terça-feira, 13 de setembro de 2016

Sobre saúde e estética 3 (o pós-parto e a sua alergia)

Postado por Mãe do André às 10:11
Eu, já bem magra, 2 meses
depois do seu nascimento
É, filho. Eu definitivamente não deveria estar aqui escrevendo para você. Quase 1 da manhã, seu pai já está dormindo há algumas horas, e o turno da madrugada começa em breve se você continuar sendo meu reloginho britânico (e ainda que um milagre aconteça, nosso dia precisa começar antes das 6 horas e tem começado às 5 horas). Mas eu não consigo dormir, nada parece trazer meu sono de volta e escrever sempre me acalma. E tem tanta coisa que eu estou devendo contar para você. Queria ter escrito esta terceira parte deste assunto tão delicado para mim há meses. Quantas dificuldades e quantas vitórias!!!

O lado bom é que minhas expectativas otimistas em relação ao meu corpo se confirmaram: em vários aspectos (de saúde e de estética) eu estou, sim, bem melhor do que antes da gravidez. Ao todo, engordei 11 quilos até o dia do seu nascimento, chegando a 79Kg e uns quebrados que não me lembro mais. Normal para a média das mulheres, mas um susto para mim que cheguei ao 7º mês de gravidez tendo engordado só 6 quilos (de novo, graças muito mais ao enjoo/azia que me impediam de comer do que por mérito do meu autocontrole). E aí, 5 Kg em menos de dois meses!! Eu comia barras de chocolate e potes de sorvete numa sentada só. Acho que todos os doces que não pude comer na gravidez inteira eu comi nos últimos dois meses, rs. Mas, em compensação, aumentei a quantidade de exercícios que fazia após a licença maternidade (que aconteceu quando você tinha 37 semanas de vida). Você nasceu numa sexta-feira e no início daquela semana eu ainda estava pulando igual macaco na piscina durante a hidroginástica, disposta e acelerada. Aliás, como foi maravilhoso me manter ativa e me cuidar durante a gestação. Eu me sentia ótima! Não tive as famosas dores nas costas (só nas duas últimas semanas e bem pouca); conseguia vestir meu tênis até a 37ª/38ª semanas e às vezes nem precisava de ajuda para pegar coisas no chão!! Claro que dependendo do dia, do tempo em pé e até mesmo do calor, essa disposição toda sumia, mas valeu a pena todo o investimento. Sim, investimento. Só quando você nasceu é que eu me dei conta do quanto investi (tempo e dinheiro) para isso: musculação no início, hidroginástica depois, pilates para grávidas, acupuntura, drenagem linfática toda
O barrigão no dia do seu nascimento
semana, nutricionista e osteopata. Valeu cada minuto e cada centavo.

Assim que voltei da maternidade, me pesei de curiosidade e confesso que fiquei um pouco preocupada: você + placenta + líquido amniótico só pesaram QUATRO QUILOS! Gente! E os outros 7,5 Kg? Mas depois percebi que muito era inchaço. E como eu fiquei inchada! Assustador! Pior, muito pior do que durante a gravidez! Meus pés não cabiam em sapato nenhum, tudo doía, e as pernas davam cãibra durante a amamentação. Mas em 15 dias, tudo sumiu e eu já havia perdido outros 4 quilos. Mas acho que não foi uma perda de peso muito saudável, para ser sincera. Comer direito quando só queria saber de dormir e quanto tinha um bebê chorando horas a fio nos meus braços foi impossível. Lembro que muitas vezes passava fome até seu pai chegar do trabalho, pois preferia comer com calma depois do que fazer malabarismos com você chorando no colo. Na verdade, ainda faço isso. Muitas vezes o cansaço era tanto, tanto, que eu só comia uma banana ou bebia um copo de leite e ia dormir (e eu poderia comer um boi inteiro!). Fome era algo constante na minha vida, mas o sono era maior e eu preferia dormir mesmo de barriga roncando.

