domingo, 24 de abril de 2016

"Não é a mamãe!"

Postado por Mãe do André às 09:00
NÃO É A MAMÃE!!!!

Ei, filho! Lembra quando eu escrevi aquele texto todo derretido dizendo o quanto era incrível as mães serem uma espécie de  super-herói e o quanto o colinho de mãe parecia criar um campo de força capaz de proteger os filhos de qualquer perigo? Como eu estava achando o máximo ter a capacidade de proteger e acalmar meu filho em qualquer situação? Eu confesso que não tinha pensado no lado negativo desse superpoder. É que ultimamente você anda naquela fase “não é a mamãe”, como diria o dinossauro daquele antigo programa de TV. E isso não está sendo muito legal. Nem para mim e, principalmente, nem para o coitado do seu pai.


Bom, você sabe, meu filho, por causa de várias cartas que mamãe já escreveu, que seu pai é um paizão. E é um parceiro da mamãe com P maiúsculo. Tudo o que mamãe faz, papai também faz. A única coisa que papai não faz é dar mamar para você, quer dizer, ele não dá peito porque não tem leite no peito dele. Mas se mamãe deixar um leitinho na geladeira e precisar sair, aí até mamar ele também vai dar para você. E ultimamente tem acontecido umas coisas que tem cortado o meu coração e o coração do seu pai.

Às vezes você está chorando, injuriado, com dorzinha, com sono (aliás, como agora você fica com sono e faz de tudo para não dormir) e seu pai está lá, ninando você, cantando para você, dando colinho, dando beijinho, dando carinho, mas nada acalma você. Sabe, filho, eu e seu pai temos um acordo, desde que você era um bebezinho de poucas horas de vida: quando você está precisando de um consolo mais demorado a gente faz o revezamento, isto é, seu pai fica com você 10, 15, 20 minutos (dependendo um pouco do dia, da disposição e do cansaço de cada um) e, se depois desse tempo você não se acalmar, ele passa você para a mamãe e eu fico o mesmo tempo, 10, 15, 20 minutos. Se você ainda precisar de mais colinho antes de ir para a cama, volta para o colo do papai. E se precisa, volta para o colo da mamãe. E assim sucessivamente. É quando era um bebê de poucos dias de vida e estava sofrendo com cólicas, esse sucessivamente acontecia durante muuuito tempo. Era uma solução para que a gente conseguisse descansar minimamente e aguentasse a maratona das cólicas. Claro que na hora do "descanso" não dava para dormir com você chorando, mas pelo menos ficávamos na horizontal, descansávamos pernas e costas e ganhávamos alguma energia para recomeçar. Agora que você já está maiorzinho e que a gente já conhece seus sinais, que você também já está medicado contra o refluxo e tudo mais, é muito raro o revezamento passar de um para o outro. Geralmente vai uma vez comigo e uma com seu pai (ou vice-versa) e isso já basta.

Pois bem, quando a gente começa oficialmente o revezamento ou quando seu pai me entrega você para preparar o remedinho (você chora tanto que, pensamos, só pode ser dor), você simplesmente PARA DE CHORAR NO COLO DA MAMÃE!! IMEDIATAMENTE! Às vezes eu pego você exatamente na mesma posição, do mesmo jeitinho que seu pai estava pegando você e que não fazia você parar de chorar. Mas no meu colo, só por sentir o meu cheirinho, você para e se acalma. Olha, filho, eu confesso, às vezes isso me provoca um momento de fúria e me dá vontade de você jogar pela janela!!! Afinal, depois de 8 horas seguidas, o dia inteirinho com você sozinha em casa, à noite mamãe bem que mamãe queria um descansinho, cinco minutinhos de pernas para o ar. Mas o que dá dó mesmo é a cara de tristeza e desapontamento do seu pai. Aquela cara de quem diz “o que eu estou fazendo de errado?” Por que, filho, depois de 8 horas de trabalho e um dia inteirinho longe de você, ele chega morrendo de saudade. Doido para dar colo, brincar, beijar e abraçar você. E eu percebo que essa sensação de “eu não sou suficiente” corta do coração do seu pai. A carinha dele é desoladora. E aí eu fico triste também. Mas eu entendo, filho. Tudo é fase, né?

Muita gente diz que isso é birra, que os pais estão sendo manipulados, que eu estou acostumando mal você porque dou todo colo que você quer. Mas sabe, filho, eu me apego a algumas explicações científicas que eu já li por aí. Alguns estudiosos mostram que até bem pouco tempo, você não tinha consciência de que eu e você éramos duas pessoas diferentes. E é justamente nessa fase, entre o sexto e o oitavo mês de vida, que você se dá conta de que mamãe é uma pessoa e você é outra. Então você percebe que aquele é um outro ser, a mãe, que dá o alimento e garante sua sobrevivência (pensando de maneira primitiva já que nos tempos pré-históricos só a mãe tinha o alimento e se o bebê se afastasse da mãe morria). Por causa desse instinto de conservação e sobrevivência, é simplesmente apavorante para o bebê perceber que está separado da mãe.

Com o tempo, meu filho, você vai descobrir que não só pode sobreviver como também viver bem longe de mim. E aí essa fase vai passar. Sinceramente? Eu espero que passe logo porque, nossa filho, seu pai faz tudo por você. E dá uma dó ver quando ele percebe que ele não consegue consolar você e que, mesmo ele estando morrendo de saudade do filho, você só quer o colinho da mamãe. Que dozinha dele!!! E também não vou negar: mamãe bem que queria um descanso. Mas tudo bem. Eu foco na fase: é a chamada angustia da separação. Pode durar alguns meses (ai meu Deus!), mas passa, como tudo na vida. E você pode ficar tranquilo, meu filho, porque mamãe está aqui do seu ladinho e vai ficar sempre que você precisar. Então, se você se assustar, se apavorar e só quiser o colinho da mamãe, fica tranquilo que a mamãe vai estar aqui para dar esse colinho. Maaaas... se você puder revezar com o papai e puder superar logo essa história de “não é a mamãe”, a gente ia gostar muito! Primeiro porque isso está ficando extremamente cansativo – eu não consigo ir ao banheiro ou beber água sem você entrar em desespero – mas, principalmente, porque o pobre do seu pai não merece tudo isso.


ATUALIZAÇÃO PARA ACALMAR OS PAIS E MÃES DE PLANTÃO:
Estou digitando este áudio mais de quatro meses depois da gravação. E, que ironia do destino, a fase agora é “não é o papai”. Você, filho, só quer seu pai! Ele pode ficar com você a manhã inteira no colo, se eu pego, você reclama, estica os bracinhos e inclina o corpinho na direção dele. Eu confesso que morro de rir e acho ótimo, pois ando tão cansada que qualquer tempo extra é muito comemorado. Mas, confesso, ando, de novo, com uma certa dó do seu pai. Sei o quanto essa exclusividade é cansativa e vejo nos olhos deles um pedido de socorro! :D Mas, do mesmo jeito que foi comigo, isso também vai passar!

Vitória, 19 de novembro de 2015 (5 meses e 20 dias)

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