Ei,
filho! Lembra quando eu escrevi aquele texto todo derretido dizendo o
quanto era incrível as mães serem uma espécie de super-herói
e o quanto o colinho de mãe parecia criar um campo de força capaz
de proteger os filhos de qualquer perigo? Como eu estava achando o
máximo ter a capacidade de proteger e acalmar meu filho em qualquer
situação? Eu confesso que não tinha pensado no lado negativo desse
superpoder. É que ultimamente você anda naquela fase “não é a
mamãe”, como diria o dinossauro daquele antigo programa de TV. E
isso não está sendo muito legal. Nem para mim e, principalmente,
nem para o coitado do seu pai.
Bom,
você sabe, meu filho, por causa de várias cartas que mamãe já
escreveu, que seu pai é um paizão. E é um parceiro da mamãe com P
maiúsculo. Tudo o que mamãe faz, papai também faz. A única coisa
que papai não faz é dar mamar para você, quer dizer, ele não dá
peito porque não tem leite no peito dele. Mas se mamãe deixar um
leitinho na geladeira e precisar sair, aí até mamar ele também vai
dar para você. E ultimamente tem acontecido umas coisas que tem
cortado o meu coração e o coração do seu pai.
Às
vezes você está chorando, injuriado, com dorzinha, com sono (aliás,
como agora você fica com sono e faz de tudo para não dormir) e seu
pai está lá, ninando você, cantando para você, dando colinho,
dando beijinho, dando carinho, mas nada acalma você. Sabe, filho, eu
e seu pai temos um acordo, desde que você era um bebezinho de poucas
horas de vida: quando você está precisando de um consolo mais
demorado a gente faz o revezamento, isto é, seu pai fica com você
10, 15, 20 minutos (dependendo um pouco do dia, da disposição e do
cansaço de cada um) e, se depois desse tempo você não se acalmar,
ele passa você para a mamãe e eu fico o mesmo tempo, 10, 15, 20
minutos. Se você ainda precisar de mais colinho antes de ir para a
cama, volta para o colo do papai. E se precisa, volta para o colo da
mamãe. E assim sucessivamente. É quando era um bebê de poucos dias
de vida e estava sofrendo com cólicas, esse sucessivamente acontecia
durante muuuito tempo. Era uma solução para que a gente conseguisse
descansar minimamente e aguentasse a maratona das cólicas. Claro que
na hora do "descanso" não dava para dormir com você
chorando, mas pelo menos ficávamos na horizontal, descansávamos
pernas e costas e ganhávamos alguma energia para recomeçar. Agora
que você já está maiorzinho e que a gente já conhece seus sinais,
que você também já está medicado contra o refluxo e tudo mais, é
muito raro o revezamento passar de um para o outro. Geralmente vai
uma vez comigo e uma com seu pai (ou vice-versa) e isso já basta.
Pois
bem, quando a gente começa oficialmente o revezamento ou quando seu
pai me entrega você para preparar o remedinho (você chora tanto
que, pensamos, só pode ser dor), você simplesmente PARA DE CHORAR
NO COLO DA MAMÃE!! IMEDIATAMENTE! Às vezes eu pego você exatamente
na mesma posição, do mesmo jeitinho que seu pai estava pegando você
e que não fazia você parar de chorar. Mas no meu colo, só por
sentir o meu cheirinho, você para e se acalma. Olha, filho, eu
confesso, às vezes isso me provoca um momento de fúria e me dá
vontade de você jogar pela janela!!! Afinal, depois de 8 horas
seguidas, o dia inteirinho com você sozinha em casa, à noite mamãe
bem que mamãe queria um descansinho, cinco minutinhos de pernas para
o ar. Mas o que dá dó mesmo é a cara de tristeza e desapontamento
do seu pai. Aquela cara de quem diz “o que eu estou fazendo de
errado?” Por que, filho, depois de 8 horas de trabalho e um dia
inteirinho longe de você, ele chega morrendo de saudade. Doido para
dar colo, brincar, beijar e abraçar você. E eu percebo que essa
sensação de “eu não sou suficiente” corta do coração do seu
pai. A carinha dele é desoladora. E aí eu fico triste também. Mas
eu entendo, filho. Tudo é fase, né?
Muita
gente diz que isso é birra, que os pais estão sendo manipulados,
que eu estou acostumando mal você porque dou todo colo que você
quer. Mas sabe, filho, eu me apego a algumas explicações
científicas que eu já li por aí. Alguns estudiosos mostram que até
bem pouco tempo, você não tinha consciência de que eu e você
éramos duas pessoas diferentes. E é justamente nessa fase, entre o
sexto e o oitavo mês de vida, que você se dá conta de que mamãe é
uma pessoa e você é outra. Então você percebe que aquele é um
outro ser, a mãe, que dá o alimento e garante sua sobrevivência
(pensando de maneira primitiva já que nos tempos pré-históricos só
a mãe tinha o alimento e se o bebê se afastasse da mãe morria).
Por causa desse instinto de conservação e sobrevivência, é
simplesmente apavorante para o bebê perceber que está separado da
mãe.
Com
o tempo, meu filho, você vai descobrir que não só pode sobreviver
como também viver bem longe de mim. E aí essa fase vai passar.
Sinceramente? Eu espero que passe logo porque, nossa filho, seu pai
faz tudo por você. E dá uma dó ver quando ele percebe que ele não
consegue consolar você e que, mesmo ele estando morrendo de saudade
do filho, você só quer o colinho da mamãe. Que dozinha dele!!! E
também não vou negar: mamãe bem que queria um descanso. Mas tudo
bem. Eu foco na fase: é a chamada angustia da separação. Pode
durar alguns meses (ai meu Deus!), mas passa, como tudo na vida. E
você pode ficar tranquilo, meu filho, porque mamãe está aqui do
seu ladinho e vai ficar sempre que você precisar. Então, se você
se assustar, se apavorar e só quiser o colinho da mamãe, fica
tranquilo que a mamãe vai estar aqui para dar esse colinho.
Maaaas... se você puder revezar com o papai e puder superar logo
essa história de “não é a mamãe”, a gente ia gostar muito!
Primeiro porque isso está ficando extremamente cansativo – eu não
consigo ir ao banheiro ou beber água sem você entrar em desespero –
mas, principalmente, porque o pobre do seu pai não merece tudo isso.
ATUALIZAÇÃO
PARA ACALMAR OS PAIS E MÃES DE PLANTÃO:
Estou
digitando este áudio mais de quatro meses depois da gravação. E,
que ironia do destino, a fase agora é “não é o papai”. Você,
filho, só quer seu pai! Ele pode ficar com você a manhã inteira no
colo, se eu pego, você reclama, estica os bracinhos e inclina o
corpinho na direção dele. Eu confesso que morro de rir e acho
ótimo, pois ando tão cansada que qualquer tempo extra é muito
comemorado. Mas, confesso, ando, de novo, com uma certa dó do seu
pai. Sei o quanto essa exclusividade é cansativa e vejo nos olhos
deles um pedido de socorro! :D Mas, do mesmo jeito que foi comigo,
isso também vai passar!
Vitória,
19 de novembro de 2015 (5
meses e 20 dias)
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