Passada a fase mais trash, fui dando vazão à minha fome desesperadora que amamentar você causava. Comia muito e o tempo todo, mas comida de verdade, não besteira - evitava ao máximo o chocolate por causa das cólicas. Não comia industrializado, evitava doces na medida do possível e nada de salgadinhos ou fast food. E, assim, comendo só comida de verdade, a amamentação exclusiva fez o seu milagre: não importava o quanto eu comesse, continuava a emagrecer. Aos pouquinhos, mas sempre. Depois que você fez dois meses, comecei a caminhar com você no carrinho e a me mexer mais andando pelo bairro, mas nada regular ou sistematizado. A tentativa de "pilates para mamãe e bebê" não deu certo e a atividade física de verdade acabou ficando para 2016. Mas aí...

Você novamente me pregou uma peça e resolveu me colocar no eixo (ou me tirar dele, rs), me fazendo enfrentar todas as minhas questões alimentares. Antes de completar 2 meses de vida, foi diagnosticado com refluxo e, aos três meses, percebemos que ele era, na verdade, um resultado de alergia à proteína do leite de vaca. De repente, eu me vi proibida de consumir queijos, manteiga, leite condensado e tudo o que isso representa: chocolate, lasanha, pizza, sorvete, bolo, coxinha, hambúrguer, pães. Não, produtos sem lactose não adiantavam. E sim, qualquer  pedacinho ou quantidade mínima fazia diferença e deixava você irritado, com o corpinho todo empolado, com o bumbum assado, as dobrinhas feridas e golfando sem parar. Você passou a tomar 5 doses diárias de remédios, além de termos um outro medicamento para emergências. Mas foi começar a dieta para os sintomas pararem. Eu achei que não conseguiria nem um mês, mas ver seus choros inconsoláveis diminuírem me deu força. Você era outro bebê. Esse primeiro mês de dieta foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida!!! E eu não tinha ideia de que tudo estava só começando. Depois do primeiro mês de restrição alimentar pedido pela médica é que fui entender que algumas mães ficavam até 2 anos assim! Mais, se amamentassem prolongadamente. Detalhe: estávamos no fim do ano, época de inúmeras confraternizações, Natal, meu aniversário, viagens e visita de familiares. E eu não podia
Brigadeiro sem leite condensado: RUIM!
comer nada. Fui a festas (repare o plural!!!) em cerimonial infantil onde tudo o que eu podia comer era a pipoca. E a coisa foi só piorando.

Às vezes eu achava que estava fazendo tudo certo mas você voltava a golfar. Comecei a pesquisar sobre o assunto, a frequentar blogs e comunidades de alérgicos nas redes sociais, e percebi que o leite e seus derivados estavam escondidos em locais inacreditáveis: na margarina (não era para ser vegetal??), na mortadela, no salame e até em algumas marcas de calabresa. Pior: o rótulo nem sempre era confiável, já que a legislação é falha (graças a Deus isso mudou recentemente!!). As pessoas também não entendem a gravidade de uma alergia e acham que a alergia à proteína do leite é como a intolerância à lactose. Insistiam para eu comer "só um pedacinho", ou diziam que algo feito com margarina eu podia, sim, comer. Repito, passar as festas de fim de ano nessas condições foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, filho. Para muitos pode ser uma bobeira, coisa simples, mas para mim exigiu um esforço de Hércules! E se uma dieta tão restritiva quanto essa já é difícil para qualquer pessoa, para alguém com compulsão alimentar e uma relação nada saudável com a comida é pior ainda. Meu cardápio já é tão restrito!! E para mim ficar um único dia sem doce é muuuuuito difícil, exige muito de mim.

