domingo, 8 de maio de 2016

As vantagens da maternidade

Postado por Mãe do André às 08:00
Mais uma vez, um texto fora de ordem para não deixar a data passar em branco! :)

Meu palhacinho
Filho, preciso confessar uma coisa para você. Apesar de não ser politicamente correto dizer isso, eu sempre achei que existiam muito mais desvantagens do que vantagens em se ter um filho - e, por isso mesmo, passei boa parte da minha vida dizendo que não seria mãe. Superentendo quem não quer a maternidade em sua vida e sempre afirmei que não existia um único motivo racional para ser mãe. É tanto trabalho, tanto gasto, tanta responsabilidade, tanta preocupação... Ah! Mas nós não somos apenas seres racionais. E como as emoções pesam na nossa qualidade de vida!!! Em poucos dias vou comemorar meu primeiro Dia das Mães com você nos meus braços. E a data me fez parar para pensar em todas as vantagens que a maternidade me traz (coisas que, provavelmente também se aplicam aos pais). E que vantagens!

1 - Rir todos os dias
Criança traz felicidade. É fato. Basta um toque seu, uma encostada de cabeça no meu ombro ou simplesmente observar você dormindo para meu coração se encher de alegria. Mas você vai além, filho! Você é um palhacinho nato e fica fazendo macaquice só para me ver rir. Bastou, um dia, eu falar um alto e sonoro "ops!" quando você segurou um brinquedo com a boca, sem usar as mãos, para você passar a me perseguir pela casa com cara de sapeca, trazendo entre os dentes qualquer objeto que conseguir colocar as mãos. Até eu olhar, fazer uma cara de espanto e sorrir!! Que figurinha! Também morro de rir com sua revolta por causa da falta de controle que tem em relação ao seu corpinho (que raiva aquela colher que não chega na boca!). E quando você quer engatinhar por baixo da cadeira, mas ela não dá altura para você passar? Você bate a cabeça na cadeira, chora e tenta de novo, repetidamente, como se dissesse "sai daí que eu quero passar". 

E sua incrível capacidade de saber que tipo de brincadeira fazer com cada membro da família? Sua avó tem refluxo e vive tossindo. Então, quando você quer chamar atenção dela, finge tossir!! Sua tia Elis adora uma farra e você grita sempre que ela está por perto. Eu tenho mania de "estalar" a língua no céu da boca, e você
Olha, mamãe! Ri, mamãe!! :D
faz o mesmo quando eu não olho para você. Que engraçado! Não tem um único dia em que eu não dê uma risada por sua causa, filho. Até mesmo quando você está doentinho, algo me faz rir, nem que seja uma vez!


2 - Redefinir nosso conceito de felicidade
Eu percebo que, antes de ter filhos, é comum as pessoas associarem a felicidade a conquistas e a alguns acontecimento da vida: conseguir aquele emprego, fazer aquela viagem, comprar algo, ter seu trabalho reconhecido. Mas os filhos colocam as coisas em perspectiva. Pelo menos comigo foi assim. Eu passei a perceber a felicidade nas coisas mais simples e banais da vida. Pergunte a novos pais como eles se sentem quando conseguem dormir 6 horas seguidas ou quando veem o filho concentrado brincando sozinho. E ver o sorriso no rosto da cria depois de alguns dias doentinho? É incrível a felicidade que eu sinto quando percebo você fazendo coisas que não fazia antes: sentar, engatinhar, ficar em pé, abrir ou fechar uma tampa, bater palmas. Coisas tão banais, que eu sei que você vai fazer mais dia ou menos dia, mas que são comemoradas como se houvéssemos ganhado na loteria! Às vezes me empolgo tanto que você até se assusta, rs. E quando você abre aquele sorrisão e até dá gritinhos só porque eu ou seu pai chegamos em casa ou entramos no seu quarto de manhã? Aquele brilho nos olhos só por nos ver? Não dá para descrever a sensação. 

E nada, nada, nada nesse mundo é capaz de explicar os efeitos de uma gargalhada de bebê no organismo de uma pessoa! Não tem cansaço, fome, noite maldormida ou problema que não se dissolva nesse bálsamo que aquece ouvidos e coração. Ainda mais porque é preciso tão pouco para fazer você rir! Um "ops", uma sacudida de cabeça, um paninho na cara, um rosto que aparece por trás da porta, simplesmente dizer "vou pegar". Basta a minha disponibilidade e a minha presença para provocar a felicidade mais pura e verdadeira que um ser humano pode sentir. Sem contar que agora minha felicidade não é mais minha, é plural. Claro que eu não seria completamente feliz se seu pai, algum parente ou um grande amigo estivesse na pior. Mas com filho o buraco parece ser mais embaixo. Eu sinto que sou incapaz de ser feliz se você não estiver bem. A minha felicidade parece estar para sempre, a partir de agora, atrelada à sua (pesado isso, né? Foi mal, filho, é incontrolável).

