sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Felicidade é uma questão de perspectiva (mas como esse exercício é difícil!)

Postado por Mãe do André às 11:00
Eu e seu pai, tentando manter o otimismo e o bom
humor, no estacionamento do Pronto Socorro
enquanto esperávamos seus exames e recebíamos
consolo e distração dos amigos pelo celular

Esta não está sendo uma semana fácil, meu filho. Você ficou doente de verdade pela primeira vez e isso exigiu tanto fisicamente da mamãe! Hoje é sexta-feira e a última vez que você foi à creche foi na segunda-feira da semana passada. Minha vida parou novamente mas achei que estava lidando muito bem com tudo isso. Afinal, era temporário e, por mais que fosse uma doença séria, não era das mais graves. Estava toda orgulhosinha de mim, pois consegui ver o todo e perceber que havia mais motivos para ser feliz do que triste.

Mas aí vem a vida e... pá! Muda tudo de novo.

Há dois dias escrevi o seguinte relato no Facebook:


Felicidade é uma questão de perspectiva. E a cada dia a vida me prova isso na prática. Não está sendo uma semana fácil. Depois de um feriado de Páscoa entre tosses, febre, pouco sono e muito colo, a segunda-feira terminou comigo, Vitor e André no pronto-socorro, num chá de cadeira (esperado) de quase 7 horas. Resultado: o início de uma pneumonia e o primeiro antibiótico do filhote. Eu, que já estava tão cansada porque André deixou de ir à creche justamente quando decidi pegar um trabalho voluntário que exigia muitas horas de dedicação, acabei ficando gripada e agora que ele mais exige colo e atenção, meu corpo dói e pede cama. E esse não é um post de desabafo. É de gratidão. Não quero parecer uma pessoa melhor do eu realmente sou, pois me peguei lamentando minhas "misérias" e tendo pena de mim mesma várias vezes nos últimos dias, mas quero dividir com vocês um exercício que tenho me obrigado a fazer, sempre com ótimos resultados: mudar a perspectiva das coisas. Realmente não está sendo uma semana fácil. Até DR feia rolou com o maridão, rs. Até chorar de cansaço eu já chorei. Mas André fez 10 meses ontem e esta é a primeira vez que ele fica doente de verdade. Entre uma febre e uma crise de choro, meu anjinho ainda brinca e dá risada. Vi naquele PS crianças bem piores do que o André, que não voltariam para casa no mesmo dia. E ele ainda ficava satisfeito só com um colo mesmo tendo passado (e muito!) da sua hora de dormir. Lembrei de amigas guerreiras que enfrentam problemas graves de saúde de seus bebês desde o primeiro dia de vida. De parentes que na idade do André já tinham tomado antibiótico muitas vezes. André não tem problema de desenvolvimento, não tem doença grave, não enfrenta um câncer. Nós podemos comprar o remédio caro e dar a ele tudo o que precisa. Eu tenho uma rede de apoio de dar inveja: passei os dois últimos dias na companhia de sogra, mãe, "sograsta" e com parentes e amigos à disposição, virtualmente e presencialmente. E sei de pessoas que nem ficaram sabendo dessa situação mas que eu sei que poderia acionar se precisasse. Tenho um marido que entende que a saúde do nosso filho é tão responsabilidade dele quanto minha. Dez meses e não sabíamos o que era um PS. E ainda tenho o peito para acalentar e ajudar a sustentar quando o corpo rejeita a comida. E eu não preciso largar meu filho doentinho para ir trabalhar. Sim, os últimos dez dias têm sido difíceis fisicamente. Ando morta com farofa e maçã na boca, perguntando como dar conta do resto da semana e quando minha vida vai voltar ao normal. Mas emocionalmente me sinto feliz. Sou uma privilegiada. E são as horas difíceis que nos mostram isso!

 Bacana, né filho? Eu realmente senti e realmente quis dizer cada uma dessas palavras. O meu cansaço era extremo (afinal, você doentinho quase não dorme e quer colo e peito o tempo todo), mas o que me consolava era saber que tudo era temporário, faz parte de ser mãe de bebê. Você está cada dia melhor e eu não tinha dúvidas de que o pior já havia passado e que na semana que vem minha vida finalmente recomeçaria, depois de 10 meses. Sei que parece forte e até exagerado dizer que minha vida iria "recomeçar", mas é exatamente assim que eu me sinto. A sensação é que minha vida, minhas necessidades e, principalmente, minhas vontades estavam em "pause". Suspensas e proibidas por tempo indeterminado. E por um lado eu acho natural que isso aconteça durante algum tempo depois da chegada de um bebê. Eu saí do trabalho para isso, para poder me dedicar à você e curtir esse momento ao máximo. Sempre quis amamentar exclusivamente até os 6 meses e sabia que isso significaria estar à disposição a cada 2 ou 3 horas (ou seja, não dava para fazer nada que exigisse um intervalo maior do que isso sem uma verdadeira Odisseia de preparação). E tudo bem. Até o fim de 2015, meu filho vai ser a minha única prioridade, pensei, mas em 2016 eu vou retomando tudo aos poucos. E estava otimista pois, mesmo você tendo pouco meses, eu e seu pai fomos ao cinema, saímos sozinhos de vez em quando, curtíamos os amigos e fomos até a um casamento quando você nem tinha 3 meses de vida. E você sempre tão bonzinho, nos acompanhando muitas vezes ou ficando numa boa com as vovós, nos permitindo muitas horas de diversão.