Eu me sentia (me sinto ainda) como uma alcoólatra tentando  resistir à bebida. E não é exagero, filho. Eu sei que tenho mania de falar meio exagerado para ser divertida, mas isso não é exagero. Toda vez que eu vejo um filme ou uma reportagem sobre um alcoólatra ou viciado em drogas falando do seu vício eu penso: "é exatamente assim que eu me sinto!" Mas a relação pouco saudável com os alimentos, ainda que mais fácil de lidar do ponto de vista fisiológico, tem um agravante. É relativamente fácil para um dependente químico viver em locais onde não há drogas (ninguém sai oferecendo cocaína por aí). Quem vive com um alcoólatra entende a gravidade da situação e não vai oferecer bebida para ele. Mas com a comida (e os doces/besteiras, principalmente, que são o foco do meu comer emocional) as pessoas tendem a minimizar, achar que é bobeira, exagero, frescura, e insistem: "só um pedacinho", "come só mais um pouquinho, vai!". Ou pior, ficam ofendidas pessoalmente com aquela recusa que exigiu todas as fibras do meu ser para conseguir ser feita: "poxa, você não gostou?", "credo, fiz com tanto carinho", "caramba, vai fazer essa desfeita?", "só prova pelo menos!". AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Filho, eu juro que dessa vez eu não estou exagerando, mas quando seus avós colocavam um chocolate na mesa depois do almoço era como se meus olhos fossem atraídos a eles como um ímã. Se eu estou nos dias de fissura, eu não consigo nem sequer acompanhar direito a conversa, não consigo olhar para quem está falando, fico olhando para o doce como se ele me chamasse. É preciso ficar muitos minutos repetindo mentalmente todos os motivos pelos quais eu devo resistir a ele. Nos dias mais críticos, minhas mãos suavam, meu coração acelerava. É um esforço mental enorme! Muitas vezes eu pensei em desistir da amamentação. Só por causa disso. Só para comer tudo o que eu queria. Juro! Pensava: para quê tanto sofrimento?

Ovo de Páscoa vegano: delícia!!
Mas aí eu resolvi focar nos pontos positivos. Para começar, eu estava emagrecendo na velocidade da luz, não importava os litros de azeite que eu colocava no pão ou a quantidade monstra de arroz e feijão que tinha no meu prato. Passei a focar nas delícias que eu gostava e que eram permitidas: suspiro, paçoca, bala de coco, pipoca doce (só com açúcar), goiabada, balas de vários tipos. E aí eu tomei mais uma porradinha da vida: você voltou a apresentar sintomas mesmo com uma dieta exemplar da minha parte. E aí foi preciso
cortar o ovo e o amendoim. E aí eu passei a frequentar lojas veganas, fazer experimentos com receitas alternativas e a arriscar - com gratas surpresas e algumas grandes decepções. 

Foi quando eu me dei conta do cerne da questão. Sabe, filho, eu acredito que quando algo que consideramos ruim acontece com a gente é porque a vida quer nos ensinar alguma coisa. Se a gente aprende, o sofrimento passa, mesmo que o "problema" ainda esteja lá. Eu realmente acredito nisso. Transformar a crença em prática já são outros 500, mas eu resolvi tentar. Percebi que eu não estava tentando mudar minha relação com a comida, eu estava direcionando meu vício às guloseimas permitidas. Não é isso que eu quero para mim. Então eu me esforcei muito para lidar com as restrições de maneira mais serena. E em muitas ocasiões eu consegui. Participei de festas levando meus pratos alternativos sem sofrer com a "tentação" dos outros pratos. Não deixei de ir a nenhuma das festas para as quais fui convidada (fazia um superlanche antes de ir). E foi tão libertador! Eu fiquei tão orgulhosa de mim! Com tanta esperança de construir uma história diferente. Um história onde um doce na geladeira não gere ansiedade, culpa e conflitos internos. E você estava me ajudando!! Eu fiz o que considerava impossível: já são quase 6 meses sem leite condensado! Sem brigadeiro! Sem queijo! SEM QUEIJO!!! E fui colhendo as vantagens disso. Hoje estou quase 6 quilos mais magra do que ANTES de engravidar (engravidei com 68kg e estou com cerca de 62) e, pela primeira vez em uns 6 anos, MINHA TAXA DE COLESTEROL ESTÁ NORMAL!! O meu cardiologista até descartou o uso de remédios que, antes de engravidar, ele chegou a dizer que seria inevitável...

Coxinha de massa vegana: maravilha!
Colocar queijo vegano junto: horrível
Mas nem tudo são flores e eu vivo entre altos e baixos. Eu estou de saco cheio de uma vida tão restrita e comemorei quando você passou comer bem as frutinhas e as comidinhas aos longo do dia - pensei que em breve você pode desmamar e "meu sofrimento acabar". Mas por outro lado é tão gostoso ficar agarradinha com você nas nossas mamadas! Você esfrega o pezinho em mim, segura meus dedos, passa a mãozinha no meu rosto. Nessas horas, eu quero que você não cresça nunca mais e que a amamentação continue para o resto da vida! Poxa, agora que ficou bom e leve? Agora que é fácil? E eu sigo nesse conflito eterno. Ora achando ótimo que eu tenha uma restrição alimentar tão severa que me obrigue a aprender a viver sem besteiras. Ora chorando igual a um bebê porque vou a mais um aniversário sem poder comer um docinho ou um pedaço de bolo!