E são os pequenos momentos que provocam a felicidade mais profunda que já senti. As coisas viram só coisas, as conquistas meros detalhes, a importância de tudo parece ser redimensionada ao que realmente importa. Parece óbvio na teoria, mas na prática só você conseguiu me mostrar isso, filho.

3 - Redescobrir o mundo / ver a vida de outro ângulo
Olha que incrível: uma garrafa d'água!!!
O mundo é incrível! A Natureza é fantástica! E é uma pena que a gente se acostume com tudo isso ao longo da vida. Todo mundo deveria conviver com uma criança para voltar a entender como é ver o mundo pela primeira vez. Porque o óbvio para mim é uma grande descoberta para você. E esse seu olhar de "uau!", essa capacidade de admirar o que está a nossa volta, não deveríamos perder nunca. Para quem está com uma criança tudo é motivo de "ohhhhhhhh!!". Você arregala os olhinhos, aponta os dedinhos, abre a boca admirado e exclama onomatopeias e sons ininteligíveis de espanto para: uma árvore, os carros passando, a bicicleta, a buzina do vendedor de picolés, os botões de qualquer coisa, as luzes do elevador, o reflexo no espelho, o armário escondido atrás da porta, as cores e formas das frutas na fruteira, os talheres, o ventilador de teto, o barulho do avião. Tudo é novidade. Tudo é incrível e admirável. E, no fundo, não é mesmo? A Natureza não é maravilhosa? Perfeita? As invenções humanas não são mesmo admiráveis?

E eu nem vou falar dos bichos! Do pombo ao cachorro, da formiga ao gatinho, do passarinho ao pavão. Basta um deles aparecer na sua frente para você enlouquecer! Eu aproveito esse entusiasmo para fazer o exercício de ver a vida de um novo ângulo. Tento imaginar o que eu pensaria se estivesse vendo aquilo (o que quer que seja) pela primeira vez. Não só consigo entender sua euforia como redescubro esse mundo em que eu nem prestava mais atenção.

4 - Desacelerar
Não tem jeito. Criança tem seu próprio ritmo, suas próprias necessidades. E se você for respeitá-las vai ser impossível fazer as coisas no ritmo e na velocidade de sempre. É impressionante como eu gasto o dobro do tempo (às vezes mais) para fazer as coisas com você. Se antes eu e seu pai resolvíamos uma lista enorme de coisas em 2 horas no shopping, hoje esse tempo, às vezes, não dá nem para começar UMA coisa. Tudo vai depender de como os astros vão se alinhar e influenciar o humor, a paciência, a fome e o intestino do bebê! :D Mas, filho, eu acho tão importante respeitar seu tempo! Voltando ao tópico anterior, é só desacelerando que você é capaz de descobrir o mundo à sua volta, experimentar seus limites, treinar suas habilidades. E num mundo tão acelerado, onde precisamos fazer cada vez mais coisas em cada vez menos tempo, esse talvez seja o exercício mais difícil (eu também diria o mais saudável) que um pai pode fazer por um filho e por si mesmo. E essa pode ser a maior vantagem que a maternidade me trouxe: sair dessa roda-viva e dar tempo para o que realmente importa, mesmo que eu seja "menos produtiva". É parar para pensar se aquela tarefa tão importante é realmente importante assim. É rever prioridades e entender que nem tudo pode ser prioridade. Com você, filho, parece mais fácil julgar o que realmente importa. Fica fácil entender que vale a pena interromper a linha de raciocínio e terminar de escrever essa carta só no dia seguinte porque você acordou e quer explorar a espiral do caderno. Que vale a pena entregar a você a caneta que eu estava usando para que você a observe atentamente por longos segundos, use-a como baqueta de bateria neste mesmo caderno e termine colocando-a na boca para me fazer rir (sim, tudo isso aconteceu! S2).

