Ei,
filho. Olha a gente de novo acordado de madrugada. São 5 horas da
manhã e, apesar do sono, não consigo dormir. As contrações de
treinamento ficaram mais intensas e frequentes nos últimos dois dias
e hoje me acordaram tantas vezes que ficou impossível continuar na
cama. Ontem também não dormi tão bem. Fico imaginando se a
acupuntura tem algo a ver com isso...
Deixa
eu contar um pouco sobre minha relação com essa técnica. Depois de
muita insistência de amigos, resolvi encarar as agulhadas logo antes
de descobrir sua presença na minha barriga. Precisava fazer alguma
coisa em relação à minha alergia que não envolvesse o risco de
adiar sua vinda mais uma vez. E todos me garantiram que a acupuntura
seria também uma boa forma de controlar minha ansiedade. E foi. A
primeira sessão aconteceu logo depois do teste positivo de gravidez
(havia sido marcada quase um mês antes), mas isso não impediu o
início das agulhadas, que nos acompanharam nesses 9 meses, filho, e que nos fizeram muito bem. Mas essa semana foi diferente.
Após
saber a minha frustração e o susto com a manobra malsucedida, a
acupunturista me contou que existe um ponto específico, no dedinho do
pé, que está ligado ao útero e poderia ajudar você a virar. Eu já
tinha lido sobre o assunto e nosso médico também já havia
recomendado estimular aquele ponto com incenso (coisa que não fiz
simplesmente pelo fato da minha alergia impedir qualquer contato
saudável com incensos). Então, quando ela sugeriu, pensei: por que
não? Ela me garantiu que isso não forçaria uma barra para você,
que não traria qualquer prejuízo. Só daria uma ajudinha – você
viraria apenas se desse ou pudesse. Ok, então. Filho, esses meses
todos já havia me mostrado como essa técnica funciona. Mesmo assim,
foi espantoso. Em alguns minutos senti meu útero fazer movimentos
que nunca havia feito. Pareciam as contrações de treinamento, mas
um pouco mais fortes e – o mais estranho - não eram em toda a
barriga, apenas no centro. Como se as contrações estivessem
concentradas naquela linha escura que aparece em cima e embaixo do
umbigo das grávidas. Você também se mexeu bastante e senti seus
movimentos em lugares inusitados, onde você não ia muito. Se vai
dar certo eu não sei, mas que você e meu corpo estavam tentando,
isso era claro. Não havia qualquer dúvida.
E
essa movimentação intensa e diferente continua ainda hoje, dois
dias depois. Não dá para negar que algo mudou. Seu pai chegou a me
perguntar se não era trabalho de parto, tamanho o incômodo que
senti algumas vezes. Não é, filho. Pelo menos não ainda. As
contrações estão mais fortes, mais incômodas, sim. Há duas noites elas não me deixam dormir direito pois me acordam várias
vezes durante a madrugada. Mas ainda são irregulares, espaçadas e,
apesar do incômodo, não sinto dor. O médico disse que posso sentir
até 9 contrações de treinamento por hora sem que isso indique
trabalho de parto. Definitivamente, ainda estamos bem longe disso.
Mas
algo realmente mudou. E isso pode ser um sinal de que sua chegada
está próxima. Que logo logo você vai estar aqui. E posso falar a
verdade, filho? Eu não sei se comemoro ou me apavoro com esses
sinais. Nossa listinha “winter is coming” de coisas a fazer ainda
está bem grandinha. Queria tanto terminá-la antes de você chegar!
Falta tão pouco! Tão pouco comparado com tudo o que já foi feito.
Eu achei que a esta altura do campeonato eu já teria riscado todos
os itens da lista, mas os incômodos das contrações, o cansaço das
noites maldormidas (que começaram antes mesmo da acupuntura) e o
inchaço que me ataca forte depois de pouco tempo em pé exigem que
eu tenha um ritmo bem lento. “Para um pouquinho, descansa um
pouquinho...” Tem sido assim, a passo de formiguinha essa semana.
Por um lado, não vejo a hora de você chegar e não me sinto no
direito de pedir mais tempo a você (mesmo sabendo que o mais
provável é você atrasar e não adiantar). Por outro, queria tanto
esvaziar completamente minha cabeça de todas essas pendências antes
de você chegar! Sentir que estou mentalmente 100% disponível para
você (olha o "100%" aí de novo, rs)
Seu
pai também parece ansioso e espera sua chegada a qualquer momento.
Ele não fala muito sobre isso, mas praticamente parou de beber (ele
bebe pouco, filho, mas gosta de uma cervejinha) com medo de eu entrar
em trabalho de parto e ele não estar em condições de dirigir. Até
no casamento que fomos no último fim de semana ele não tomou uma
gota sequer. E ontem me contou que está dando aula e participando de
reuniões com o celular no bolso, no vibra, porque a qualquer momento
eu posso entrar em trabalho de parto e precisar falar com ele. Tão
fofo, né?
Bem,
se tem uma coisa que aprendi nessa gravidez é que quem manda é
você! E você, filho, é bonzinho o suficiente para negociar com a
mamãe de vez em quando. Mas o que vale é você vir quando for a sua
hora, qualquer que seja ela. Seja agora, seja daqui a três semanas.
Seja normal ou cesária, de cabeça ou de bumbum, rápido ou devagar,
fácil ou difícil. Eu quero que você venha quando e como quiser.
Porque eu sei que o que falta agora é detalhe. E que ter você nos
meus braços vai ser maravilhoso em qualquer circunstância, de
qualquer jeito. Eu realmente espero ter mais algum tempo. Mas fique à
vontade para vir quando quiser, meu filho. Estamos esperando!
Vitória,
14 de maio de 2015 – 38 semanas
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