A verdade, filho, é que eu tenho medo. Tenho muito medo que essa proibição toda seja um gatilho para minha compulsão alimentar voltar ao que era. De eu voltar à estaca zero, de engordar tudo de novo e ver minhas taxas piorarem. Tenho medo que, quando finalmente poder comer um brigadeiro, eu não consiga mais parar. Medo de querer tirar o atraso de meses em poucas semanas.Segundo minha nutricionista (que eu abandonei, diga-se de passagem) eu ainda preciso perder de 2 a 3 quilos para ter um peso considerado normal para a minha altura. Se eu quiser ter de volta o mesmo peso dos meus 30 anos, seria preciso perder ainda mais uns 6 ou 8 quilos, mas vejo que essa não é uma meta saudável e não vou me esforçar para atingi-la. Queria só sair da casa dos 60 quilos até o seu aniversário (pode ser 59,9!) e, além do pilates que comecei no mês passado, estou tentando caminhar com você no calçadão. Eu ainda estou flácida e barrigudinha, mas tenho que reconhecer que é uma barriga menor do que a que eu tinha quando engravidei (não é culpa sua, filho). Fiz algumas "metas alimentares de 2016" que espero conseguir cumprir até o fim do ano (um passinho de cada vez) e estou bem confiante pois acho que são bem realistas. Entre elas estão: só comer chips 1 vez por mês, fazer pipoca doce no máximo uma vez por semana (de preferência, menos) e experimentar algo novo (uma receita, um alimento, um forma de preparo) toda semana. Nem sempre eu consigo, mas já tive umas vitórias espetaculares, como comer (E GOSTAR!!!!!!!)  de uma foccacia
recheada com tomate seco e rúcula. RÚ-CU-LA!!! Tinhas muitos matos verdes no meu prato e eu comi tudo!!! Confesso que a garganta deu uma fechadinha no começo, mas pensei em muitas frases de incentivo na minha cabeça, como meu atual mantra "não precisa gostar, é só experimentar". E deu certo! Eu nem acredito que gostei! Tenho esperança!

Biscoito recheado vegano: razoável
Essa questão é tão complicada para mim que eu pensei até um fazer um blog só sobre isso. Ou quem sabe um canal no YouTube? Algo que me obrigasse a pensar e desabafar sobre o assunto com uma frequência regular. Para que eu pudesse dividir essa que é, para mim, uma luta diária e tão minimizada pelas pessoas. Pensei até no nome: "saudável com pizza e brigadeiro". Porque essa é a minha meta. Comer de tudo sem neuras, sem crises e sem exageros. Essa moda fit de fazer pizza de abobrinha e brigadeiro de banana verde para mim não é muito saudável, não. Não quero ter medo de nenhuma comida. Não quero ter uma lista de alimentos proibidos. Quero apenas que alguns alimentos não façam parte do meu dia a dia, que sejam o que eles realmente são: para ocasiões especiais. Quero só não depender do açúcar e da gordura para me acalmar ou desestressar. Quero aprender a saborear sem precisar de grandes quantidades. E quero, sim, que a pizza, o brigadeiro, o sorvete e o leite condensado façam parte da minha vida. Sem culpa. Sem crise. Sem dietas. Isso para mim é alimentação saudável! Só queria que a salada também fizesse parte da minha vida também, mas talvez isso seja utopia, hahahahha.

Quero ser um bom exemplo para você, filho. Quero que você tenha prazer em comer de tudo, do brócolis ao hambúrguer. Quero que você não sofra à toa pensando demais em cada refeição.

Talvez eu não tenha coragem de fazer o tal blog ou canal. Mas quero encarar tudo isso de peito aberto. Eu sinceramente não sei se vou conseguir, filho. Mas prometo contar tudo e ser sincera com você. Não está sendo nada fácil, mas obrigada por não me deixar fugir da raia. Obrigada por me obrigar a enfrentar essa dificuldade. E, principalmente, muito obrigada por ser a minha maior e a melhor motivação para isso.

Te amo muito!

Mamãe

Vitória, 17 de março de 2016 - 9 meses e 17 dias

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