Então, 2016 começou com as férias do seu pai e uma lista enorme de deveres e vontades acumuladas, incluindo até coisas para arrumarmos na casa. Eu e seu pai otimistas, sem ter muita ideia do quanto um bebê come as horas livres e diminui a produtividade de um casal. O mês passou e quase nada foi feito. Bateu um certo desespero, mas nos mantivemos otimistas, depositando todas as nossas esperanças no início da sua creche. O que antes era motivo de muita culpa e dúvidas, se tornou uma decisão feliz e algo muito aguardado. A verdade é que ficou pesado, filho. Você exigia mais interação, mais movimento e mais distração. E ficar o dia todo com você passou a ser exclusivamente com você. Não dava mais para fazer coisas de casa, comer com calma, escrever no blog, essas coisas que eu fazia no início quando você dormia.  Você passou a dormir cada vez menos de dia, não havia pausas. Agora eu queria a creche. Ela era a minha esperança de retomar minha vida, voltar a me exercitar, a escrever e, aos poucos, ter novamente uma vida profissional. 

A primeira surpresinha é que eram praticamente duas semanas de adaptação, em que você só ficava na creche por duas horas e, mesmo assim, eu deveria ficar por perto. Depois, fui  cumprir as obrigações chatas acumuladas e passei 2 semanas praticamente indo a médicos, laboratórios e resolvendo pepinos da casa. Retomamos também nosso trabalho voluntário que, apesar de delicioso, exigiu bastante tempo. Eu e seu pai estávamos ainda mais cansados e nos sentindo mais sobrecarregados do que antes do início da creche. Magoadinho com a separação forçada, você grudava na gente assim que chegava em casa. Até as sonecas você só tirava se fosse encostado na gente, segurando minha roupa, meus dedos ou com seus braços ou pernas na minha barriga. E isso também no fim de semana. Se eu fosse ao banheiro, você acordava. Em todo esse tempo eu pensava: "tudo bem, calma Renata. É temporário, daqui a pouco a vida volta ao eixo". Então, quando os meus médicos acabaram, você se adaptou à creche (e até estendia os bracinhos para ir para o colo das professoras) e eu ia finalmente criando uma rotina para mim.... Você ficou doente. A gripinha foi se agravando e foi preciso que você ficasse uma semana em casa. Em vez de melhorar, foi piorando e acabou como no relato do Facebook acima, com a gente indo para o hospital e você ficando mais uma semana em casa: pneumonia. E eu gripada!!! Foi difícil, muito difícil. Em algumas horas eu achei que não daria conta, que não era boa o suficiente para ser mãe em tempo integral. E, mais uma vez, fiz o exercício da gratidão e me agarrei à ideia de que era só mais uma semana. E que eu tinha tanto o que agradecer por não ter que ir trabalhar, por poder estar ali por você. E, afinal, na semana seguinte você voltaria para a creche, os compromissos já teriam acabado e eu teria 4 horinhas por dia exclusivamente para mim, para retomar a minha vida, para fazer o que eu quiser!!! Ah, que ironia...

Há poucos minutos recebi uma ligação da creche avisando que eles vão entrar em GREVE!!! POR TEMPO INDETERMINADO!!!! Parecia pegadinha! Não era. Minha vontade foi de chorar, entrar em desespero. Como manter o otimismo assim? Qual perspectiva agora adotar? O que vai ser do meu curso de italiano? Das minhas idas à psicóloga que eu acabei de retomar? De todos os meus projetos? Eu não vou ao pilates há 2 semanas e ele é o único exercício que eu pratico! Como se planejar por tempo indeterminado? Por algo que pode acabar em 1 semana ou durar meses?? Sacanagem! Justo agora? AHHHHHHH!!!!!!

Maaaas, de novo, tento focar no positivo para não pirar. Tento pensar que eu ainda não tenho emprego e que cheguei a pensar em ficar com você em casa até você compelatar 1 ano. Imagina se fosse preciso pedir demissão de um emprego que acabei de começar ou ter que procurar/contratar uma babá assim, no desespero! Pelo menos eu posso ficar em casa com você. Sinceramente, não queria (não o dia inteiro) mas posso. Então, vamos agradecer que dos males é o menor e tentar viver um dia de cada vez. Mas, poxa, que exercício F%&# de se fazer!!!

Vitória, 1º de abril de 2016 - 10 meses e três dias

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