quinta-feira, 5 de maio de 2016

E você vai para a creche (que dor!)

Postado por Mãe do André às 20:00
Oh! Como mãe sofre!!!
Chegou o dia da decisão, filho. Muito antes do que a mamãe gostaria. Ontem eu consegui vaga na creche da prefeitura, um lugar disputado a tapa e digno de comemoração - quase um milagre! Mas eu não comemorei. Senti um aperto no peito o dia inteiro, até chorei, e já comecei o processo de culpa "sou a pior mãe do mundo", só porque sinto que preciso de um tempo para mim. Mãe é bicho bobo, né? Mas é difícil, filho. E eu vou te contar toda a saga para explicar o porquê.


Minha única certeza quando pedi demissão, filho, era que o restante de 2015 seria todinho seu. Até pintaram umas oportunidades de trabalho maravilhosas e tentadoras, mas seus 6 meses de amamentação exclusiva era para mim uma meta muito importante que eu não arriscaria por nada (e, bem ou mal, nem toda oportunidade foi para frente). Para 2016, apenas uma meta: retomar a vida profissional, mas aos poucos, sem pressa e, de preferência, dentro do meu "plano B" para ter maior flexibilidade de horário. Pois bem, com isso em mente eu comecei a conhecer as creches do bairro, sem compromisso. A ideia não era escolher, era conhecer as possibilidades e os preços para pensar com calma no que fazer. Eu e seu pai conversamos muito sobre quando considerávamos ideal e quando seria possível fazer sua matrícula (afinal, ideal e possível são dois coisas completamente diferentes que precisam ser levadas em consideração). Depois de muita conversa, leitura e pesquisa, chegamos a duas conclusões.

A primeira era que você iria para a creche mesmo em 2016. Eu já sinto falta de ter tempo para mim, de fazer uma atividade física regular ou mesmo marcar um médico sem depender do horário do seu pai, suas tias ou das suas avós. Mesmo que aos poucos e devagar, quero retomar a minha vida. Suas vovós são muito ocupadas, não temos ninguém da família ou de confiança para fazer este papel de babá - contratar uma, então, fora de cogitação! A dúvida era quando. A segunda conclusão (confesso que era mais "achismo" porque não fizemos tantos cálculos) é que, financeiramente, era possível esperar um pouco mais. Em alguns aspectos era até melhor. Mamãe escolheu uma profissão que paga pouco, filho, e na atual situação econômica do país eu provavelmente pagaria para trabalhar se colocasse na balança os custos da creche e os meus ganhos. A terceira conclusão era que fazia mais sentido esperar você começar a andar, ou seja, colocar você na creche só por volta de 1 aninho de vida. Porque antes disso o foco das maiorias das creches que eu visitei era mais de ser cuidadora da criança, com um enfoque pedagógico muito reduzido. Cuidar de você eu mesma cuido, né? Creche para mim é, ou pelo menos deveria ser, um estímulo a mais ao seu desenvolvimento.

Mas aí, a realidade bateu. Quando eu comecei a fazer essas "visitas desinteressadas" me dei conta que é agora, no fim do ano, o período das matrículas e que não dava para deixar a decisão para o ano que vem. E o principal agravante era o seu aniversário no meio do ano. Por mais que eu sentisse um papo de vendedor no ar, as creches avisaram que elas até aceitam matrículas no meio do ano, mas que apenas se sobrassem vagas, o que é muito difícil. Para garantir seu espaço, só começando em fevereiro. E aí??? Valia a pena arriscar e pagar para ver se haveriam ou não vagas depois?? O pior de tudo é que eu não amei nenhuma creche que visitei. Gostei da maioria, fiquei bem impressionada com algumas, mas ficava profundamente incomodada com o espaço físico: tudo muito apertado, fechado e, algumas vezes, escuro. Sei que para as crianças do seu tamanho, filho, aquela vaga de garagem adaptada como pátio é um mundo. Mas me incomodava. Era só uma garagem!! E criança precisa correr. E tudo tão caro...

