Sua família não é normal

Nossas famílias: grandes, unidas e malucas

Filho, se existe família normal, eu não sei o que é!  Talvez quando olhamos as pessoas individualmente ou em pequenos núcleos seja possível vislumbrar algo que possa ser definido como normalidade. Mas basta juntar tios, primos, tios-avôs e agregados para o hospício se instalar de vez.

E que  delícia de hospício! 

Você já teve uma bela amostra disso quando conheceu a família da vovó Vanete durante a nossa viagem ao casamento do primo. A do vovô Marcelo, você viu a prestação, mas também não fica muito atrás (é menor em quantidade, mas não em confusão, rs). E agora estamos mais uma vez reunidos com a família do seu pai; e eu estou em casa.

Tentei vir para a cama mais cedo, mas não dá para dormir porque mesmo de longe não consigo parar de rir!! Não sei como você continua desmaiado aqui do lado, o barulho parece vir de uma festa com mais de 100 pessoas, mas são menos de 15 em volta de uma churrasqueira.

Enquanto todos riem e falam ao mesmo tempo, tia Leila implica com Oswaldo mais uma vez (1965!!). Alguém grita "Fora Temer" de vez em quando (política é briga e implicância eterna). Tio Marcelo chama mais alguém de idiota (só ele consegue fazer isso parecer mais piada do que ofensa). Seu tio-avô Renato reclama de quem caça Pokémon. Tia Tata apenas ri. Tio Gian inventa mais algum fato ocorrido em 1965 para voltar a implicar com Oswaldo. Só não dá para ouvir sua vó Dalva, rs, mas eu posso ver daqui sua cara de quem está rindo sem parar e sem conseguir falar.

 E agora, eles começaram uma cantoria unificada, com direito a batucada na mesa (porque cantoria paralela sempre existiu, sempre com duas ou três pessoas que tentam abafar com músicas antigas a conversa, os gritos e as gargalhadas). Já rolou sambinha, Chico Buarque e até Reginaldo Rossi - todos acompanhados de muitas gargalhadas e piadas internas. Até o voz do seu pai eu escuto cantar (aposto que vai estar rouco amanhã). Não sei como ainda não veio ninguém reclamar do barulho.

Barulho para eles, né filho? Para nós, internos do mesmo hospício, é, literalmente, música para os nossos ouvidos. E para você, ao que tudo indica, a canção é de ninar!

Domingos Martins, 7 de setembro de 2016 - 1 ano, 3 meses e 9 dias