domingo, 27 de março de 2016

Mamãe não está a fim

Postado por Mãe do André às 09:47
Só não contem para o papai! :)
Bom dia, meu filho. Tudo bem? Eu estava aqui pensando em como eu estou amando ser mãe, muito mais do que eu poderia imaginar. Mas, ao mesmo tempo, acontece uma coisa curiosa. Sabe que às vezes eu não estou a fim? Isso mesmo. É preciso ser sincera e reconhecer. Tem horas que é assim, eu simplesmente não estou a fim de ser mãe. Vou explicar. 

Não me entenda mal, filho. Não é um arrependimento, uma vontade de voltar atrás nem um momento em que eu te amo menos. Nada disso. Eu realmente estou amando ser mãe. Vejo e ouço tanta gente reclamar que esta fase passou rápido demais, que eles não curtiram tudo o que queriam/deveriam, que morrem de saudade. E eu acredito. Eu entendo mesmo. Já sinto que está passando rápido. E eu me sinto muito feliz, filho, uma privilegiada por poder acompanhar seu desenvolvimento de pertinho. Recuso trabalho, abro mão de voluntariado, deixo um pouco de lado meus projetos pessoais. Tudo com o maior prazer, a maior alegria porque, assim, eu posso acompanhar de camarote cada pequena grande conquista sua, posso ver em primeira mão cada novidade e  dar todo o colinho e peitinho que você quiser sem preocupação com horários e compromissos. Com a alegria de saber que, quando você acorda de madrugada e meu olho parece arder de tanto sono, eu não preciso me desesperar pensando nos textos a escrever nem nos prazos cumprir. Você demorou a chegar, filho.E agora que está aqui eu quero curtir e aproveitar cada segundo. E eu posso fazer isso. É um privilégio, sim, do qual eu sou muito grata. Adoro dar colo, cheirar suas dobrinhas, encher você de beijo e mordiscar sua barriguinha e suas perninhas enquanto você se acaba de dar risada. Como sou feliz sendo mãe.

Mas eu também preciso ser honesta e confessar o outro lado: tem horas que eu simplesmente não estou a fim!!!!! Não quero ser mãe por aqueles minutinhos. Quero ser só Renata. Não a Renata esposa, a Renata dona de casa, a Renata profissional. Só a Renata mulher. Nessas horas eu queria um botão de pause, congelar as obrigações maternas, sempre urgentes e inadiáveis, só para ter um tempo para respirar. Ou pra fazer nada, apenas para ficar de bobeira um tempo: ver TV, olhar bobagem na internet, ler alguma coisa. Não é que eu queira voltar ao tempo em que eu não tinha filhos. Eu só queria um recreio, um intervalo, o que é impossível quando estou sozinha com você. É que tem horas que eu não estou a fim de cantar música infantil, de ouvir o barulhinho dos brinquedos. Irrita!! Tem horas que não quero dar colo, que eu canso de dar peito! Tem horas que não estou com paciência para aguentar você resmungando, com aquele mau humor infinito que eu sei que não vou resolver nem encontrar a causa, apesar dos inúmeros remédios e teorias.

Sabe, filho, ser mãe às vezes é muito chato! Os dias podem ser muito repetitivos. As opções para entreter e brincar com um bebê de colo são limitadas. Você tem refluxo e alergia e, por isso, muitas vezes, passa o dia inteiro irritado e incomodado. Muitas vezes você não dorme mesmo caindo de sono, um sono que vai deixar você choramingando e resmungando por horas. E, vamos ser honestos, filho, mamãe não é exatamente conhecida por sua paciência! Mas, às vezes, está tudo bem, você está ótimo, bem humorado, rindo à toa como a mala velha que você é, se divertindo com qualquer bobagem e dormindo superbem. E, mesmo assim, eu não estou a fim!! Não é você, filho. Sou eu mesma. Tem horas que não estou a fim de ser mãe e acabo fazendo as coisas com má vontade. Momentos em que eu queria fazer outra coisa, qualquer outra coisa, e não ser mãe. Só por uns minutinhos, por umas horinhas. Não para sempre, só um pouquinho.

