presente. Dias em que eu fiz o mínimo. E mais do que envergonhada, eu me sinto assustada, André. Muito assustada.
Por mais que eu queira, eu sei que jamais serei uma mãe perfeita. Errar faz parte e é da vida ter dias melhores e outros piores. E tudo bem. Há tempos tenho estado doente, ora uma gripe, ora uma alergia atacada, agora uma tosse que nunca passa. E eu sei muito bem que minha rotina atual não favorece minha imunidade e que eu preciso cuidar mais de mim. No início, parecia só isso: uma indisposição provocada por essas doencinhas acumuladas, um motivo natural para apelar mais para os clipes na TV e diminuir a duração no parquinho. Mas não era só isso.

Percebi as frustrações acumuladas, o medo de arriscar o novo, a volta do comer emocional, algumas visitas da ansiedade paralisante. Ok, pensei, sem pânico, Renata. O caminho da mudança tem altos e baixos. Você já consegue identificar esses comportamentos ruins, já é um grande passo. O importante é não desistir. Você conhece os seus gatilhos, você sabe o que fazer para contorna-los. Você vai errar algumas vezes, é normal. Não desista. Vai, apenas vá! "Keep calm and carry on", já diziam os ingleses. Ou, "continua a nadar, continue a nadar".

E eu continuei. Por alguns dias. "Com passos de formiga e sem vontade", mas fui. Uns dias mais, uns dias menos. Mas fui, mesmo que os "menos" tenham sido em maior número. Até que, um dia, eu não fui. Eu simplesmente não foi. Eu paralisei e fiquei olhando para o nada esperando o dia passar. Eu desisti. Eu te ignorei a tarde toda. Eu desliguei. Eu voltei por 24 horas àquele lugar horrível que me levou a toda essa tentativa de reinvenção de mim. Eu me entreguei à comida e à tristeza profunda e sem explicação que tomava conta de mim. Eu duvidei de tudo. Eu questionei minhas escolhas, minha vida, meu valor, minha utilidade. Eu duvidei da minha maternidade, da minha felicidade, do meu casamento. Eu comprei briga com seu pai. Eu tentei pedir ajuda e não consegui. Eu me apavorei. Eu fugi de mim.

Foi muito assustador, André. Eu ainda estou muito assustada. Eu jamais imaginei que depois de tudo o que eu passei, aprendi, vivi, que eu voltaria a esse lugar. Ao fundo desse poço que eu lutei tanto para sair. Tanto trabalho, tantos anos para escalar até a saída dele... E num segundo, sem entender como nem por que, eu estava de volta ali, naquele lugar frio, escuro e solitário. Como? Por que? O que aconteceu? Eu estava feliz, muito feliz! Menos de 2 semanas antes eu era o ser mais feliz e empolgado desse planeta. Como pode? Era tudo falso? Era tudo um teatro para mim mesma? Se não, como eu fui do céu ao inferno assim, tão rapidamente? Se sim, o que mais era falso? Eu continuo a mesma se sempre? Foi tudo em vão?

Foi tudo muito assustador, filho, e eu espero que não tenha sido para você também. Foi tão assustador que ainda não consegui conversar sobre isso nem mesmo com o seu pai. Eu não achei que isso pudesse voltar a acontecer. E que, se pudesse, achei, definitivamente, que jamais seria assim tão rápido e tão fio. Sei que você não deve estar entendendo nada - até porque eu também não estou - mas obrigada por me ouvir, André. Essa carta é só para dizer que mamãe não andou bem emocionalmente e eu sei que isso afetou você. Talvez eu ainda não esteja muito bem. Mas estou melhor. Assustada. Muito, muito, muito, muito assustada. Mas não mais desesperada. Eu só queria dizer, filho, que não quero voltar a ser quem eu era antes. Não quero voltar para aquele lugar horrível e arrastar você junto comigo. Eu não sabia que dava para voltar, cair tão fundo de novo, mas eu sei que dá para sair. E eu sei o caminho. Deixa eu só respirar fundo e terminar uns curativos nas feridas pós-queda. Mas fique tranquilo, meu filho. Aqui a gente não vai ficar! 

Vitória, 29 de setembro de 2016 - quase 1 ano e 4 meses

Comente pelo Facebook:


0 comentários no blog:

Postar um comentário

 

Cartas para meu filho Copyright © 2014 Design by Amandinha Layouts Amandinha Layouts