sábado, 20 de maio de 2017

Os pequenos e insignificantes momentos mais importantes

Postado por Mãe do André às 10:10
Brincando no parque, com 1 aninho
Em alguns dias, filho, você completa 1 ano e 3 meses. E só agora, juro, somente agora, eu sinto que estou me adaptando de verdade a essa nova rotina de mãe. Parece que foi só nos últimos dias que as coisas voltaram aos seus devidos lugares após o furacão da maternidade. E esses lugares são tão diferentes do que eram antes...


Talvez eu não esteja sabendo me expressar muito bem, André, e eu não quero passar uma má impressão. Eu estou feliz!!! Eu estou feliz como há muito tempo não me sentia. E desculpa a sinceridade gelada, não é por sua causa. Não exclusivamente. Como já disse em outra carta, você foi minha grande motivação, minha maior inspiração e mais bela desculpa para essa reinvenção de mim, para essa nova Renata que surge das cinzas, mais colorida e completa. Uma transformação que eu mesma fiz, ou melhor, que ainda estou fazendo, a duras penas e a base de muito sacrifício. Mas como vale a pena! Nossa!

Fazia tempo que eu não me sentia tão completa, tão entusiasmada com a vida, tão feliz comigo mesma. Ainda não atingi nenhum dos meus objetivos, mas é a primeira vez que eu estou tentando chegar lá de verdade. Mais do que isso: é a primeira vez que não tenho medo de não chegar. Simplesmente porque o objetivo é o processo, não o fim. Porque tentar já é uma vitória para mim! Eu sei, você não deve estar entendendo nada, né? É um pouco aquela história da vida nos virar do avesso para percebermos que o nosso avesso era o lado certo, sabe?

Vou tentar ser mais clara: eu estou feliz!

Eu sinto que tenho todo um mundo de possibilidades na minha frente e não tenho nem medo, nem pressa para experimentá-las. Só não aceito mais ficar parada a espera daquela que seria A resposta certa. Graças a você, filho, eu sei muito bem o que eu não quero. E, pela primeira vez em muito tempo, eu tenho alguma ideia do que eu quero. Você me mostrou, André, o que realmente importa: os pequenos e aparentemente insignificantes momentos.

Há algum tempo eu estava um pouco ansiosa com a minha carreira (tá, confesso, muito ansiosa). Achei que já teria retomado as coisas a esse ponto. Uma sensação de ser um peso morto na sociedade, de me sentir inútil, mesmo tendo o trabalho mais difícil e mais importante do mundo: criar um ser humano. E um ser humano do bem. Mas a verdade é que nunca vi músicas, reportagens, poemas ou documentários que dissessem:

"Queria ter... trabalhado mais!"

Não! O que nós temos todas as tardes, filho, pode ser um pouco repetitivo e bastante solitário, mas é único. Uma joia preciosa chamada tempo, vínculo. Uma interação a base de olho no olho, cheiro, beijo, abraço, chamego, confiança. É ficar suja de baba e meleca porque você não consegue nem engolir a saliva durante mais uma crise de riso por causa da minha careta atrás do pano. É estar com as costas ruins há um mês porque você quer que eu deite no chão para ser escalada e transformada em cavalinho (e porque você quer colo até enquanto eu preparo sua comida ou arrumo sua bolsa para sairmos - colo que eu faço questão de dar sempre que eu posso). É ver você engatinhando para o meu colo, trazendo nas mãos o livrinho que você quer que eu leia, já antecipando as brincadeiras que eu vou fazer com você durante a leitura. É pegar com a boca o brinquedo que está entre os seus dentes, para ver você pegá-lo de mim também com a boca, num revezamento infinito durante a troca de fraldas. É, literalmente, rebolar toda vez que você sacode qualquer coisa que faça barulho. É fazer o peixinho de areia no parquinho mil vezes seguidas só para você ter o prazer de destruí-lo. É rir sozinha ao perceber que ainda tenho areia do parquinho no meu cabelo, mesmo depois do banho. É cada troca de olhar, cada gargalhada sua, cada momento de cumplicidade, cada macaquice nova que você aprende e eu posso assistir de camarote. É cada passinho bambo que você dá em minha direção, na confiança cega de que eu vou sempre pegar você se você cair (o que nem sempre acontece, rs).

Eu sou mãe. Sua mãe, André. Inteira e plenamente. Eu voltei a ser eu. Sem medo e finalmente. Não me afeta mais (tanto) a pressão social do que eu deveria estar fazendo, pelo menos não como antes. Desse tempo com você eu não abro mão. Mas de ter uma carreira também não. E a certeza de que as duas coisas podem ser compatíveis é maravilhosa. Agora, eu sou sua. Você é minha prioridade, André. É agora que você precisa de mim, da minha presença. Não quando eu me aposentar. Aos poucos, você vai precisando cada vez menos de mim dessa forma "onipresente" e aí - somente aí - minha carreira pode voltar a ocupar meu tempo como antes. Eu tenho muitas ideias, muitos planos e quero voltar a ser mais produtiva do campo profissional, sim, e em muito breve! Os incêndios foram apagados. As urgências resolvidas. As adaptações feitas. Agora eu estou no leme e posso experimentar. Se nada der certo, tudo bem. Volto ao plano original.

Agora eu sou mãe. Sua mãe, André. Esse é o meu papel principal. Até o próximo ato. E eu estou feliz com isso. Muito feliz. Muito agradecida a Deus por ter essa chance, esse tempo exclusivo com você. Agora eu sou muitas coisas e tantas possibilidades também. Mas acima de tudo, sou mãe. Sua mãe. E estou em paz.

Te amo, meu filho. Obrigada por me fazer rir todos os dias!


Vitória, madrugada de 23 para 24 de agosto de 2016 - 1 ano, 2 meses e 26 dias

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