Filho, deixa a mamãe explicar uma coisa muito séria. Jamais vou destratar você mesmo quando estiver de ovo virado (quer dizer, jamais é uma palavra muito forte para ser prometida por pessoas imperfeitas, rs, mas é uma grande meta minha!). Até hoje nunca fui bruta ou grosseira com você nesses momentos de má vontade e esse é um esforço que me obrigo a fazer sempre - tentar com todas as minhas forças nunca descontar em você questões que são minhas. Nada do que você fizer vai mudar o amor que eu sinto por você, nem a felicidade que eu sinto por você estar em minha vida. Nem de longe é essa a questão. Mas eu também não me culpo por me sentir assim. Aquela mãe sempre feliz e bem disposta, que se diverte o tempo todo e curte todos os segundos da companhia do filho, só existe no mundo encantado do faz-de-conta e nas propagandas de margarina (que, não por acaso, duram apenas alguns poucos segundos, rs). 

Eu sou humana, de carne, osso e sentimentos conflitantes. E como fiz a mim mesma a promessa de nem tentar ser uma mãe perfeita (é missão impossível mas a gente sempre tenta!), eu jurei abraçar e enfrentar todos os altos e baixos da maternidade. Isso significa assumir que não estou a fim e criar estratégias preguiçosas para ser mãe sem ser. Até agora as soluções foram: tapetinho de atividades e enrolação na cama. Coloco você no tapetinho cheio de brinquedos e vou mexer no celular ou no computador, ali do lado. De vez em quando dou um sorriso, solto alguma onomatopeia, alguma palavra de incentivo, e você fica satisfeito com a minha pseudo-companhia. Ou então coloco você na minha cama com seus brinquedos do outro lado, cerco tudo com almofadas e travesseiros e me sento na cabeceira com o computador ou um livro. Você vai na sua caçada aos brinquedinhos, se rastejando pelo colchão macio e morrendo de rir. Quando chega ao seu destino ou bate em algum travesseiro, eu puxo suas perninhas fazendo alguma farra e trago você à estaca zero, ao som de gargalhadas suas. Enquanto isso, estou lá com meu fone de ouvido vendo aquele vídeo no youtube, jogando paciência, publicando no seu blog. Às vezes coloco o mobile e e brinquedos no berço, me sentando na cadeira de amamentação em alguma atividade paralela, parando apenas para dar corda na musiquinha. Dependendo do dia, você é capaz de ficar até 30 ou 40 minutos nessa enrolação sem perceber que a mamãe, de fato, não está lá, apesar do calorzinho do meu corpo ser percebido a poucos centímetros de distância.

Tem horas que eu penso: "que porcaria de mãe eu sou, você saiu do trabalho para dar ESSE TIPO de atenção ao seu filho, Renata?" Ah! Mas eu cansei dessa culpa. Basta ver o efeito que 10 minutinhos dessa não-presença faz comigo, uma verdadeira renovação de energia. Quando consigo 15 ou 20 minutos para fazer (ou não fazer) o que eu quero, sou muito mais mãe no restante do dia. A boa vontade reaparece, o bom humor volta, sou uma outra pessoa. Nem sempre dá certo. Aí só resta ficar na contagem regressiva para o seu pai voltar para casa, como se ele fosse um cavaleiro num cavalo branco que veio me salvar, rs (seu pai sempre me dá os minutinhos que eu preciso). No fim, o efeito é o mesmo.

Então, filho, essa carta não é simplesmente um desabafo. Muito menos um pedido de desculpas. É mais uma constatação. Tem dias que a mamãe não está a fim. Fato, verdade nua e crua. E, por favor não fique bravo, nesses dias eu vou aceitar ser assim. Acho que faz parte. E quando passar, tenho certeza, vou ser uma mãe muito melhor!


Vitória, 9 de novembro de 2015 (5 meses e 11 dias) e 2 de dezembro de 2015 (6 meses e dois dias)

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