Paralelo a tudo isso, monitorava as creches da prefeitura, mas quanta informação desencontrada! E que dificuldade de conseguir uma informação. Fui lá três vezes até conseguir visitar o espaço e aí... fiquei encantada! Era enorme, tinha pátio, árvore, espaço ao ar livre e brinquedos cobertos. Demos uma sorte, filho! Mamãe participa de um grupo de whatsapp com outras mães e algumas delas também moram aqui no bairro. Então esse monitoramento das creches públicas foi feito a muitas mãos. Cada hora era uma informação diferente, mas, pelo menos, tinha acesso a muitas informações. A princípio, eu precisaria colocar você em uma lista de espera e isso só podia ser feito depois que você completasse seis meses. Eles entrariam em contato se surgisse a vaga (tem gente nessa lista há 8 meses e nada!). Depois me informaram que deveríamos ir lá no dia 11 de novembro, independentemente da idade porque a matrícula seria por ordem de chegada. Depois, a informação era a de que haveria sorteio.
Aí vem a parte da sorte. Com a informação do dia 11 na cabeça e sabendo que no dia 10 eu estaria ocupada, resolvi ir lá no dia 9, uma segunda-feira, tentar conhecer finalmente a creche e confirmar a informação da matrícula. Disseram que visitas só a partir de 17h30, quando as crianças já haviam ido embora. Cheguei lá 17h45 e encontrei um "Ih... esse horário não pode visitar mais, não, geralmente a escola já estaria até fechada, tem que marcar hora para visitar". Mas como a funcionária esperava uma mãe atrasada para buscar o filho, ela resolveu ver com a pedagoga se já podia fazer o agendamento para mim e... LIBERARAM MINHA VISITA! Como eu disse, muita área aberta, pátio grande com árvores e parte protegida do sol e chuva (olha mamãe já pensando no futuro). A salinha para bebês da sua idade é simples, mas muito limpa e arrumada, com banheiro e salinha de refeição anexos. Era grande, mas o número de crianças também: 20!!! No entanto, era praticamente a mesma proporção criança/professor das particulares que visitei. E nessa visita me explicaram que a data de 11 de novembro era uma previsão de quando o sistema já estaria atualizado com as rematrículas e, portanto, liberado para novos cadastros. Na verdade, eu poderia ir no dia seguinte mesmo, já de manhã, inscrever você! Se fosse dia 11 não conseguiria nada, pois a funcionaria que faz esse serviço estaria de folga!

E às 7h30 da manhã eu já estava lá, com os documentos em mãos, para fazer o tal cadastro e tentar entender as regras e as possibilidades de entrar naquela creche tão disputada. E... MILAGRE! A funcionária disse que eu era a sexta mãe a ir lá e que você já estava com a vaga garantida, pois éramos moradores do bairro (tínhamos prioridade) e preenchíamos todos os pré-requisitos. Marcou a matrícula para a semana seguinte, pois é feita com dia e hora marcados, e explicou que para a sua idade só existe uma única turma, matutina, e que é quase impossível sobrarem vagas para o meio do ano. E mais: que é mais fácil conseguir vaga para esta turma inicial do que para a seguinte, já que a rematrícula preenchia a maioria das vagas. Ou seja, ou você começa na creche em fevereiro de 2016 ou somente em 2017 e, ainda assim, se eu der sorte de conseguir vaga.