Eu e seu pai estávamos conversando sobre isso outro dia quando percebemos que estávamos sempre atrasados para levar você na creche e sempre na correria ao ir buscá-lo. E isso estava, de certa forma, prejudicando você. Porque, filho, a ida e a volta da creche não são meros deslocamentos de um ponto A a um ponto B. Você quer olhar cada carro que passa, chegar perto de cada cachorro, dar tchau para cada bicicleta, olhar as copas das árvores, "conversar" com cada criança do caminho. Para muita gente, perda de tempo inútil. Mas eu vejo como uma pessoinha descobrindo o mundo em que ela vive, tentando entender o que é tudo aquilo e como as coisas funcionam. Não seria maravilhoso deixar você explorar essa realidade? Sozinha, eu levo três minutos até a creche. Ultimamente, gastamos cerca de 10 (às vezes mais!). Tudo porque, um dia, você estava inquieto no meu colo e eu não entendia o porquê. Estava "atacado" e eu já estava perdendo a paciência com você resmungando, esticando os braços para "o nada" e se remexendo tanto que quase caía dos meus braços. E era cíclico: agitava por alguns segundo, parava por alguns segundos. Não conseguia entender. Até que num trecho muito apertado, de calçada bem estreita, você se agitou novamente, esticou o bracinho, e seu dedinho indicador em riste alcançou o tronco de uma árvore. E você sorriu! Era só isso o que você queria, era só esse o motivo de tanta agitação: você queria tocar nas árvores!!!! Tem coisa mais meiga? E eu toda apressada achando que você estava manhoso. Desde então, a volta para a creche tem sido no seu ritmo e se tornou uma verdadeira exploração do nosso bairro: paramos em praticamente todas as árvores e plantas do caminho para você encostar no tronco ou passar a mão nas folhas, deixo você mexer no jardim dos prédios, vamos procurar o Romário (o cachorro do vizinho), acompanhamos o caminhão descendo a rua. E isso é tão maravilhoso!!! Só preciso não cair na armadilha de desrespeitar você ao contrário: tem dia que você não está nem aí para as árvores e só quer voltar para casa! rs

E aí eu percebi que, ao contrário do que eu acreditei a vida inteira, correr para ser produtivo não é tão importante assim. E daí se chegarmos alguns minutinhos atrasados? Você irá perder o que? Dez minutos de creche? Eu vou perder o quê? A fama de ser pontual? Três minutos do almoço? A chance de esperar mais na fila? Mas o que você irá perder se matarmos em você essa sede e essa curiosidade de descobrir e explorar o mundo à sua volta? Se você aprender que suas vontades nunca serão levadas em consideração por seus pais? Claro que o mundo ideal não existe, filho. Nem sempre isso vai ser possível. Há compromissos para os quais não se atrasa, tem dias que a ida para a escola será só um deslocamento, há plantas perigosas que você não poderá tocar e haverão dias em que cortar coisas da lista de tarefas será prioridade e você será obrigado a me acompanhar. Mas você já me ensinou que desacelerar não é só possível mas também essencial. Que fazer menos coisas e mais lentamente não vai provocar o apocalipse zumbi e me transformar no ser mais inútil do planeta. Que aquela tarefa urgentíssima pode, sim, ficar para para amanhã. Que fazer em uma semana o que poderia ter sido feito em um dia pode trazer benefícios maravilhosos para a nossa família. Que não vamos morrer pelados porque não deu para ligar a máquina de lavar roupas naquele dia. Que dá para sobreviver mais um dia sem o que parecia ser vital. Que eu não preciso chegar tão rápido assim. Que perder 30 minutos da festa pode significar apenas menos estresse. Enfim, que pisar no freio pode significar mais saúde para mim, uma infância mais feliz para você e uma conexão bem mais profunda entre a gente. E para uma jornalista acostumada a estar ligada no 220v, conhecida por sua rapidez e que até gosta de uma correria, esse é um aprendizado que não tem preço. Não sou perfeita, filho, não consigo desacelerar sempre. Não sei como será quando eu tiver os horários rígidos de um emprego. Sinto que esse vai ser um exercício constante e diário nos próximos anos. Mas eu sinceramente acho que esse esforço não só vale a pena como poderia fazer o mundo mais feliz se mais pais tentassem aprender isso com seus filhos.


Nossa! Este ainda é o meu primeiro Dia das Mães! E olha tudo o que você já me ensinou. E nem vou falar aqui sobre o exercício da empatia, de ser menos egoísta, de saber colocar a prioridade de outra pessoinha na nossa frente. Nem vou falar desse amor imenso que cresce a cada dia. Só quero agradecer o privilégio que é ter você como professor. Obrigada, meu filho, por já ter me dado tantos presentes!!



Vitória, 5 e 6 de maio de 2016 (11 meses e 6-7 dias)

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