quarta-feira, 17 de agosto de 2016

E você foi para a creche! Meu Deus!

Postado por Mãe do André às 18:29
É só uma creche, mas parece bicho-papão
São 9h40 da manhã e eu estou sozinha em casa pela primeira vez em exatos 9 meses. Sim, 9. Neste ano bissexto  posso comemorar seu "mesversário" no dia certo e com um marco importante: seu primeiro dia efetivo na escolinha. O período de adaptação que durou duas longas semanas acabou oficialmente e, a partir de hoje, passaremos 4 horas por dia separados um do outro. Que dor! Que alegria! Hoje eu me sinto a pessoa mais incoerente e instável do planeta, indo do céu ao inferno numa montanha russa de emoções cheia de loops. Eita bicho bobo que é mãe. 

A adaptação começou da melhor forma possível, com você super-empolgado de ver outras crianças e sorrindo para todos à sua volta: professoras, funcionários e até pais de alunos. Achei que seria fácil. Você realmente adora estar com outras crianças. Mas aí você percebeu que eu não ficaria na sala para sempre e começou o drama: meu e seu. As professoras garantem que você é um dos primeiros a se acalmar, mas ir embora enquanto você chora e estica as mãozinhas em minha direção é um dor tão grande que neste momento eu preferia ser torturada pela máfia chinesa. E ver você chorando sentadinho e sozinho no meio da sala? Vontade de invadir o lugar, pegar você no colo, sair correndo e não voltar nunca mais!!!!

Eu nem vou escrever tudo o que eu senti neste período porque meu lado racional ainda tem algum senso de ridículo, mas vou dar a você uma ideia da loucura que foram esses dias.

"Eu sou uma mãe horrível" foi uma das coisas mais leves que a culpa me fez sentir nas últimas semanas. Eu fico me torturando lembrando que eu ainda não trabalho, que eu poderia ficar com você mais tempo em casa e fico me flagelando com todos os possíveis traumas que eu poderia estar fazendo você passar "à toa", já que eu "não preciso" ter você na creche. Mas, filho, sinceramente, eu preciso! Só quem já ficou 24 horas por dia por conta de um bebê sabe o quanto é pesado. Eu sinceramente acredito que não daria conta sem surtar. Sei que muitas mães por aí dão conta e com louvor, mas eu preciso ser honesta e reconhecer que não faço parte desse time. Eu preciso ter um pouco da minha vida de volta e não sei nem como explicar minha alegria ao começar minhas aulas de italiano e o pilates. "Eu estou viva de novo", "sou alguém além de mãe e isso é maravilhoso", pensava - mas não sem culpa por me sentir assim.

Não me entenda mal, filho. Eu amo ser mãe e adoro a possibilidade  de acompanhar sua vida de pertinho. É um privilégio que nem todo mundo tem e que eu agradeço muito a Deus. Aliás, até o fim do ano você ainda é a minha prioridade e o trabalho será apenas bicos, nos intervalos que você permitir. Mas quero (e sinto que preciso!) voltar a trabalhar. E eu não entendo essa pressão da sociedade que diz que quando um filho nasce a mulher deve ser apenas e exclusivamente mãe, 24 horas por dia. Eu não entendo por que querer uma folga mostra como você é incompetente e péssima nessa função. Não sou. E acho que ter o direito de ser mulher 4 horas por dia, cinco vezes na semana (pelo menos) vai me fazer uma mãe muito melhor. Sabe por que, meu filho? Porque quando eu estiver com você, estarei 100% presente e não preocupada com as coisas que quero fazer ou mentalmente longe resolvendo algo no celular. Por que eu vou estar com baterias recarregadas. Por que ninguém cuida bem de outro ser humano se não estiver bem e sabendo cuidar de si mesmo. Sim, eu sou mais do que mãe, mesmo que a maternidade seja uma das parcelas mais importantes da minha vida neste momento. E tudo isso fez com que hoje parecesse férias! Aquelas férias tão aguardadas e também comemoradas com tanta euforia que você nem sabe muito bem o que fazer neste primeiro dia. 

Eu sei que nos próximos dias essa "folga" tão aguardada não será nada divertida, preenchida que será com afazeres domésticos acumulados, médicos adiados e trabalhos voluntários abandonados. Mas, sim, estou feliz de ter tomado essa decisão. Com o coração na mão, um pouco culpada, mas feliz. Feliz, mas mesmo assim me sentindo péssima quando preciso deixar você chorando na creche. Eu me pergunto todos os dias se é realmente a melhor opção, se isso irá fazer bem a você e se tanto choro não seria um sinal de que você não se adaptou a esse novo lugar. Sou do time que entende a necessidade de um bebê ficar grudado na mãe. Sou dessas que dá colo sempre que você quiser e por quanto tempo você quiser. Sou contra deixar um bebê chorando para ele "aprender a lição" ou aprender a "se virar sozinho". Eu aceito seu choro, filho, ele faz parte da comunicação infantil e eu quero que você se sinta à vontade para expressar suas emoções, mesmo as consideradas negativas. Eu entendo que mesmo que você goste de estar com outras crianças, preferiria ter sua mãe junto e entendo que chore sua frustração. O que eu não suporto não é o choro. O que me dói na alma é ver você chorando sozinho e abandonado num canto da sala porque as professoras não têm braços para consolar todo mundo ao mesmo tempo. E essa imagem parece uma navalha enfiada no meu peito e me torturando a manhã toda. O que me dói profundamente é pensar que você possa estar se sentindo desamparado. 

O que me consola é a ideia de que a adaptação nunca é fácil e que você iria passar por isso eventualmente. Na nossa realidade, babá está fora de cogitação. E dizem que quanto mais velha a criança, mais difícil esse período inicial. O que me consola é pensar em todos os benefícios e lembrar que tirar você da creche agora é apenas adiar o enfrentamento dessas dificuldades. Eu realmente acredito que a creche é a melhor solução. Acho de verdade que você vai se desenvolver melhor lá e que terá muitas boas lembranças. É um lugar com uma proposta pedagógica séria e que, como disse, mais dia ou menos dia você iria enfrentar. E eu continuo me apegando ao meu mantra: "você não vai se lembrar". E eu vi você parar de chorar antes mesmo de eu sair da sala e vejo você brincar feliz e tranquilão quando eu volto para buscar você. E eu vi a empolgação que você fica no meio de outras crianças. E eu ainda vou ficar à sua disposição a maior parte do dia e só volto a trabalhar aos poucos, depois que passar essa fase inicial mais pesada. Mas.... DEUS COMO É DIFÍCIL!!!!

Muito difícil!! Eu espero, sinceramente, que a minha adaptação seja tão rápida quanto a sua. 

Agora deixa eu correr e tomar banho rápido pois meu primeiro dia de folga já está quase acabando e eu preciso ir buscar você. Espero encontrá-lo feliz!!


Vitória, 29 de fevereiro de 2016 e 3 de junho de 2016 - 9 meses e 1 ano e 5 dias

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