Como eu disse, essa é uma creche muito disputada. Conseguir uma vaga é uma vitória enorme e eu achei que iria sair de lá comemorando. Mas mãe é mãe. Saí de lá com o coração apertado, uma vontade de chorar... Pedi para o seu pai se encontrar comigo no portão do prédio e disse que precisava de um abraço. Chorei até! Ô bicho bobo que é mãe!! Acho que o drama vem com a placenta! Mas é que você me parece tão pequeno para já ser entregue aos cuidados de outra pessoa e disputar atenção com tantas crianças... Eu me senti tão egoísta por já querer matricular você quando ainda nem tenho emprego. Porque, pensando bem, dava para segurar você em casa até 2017, só que seria pesado para mim ficar sozinha com você o tempo todo por tanto tempo e sem trabalhar. Ou seja: fevereiro de 2016 parece cedo demais e fevereiro de 2017, tarde demais. E tudo isso aconteceu nas duas semanas mais difíceis dos últimos quatro meses (porque os primeiros 30 dias nada supera, rs). Você, que sempre dormiu muito bem à noite, passou os últimos 15 dias acordando várias vezes de madrugada e se recusando a dormir de dia. Ficou mal humorado, resmungando o dia inteiro e eu quase pirei nesse processo (esta noite você SÓ acordou duas vezes e está tirando uma soneca agora, só por isso tenho condições de escrever!). E muita gente me contou que a mesma coisa aconteceu com os filhos e eles nunca mais dormiram a noite toda!!! Fiquei pensando: um ano inteiro assim e sem ajuda? Não vou dar conta!

Ouvi muitas outras mães que ponderaram que sem um vaga garantida eu não teria como procurar um emprego. E se aparecesse uma ótima oportunidade e eu não conseguisse matricular você nem nas particulares? Como começar a trabalhar sem saber que horário eu teria disponível e sem você ter passado pela adaptação ainda? E as doencinhas tão comuns na fase inicial? Quem cuidaria de você se eu já estivesse trabalhando? Para acalmar meu coração e tomar uma decisão, liguei para a tia Ja, que trabalha na secretaria de Educação, e só ouvi coisas boas daquele lugar. Ela me contou de alguns projetos pedagógicos lindos, disse que a creche tem professores com pós-graduação e até mestrado e doutorado e que mesmo com os bebês há um trabalho pedagógico bacana. Não é só passar o tempo.

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Por duas vezes tentei terminar de escrever esta carta e não consegui, filho. A verdade é que eu não conseguia concluir a questão na minha cabeça e isso significou um bloqueio "literário" de alguns meses, rs. Achava tudo confuso, que precisava ser reescrito, que deveria terminar o relato com a minha decisão que, no fundo, acho que nunca tomei. E só agora, meses depois, é que consigo entender isso. Eu matriculei você e decidi pagar para ver. Testar. Levar você no primeiro mês e ver como eu e você nos sairíamos com a creche. Fiz a matrícula sem entendê-la como uma decisão, sem a certeza de que era a melhor decisão. Pensei que era melhor garantir a vaga e desistir depois do que tomar uma decisão dessa em uma semana e me arrepender mais tarde. Seu pai foi comigo fazer a matrícula e o aperto no meu peito era físico!! Ficava me segurando para não chorar o tempo todo.

Acho que me sentia incompetente como mãe porque eu tinha condições materiais para deixar você mais tempo em casa e, no fundo, uma parte de mim acredita que isso é o melhor. Mas não me sentia em condições de encarar mais um ano inteiro dentro de casa me relacionando apenas com você em horário comercial. Eu tinha que admitir que precisava de um tempo para mim, precisava de ajuda, precisava de mais. E isso era um motivo enorme de culpa. Eu me sentia derrotada. É drama, eu sei, mas essa era a verdade que eu não queria admitir na época.

Sim, você foi para a creche. Está lá neste momento enquanto eu escrevo. E a adaptação não foi (não está sendo) nada fácil. Mesmo irracionalmente, mesmo sabendo que não tenho motivos para me sentir assim, ainda sinto toda essa sensação de derrota e incompetência. Ainda preciso trabalhar muitas dúvidas e sentimentos negativos dentro de mim. Ainda não tenho certeza de que foi a melhor decisão. Mas isso já é assunto para outra carta.


Vitória, 11 e 16 de novembro de 2015 (5 meses e 13/18 dias) e 13 de abril de 2016 (10 meses 13 dias)

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